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sábado, 1 de agosto de 2015

Belém do Pará - Theatro da Paz

Fachada do Theatro da Paz
O Theatro da Paz, originalmente chamava-se Theatro Nossa Senhora da Paz, nome dado pelo Bispo da época, em homenagem ao fim da Guerra do Paraguai, porém sua nomenclatura foi modificada a pedido do próprio Bispo, ao ver que o nome de “Nossa Senhora” seria indigno figurar na fachada de um espaço onde se tinha apresentações mundanas e sem representação eclesiástica alguma. Inspirado no Teatro Scalla, uma das mais famosas casas de ópera do mundo (em Milão, na Itália), foi construído com recursos auferidos da exportação de látex, no Ciclo da Borracha. Mantinha o status de maior teatro da Região Norte, até ser ultrapassado pelo Teatro Estadual Palácio das Artes Rondônia, e um dos mais luxuosos do país, com cerca de 140 anos de história, além de também ser considerado um dos teatros-monumentos do Brasil, segundo o IPHAN.

Mezanino do Theatro da Paz
Belém viveu um significativo processo de transformação socioeconômica nesse período, chegando a ser chamada de “A Capital da Borracha”. Mas, apesar desse progresso a cidade ainda não possuía um teatro de grande porte, capaz de receber espetáculos do gênero lírico. Buscando satisfazer o anseio da sociedade da época, o Governo da Província contrata o engenheiro militar pernambucano José Tibúrcio de Magalhães. Foi construído por Calandrine de Chermont com pequenas alterações introduzidas pela Repartição de Obras Públicas. Ficou pronto em 1874, mas, devido a denúncias contra os construtores, um inquérito foi aberto e o teatro só foi inaugurado após a sua conclusão. Com o drama de Adolphe d'Ennery, “As duas órfãs”, em fevereiro de 1878, o Theatro da Paz foi aberto ao público, ao som da Orquestra Sinfônica do maestro Francisco Libânio Collas. O espetáculo foi organizado pela companhia de Vicente Pontes de Oliveira. O contrato durou cinco anos e fez de Vicente Oliveira o encarregado pela iluminação, decoração, coreografia e acessórios de cena no Theatro, além de organizador das apresentações que se seguiram. 

Brasão de Armas do Estado do Pará
O Theatro sofreu alterações na sua fachada, após uma grande reforma no início do século XX. Foi retirada uma coluna no pátio frontal superior do Theatro, que era em número de sete, o que feria os preceitos arquitetônicos do período neoclássico, que pede número par de colunas em frontarias. Toda a fachada, que era um pátio coberto, foi demolida, e reconstruída recuando a fachada e retirando a coluna, e no vácuo que ficou à mostra, antes preenchido por pequenas janelas, foram colocados bustos simbolizando as artes: Dança, Poesia, Música e Tragédia, e ao centro o Brasão de Armas do Estado do Pará, para fortalecer a simbologia republicana que estava enfim instaurada. Entretanto, suas linhas arquitetônicas gerais foram mantidas.

Escadarias de Acesso ao Hall de Entrada do Theatro da Paz

Hall de Entrada do Theatro da Paz
com os Bustos 
de José de Alencar
e Gonçalves Dias
O Hall de Entrada é composto por materiais decorativos importados da Europa: ferro fundido inglês nos arcos das portas; escadaria em mármore italiano; lustre francês; bustos em mármore de Carrara dos escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias, introdutores do indianismo no Brasil; estátuas em bronze francês; piso com pedras portuguesas formando mosaico e coladas com o grude da Gurijuba (peixe encontrado na região); paredes e teto pintados representando as artes gregas.



Escadarias de Mármore do Hall de Entrada do Theatro da Paz

Detalhes da decoração Hall de Entrada do Theatro da Paz

Hall de Entrada visto das escadarias
        em mármore italiano
Em 1905 é fechada a porta principal do Corredor de Frisas que dava acesso ao Salão de Espetáculos, já que ela prejudicava a acústica, em seu lugar é colocado um espelho em cristal francês. Além do espelho foram acrescentadas estátuas em pedra francesa e nas paredes foram fixadas placas em ferro esmaltado contendo o regulamento da época informando que “é proibido fumar”. O piso foi decorado em Parquet, utilizando as madeiras regionais como acapu e pau amarelo.

Entrada para a Sala de Espetáculos do Theatro da Paz

Sala de Espetáculos do Theatro da Paz
A Sala de Espetáculos que originalmente possuía 1100 lugares, hoje comporta 900. As cadeiras conservam o estilo da época em madeira e palhinha adequadas ao clima da região. A balaustrada é toda em ferro inglês folheado a ouro. A pintura em afresco do teto central apresenta elementos da mitologia greco-romana fazendo uma alusão ao Deus Apolo conduzindo a Deusa Afrodite e as musas das artes à Amazônia. No centro do teto foi adaptado o lustre em bronze americano que substituiu um grande ventilador que ajudava amenizar o calor. Nas paredes, com motivos florais, as pinturas imitam o papel de parede. O forro dos camarotes foi pintado obedecendo à hierarquia social da época; para a 1ª classe eram utilizadas as seguintes localidades: varanda, plateia, frisas, camarotes e proscênios de 1ª ordem; para a 2ª classe: galerias, camarotes e proscênios de 2ª ordem e para 3ª classe paraíso. Os proscênios eram reservados as autoridades como: Prefeito, chefe de polícia e diretores de escola. O Camarote Imperial, atualmente do Governador, situado na 1ª ordem de camarotes é ornamentado com mobília em madeira regional. O Pano de Boca pintado na França no ateliê Carpezat intitulado “Alegoria à República“ foi inaugurado em 1890 em celebração à República Brasileira.

Detalhes das escadas para os camarotes

Detalhes em metal do corrimão das escadas para os camarotes

Bustos de Carlos Gomes e Henrique Gurjão
no 
Salão Nobre do Theatro da Paz
No segundo andar do Theatro situa-se o Salão Nobre (Foyer), local onde a nobreza costumava se reunir, para bailes, pequenos recitais e durantes os intervalos dos espetáculos, é um espaço altamente decorado com espelhos e lustres em cristal francês e bustos em mármore de Carrara de dois grandes compositores da época: Carlos Gomes e Henrique Gurjão. O mezanino do salão era o local usado pelos músicos nos eventos sociais e frequentado pelas pessoas do "paraíso" em noite de espetáculos. Quanto à pintura do teto feita em 1960 é do pernambucano Armando Balloni, que se inspira nas musas da música ladeadas pela fauna e flora amazônica. As paredes, pintadas pelos italianos, retratam motivos neoclássicos com buquês de flores.

Salão Nobre do Theatro da Paz

Pintura no teto do Salão Nobre do Theatro da Paz

Lustre no Salão Nobre
Ali Carlos Gomes encenou sua mais famosa ópera, “O Guarani”, e a bailarina russa, Ana Pavlova, passou com suas sapatilhas. O decorador desse cenário privilegiado foi o italiano Domenico de Angelis que, posteriormente, decorou o Teatro Amazonas, de Manaus. Durante o Ciclo da Borracha, as mais famosas companhias líricas se apresentaram ali. Com o declínio da borracha, o Theatro da Paz passou por dificuldades. Vale ressaltar que nem só de arte viveu o Theatro. Ao longo do século XX, foram oferecidos jantares e banquetes, promoveram-se convenções político-partidárias e até mesmo a Assembleia Legislativa do Estado realizou ali sessões, em 1959.


Pintura neoclássica no teto do
           Salão Nobre do Theatro da Paz






Piso decorado em parquê do
Salão Nobre do Theatro da Paz

















Sem apresentações, estava quase sempre fechado, e as restaurações não eram suficientes para lhe garantir um bom funcionamento. Entre 1971 e 1975, fez-se a reconstrução das estruturas frontais e laterais, remanejamento estrutural de telhado e platibandas, restauração da rede elétrica e de esgoto. Em 1977, às vésperas do centenário o Theatro foi novamente fechado para restauro. As obras abrangeram a recuperação do sistema acústico e instalação do sistema de ar condicionado assim como de novos equipamentos de luminotécnica e cenotécnica. O Pano de Boca, por muitos anos em completo abandono, foi restaurado. Na comemoração aos 111 anos do Theatro em 1988, foram restaurados os lustres de cristal, o mobiliário, a decoração do proscênio com a reposição de folhas de ouro e foi feita a descupinização de todo o prédio. Em 1996 formou-se a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), a primeira de sua história e a primeira do gênero da Região Norte. Atualmente tem visitas guiadas, de hora em hora.

Mezanino do Salão Nobre do Theatro da Paz


Colunas do Mezanino do Salão Nobre do Theatro da Paz

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Belém do Pará - Igreja e Colégio de Santo Alexandre

Igreja de Santo Alexandre e 
Museu de Arte Sacra do Pará
Ao visitar Belém nos deparamos com uma arquitetura diferente da que estamos acostumados a ver nas cidades históricas. A Igreja e Colégio de Santo Alexandre foram a sede da Companhia de Jesus na cidade de Belém do Pará na época do Brasil Colônia. O antigo complexo jesuíta, um dos mais importantes ainda existentes no país, abriga atualmente o Museu de Arte Sacra do Pará. No início de janeiro de 1653, os jesuítas partiram de São Luís para Belém do Pará onde fixaram residência no Bairro da Campina. Porém pelo fato de a condição de moradia naquele local ser precária eles optaram em viver na vizinhança do Forte do Presépio. O trabalho deles deu origem ao Colégio de Santo Alexandre e à Igreja de São Francisco Xavier. Os jesuítas começaram a edificar o Colégio de Santo Alexandre a partir de fins do século XVII. A capela era de taipa e tinha um único altar, mas foi revigorada em 1668 e dedicada a São Francisco Xavier. A dedicação a Santo Alexandre de Bérgamo deveu-se a que o Colégio abrigava relíquias do mártir, doadas pelo Papa Urbano VIII. Escritos antigos indicam que, em fins do século XVII, o Colégio contava com uma biblioteca de 2000 livros e oficinas de encadernação, pintura e escultura. 

Fachada da Igreja de Santo Alexandre
A antiga Igreja do Colégio Jesuíta de Belém, inaugurada em 1719, é um dos mais importantes templos erguidos pelos padres da Companhia no Brasil. Com uma arquitetura riquíssima a Igreja de Santo Alexandre, é considerada o principal templo jesuíta no Norte do Brasil. O projeto é claramente aparentado ao da monumental Igreja Jesuíta de Salvador (atual Catedral), que havia sido construída entre 1652 e 1672. A construção do edifício de Belém foi realizada com menos apuro técnico, talvez devido ao caráter indígena da mão-de-obra empregada pelos jesuítas. O estilo arquitetônico geral da Igreja corresponde ao maneirismo, favorecido pelos jesuítas em Portugal e suas colônias. As características do barroco, como folhas de acanto, cachos de uva, aves e querubins do paraíso, foram substituídas por pássaros e frutos amazônicos. Ao lado da Igreja foi levantado, ao longo do século XVIII, o edifício do Colégio.

Museu de Arte Sacra do Pará
A fachada monumental tem quatro andares de altura, sendo encimada por um frontão formado por duas volutas, que são espirais que se unem no topo, onde há uma cruz. O contorno do frontão é em formas curvas, as volutas inferiores se sobrepõem às torres, as quais ficam em segundo plano. O acesso ao templo é feito por três portais no primeiro piso, também decorados com volutas. As pilastras verticais da fachada encontram-se decoradas com motivos maneiristas em alto-relevo, que criam interessantes efeitos de luz e sombra. O corpo central da fachada é ladeado por duas torres baixas que se encontram levemente recuadas, estando inclusive um pouco escondidas detrás das enormes volutas do frontão. Os nichos do frontão eram antes ocupados por estátuas de santos jesuítas, hoje não mais utilizados por questão de restauração, e as imagens foram perdidas com o tempo. Somente algumas foram recuperadas e colocadas no Museu ao lado da Igreja.

Colégio de Santo Alexandre visto do
       Forte do Presépio
Na entrada da Igreja tem a presença de quadros da Via Sacra, que representam toda a vida de Jesus, do seu nascimento até sua morte. Esses quadros são feitos de ferro fundido e policromado, com várias cores. No interior, a Igreja revela também a influência da igreja de Salvador: a planta da Igreja possui uma nave central e tem a forma de uma cruz latina com quatro capelas de cada lado, formando ao todo oito capelas comunicantes com a sacristia. Uma grande sacristia encontra-se ao lado da Capela-Mor. Essas capelas são feitas por arcos redondos que se apoiam em pilastras. São cobertas com abóbada de madeira, sem cúpula e com transepto não pronunciado. Na nave da Igreja há a presença de púlpitos que foram construídos em madeira em forma de pirâmides e de decoração exacerbada característica do barroco. Estes púlpitos foram feitos com a junção de conchas, volutas com anjos, atlantes e figuras de olhos vendados.

Colégio de Santo Alexandre e Catedral
            Metropolitana de Belém vistos do
       Forte do Presépio
Destacam-se no interior as obras de arte em talha do padre João Xavier Traer e sua oficina de escultores indígenas, especialmente os dois magníficos púlpitos, profusamente decorados com anjinhos em uma composição inspirada na arte barroca do Tirol, pátria de origem de Traer. Também se destacam os retábulos de talha nas capelas laterais e na Capela-Mor, e apoiando-se nas pilastras das grandiosas capelas, estão as tribunas, as quais eram utilizadas pelas pessoas com maior poder aquisitivo na época para assistir as celebrações. A Igreja do Colégio de Santo Alexandre influenciou outras na região como a do Colégio de Vigia, ao norte da capital, construída na década de 1730. A fachada da Igreja de Vigia também é dotada de um original frontão e é ladeada por duas torres. O lampadário do local é um dos dois únicos existentes no Estado, datando do século XVIII e produzido em prata portuguesa com o brasão das carmelitas. Depois de muitas reformas, o forro original desapareceu e, em 1963, foi encontrado. Com o passar dos anos e com o abandono ela teve que passar por alguns processos de restauração, esse realizado pela equipe da Secretaria de Cultura do Estado do Pará. Muitas imagens e objetos da Igreja foram levados pelas pessoas. Algumas com a intenção de furtar e outras somente com o intuito de protegê-las da degradação.

Fundos do Museu de Arte Sacra do Pará
       vistos pela rua de trás
Com a expulsão dos jesuítas em 1759, o Colégio foi reformado e passou a ser usado como palácio dos bispos da cidade. Quando os jesuítas foram embora de vez, em torno de 1970, o Colégio passou a comportar o estoque de imagens e esculturas. E a Igreja passou a exercer sua atividade normal até a década de 1950, a partir desse tempo a Igreja entrou em decadência e precariedade, chegou a ser totalmente abandonada, não havendo reparos ou qualquer serviço de preservação. No final do século XX, após esse longo período de abandono, os edifícios do Colégio e Igreja foram transformados no Museu de Arte Sacra do Pará, que além da arquitetura do local exibe um rico acervo de pintura e escultura dos séculos XVII e XVIII da Região Amazônica.

Nave da Igreja de Santo Alexandre
No âmbito de um projeto de revitalização do Centro Histórico de Belém, os edifícios do Colégio e Igreja dos Jesuítas - tombados pelo IPHAN - foram transformados em um museu dedicado à arte sacra da região. Os acréscimos feitos aos edifícios em épocas posteriores ao século XVIII foram, na medida do possível, retirados. Na parede principal do Museu não foram utilizados ferro e cimento, esta foi construída toda em pedra, e provavelmente foi utilizado o óleo de algum peixe regional. Acredita-se que foi empregado o óleo de Gurijuba, o qual é um peixe abundante na região e contém muita gordura. Há a possibilidade que esta gordura tenha sido usada como aglutinante do barro, da concha do mar e da areia de pedra. Na restauração da Igreja foi decidido não usar cópias e onde não conseguiram trazer de volta o original, foi deixado bem claro isso. Estruturalmente não foi mexido em nada, foi inserido algum reboco em algumas paredes, mas não foi levantada nenhuma coluna.

Sacristia da Igreja de Santo Alexandre
Os púlpitos da Igreja não são mais usados por questão de preservação e segurança. O Altar-Mor foi corroído por cupins. A umidade e o calor da região favorecem a ação deste inseto. O telhado original foi todo perdido e assim houve a necessidade de ser retirado e colocado outro tipo de cobertura. Um dos grandes problemas de conservação da Igreja é a salinização que as paredes estão sofrendo, isso ocorre pelo fato de ter sido usado muita areia do mar em sua construção. O Museu conta com um acervo de quase 400 peças sacras de pintura, talha, gesso, prataria e outros objetos litúrgicos, provenientes tanto do acervo jesuítico como da Cúria Metropolitana da cidade. O edifício do Colégio tem áreas dedicadas ao restauro e biblioteca, além de loja e galeria de arte.

Púlpitos da Igreja de Santo Alexandre
Em 1980, quando o Papa João Paulo II visitava Belém, ficou hospedado no Convento da Igreja de Santo Alexandre, que na época era sede do Arcebispado de Belém. Nessa época da visita do Papa, o edifício na Igreja não estava funcionando e somente no ano de 1998 depois de várias reformas o templo da Igreja foi reaberto. A Igreja ainda é palco de missas, também são apresentados concertos de música, teatro e outros eventos. Aos sábados, a Igreja fica fechada. A visita guiada, grátis, vale para quem quer conhecer mais sobre a história do local. O Museu fica fechado às segundas-feiras para limpeza e o valor do ingresso para visitação é simbólico, menos às terças-feiras quando a entrada é gratuita.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Belém do Pará - Forte do Presépio

Forte do Presépio de Belém
Se alguém chegar a Belém, capital do Pará, na Região Norte do Brasil, e procurar pelo Forte do Presépio, pelo Forte do Castelo ou ainda pelo Forte do Senhor Santo Cristo, vai constatar que, na verdade, está em busca do mesmo lugar. A quantidade de nomes que o Forte do Presépio teve pode ser justificada pelos acontecimentos que caracterizaram sua fundação. Após vencer os franceses no Maranhão em novembro de 1615, os portugueses chegam à Amazônia já de olho na movimentação de ingleses e holandeses, que haviam iniciado aproximação com os indígenas para aproveitar o potencial da imensa Região Amazônica. A Coroa Portuguesa, então, confiou ao Capitão-Mor do Rio Grande do Norte, a missão de explorar a área assediada pelos estrangeiros. Por causa disso, ele recebeu o título de Descobridor e Primeiro Conquistador do Rio das Amazonas.

Forte do Presépio de Belém
Ao chegar a Belém vindo de São Luís do Maranhão, com três navios e 200 homens sob seu comando, o Capitão-Mor identificou a necessidade de construir algum tipo de edificação que pudesse proteger sua tropa e a cidade em que acabava de ocupar. Tão logo chegou, começou a erigir uma fortificação de taipa e palha, guarnecendo-a com 12 peças de artilharia. Nela colocou o nome de Forte do Presépio de Belém, um tributo ao dia de Natal, data em que saíra do Maranhão. No interior do Forte foram construídos alojamentos para a guarnição, pois havia o temor de eventuais contratempos com os índios Tupinambás, bem como a possibilidade de uma invasão dos ingleses e holandeses. O Forte do Castelo do Senhor Santo Cristo do Presépio de Belém, popularmente referido como Forte do Presépio, localiza-se sobre a Baía do Guajará, na Ponta de Maúri à margem direita da Foz do Rio Guamá, dominando a entrada do porto e o canal de navegação que costeia a Ilha das Onças

Canhão apontando para a Baía do Guajará
Houve um ataque em 1619, porém não veio dos estrangeiros, e sim dos povos nativos. Os Tupinambás, aliados dos portugueses na sua chegada e também responsáveis pela construção do forte, avançaram contra o povoado tentando expulsar os conquistadores lusos, acusando-os de ter violentado suas mulheres e filhas. A luta varou a madrugada. De um lado, os índios e suas flechas venenosas e incendiárias; do outro, armas de fogo. O combate só terminou quando o cacique Guaiamiaba (em língua Tupi, "cabelo de velha") morreu após ser atingido por um tiro de arcabuz. Depois desse episódio, o Forte ganhou outro revestimento, de taipa de pilão. A nova fortificação foi erguida com um baluarte artilhado com quatro peças, um torreão e alojamento para 60 praças, sendo batizada como Forte Castelo do Senhor Santo Cristo, ou simplesmente Forte do Santo Cristo. Arruinada pelos combates e pelo clima, sofreu reparos em 1632 e 1712. 

Canhões no Forte do Presépio
Nenhuma outra tentativa de invasão voltaria a acontecer. Em 1753, o Forte do Castelo funcionou pela primeira vez como hospital para atender mais de 300 pessoas acometidas de um surto epidêmico. Seis anos depois, transformou-se em hospital militar, sendo conhecido como Hospital do Castelo. No século XIX, quando os paraenses resolveram se insurgir contra a elite portuguesa na revolta que ficou conhecida como Cabanagem, o Forte, já em condições precárias de conservação, foi quartel dos insurgentes durante cinco anos (1835-1840). 

Canhões no Forte do Presépio
À época da Independência do Brasil, o Forte foi reedificado, para ser desativado no Período Regencial, que extinguiu os Comandos dos Fortes, Fortins e Pontos Fortificados, desarmando-os. No ano seguinte, passou a ser denominado de Castelo de São Jorge, ou simplesmente Forte do Castelo, como até hoje é denominado. O Forte foi reparado e rearmado a partir de 1850, quando o seu recinto interior foi objeto de limpeza e ganhou novos quartéis para tropa, Casa do Comandante, ponte sobre o fosso, portão e muralha de cantaria pelo lado do Rio Guamá. Em 1878 passou a acolher parte do grande número de flagelados na cidade, em fuga da seca na Região Nordeste do Brasil, voltando a exercer as funções de hospital. A entrada para o Forte se dá pelo Portal do Aquartelamento que era a porta de entrada para Feliz Lusitânia, o primeiro nome de Belém. Até a segunda metade do século XIX, a cidade e o Forte eram ligados fisicamente, quando foi construído um muro de separação aquartelando o local. Em 2002, o muro foi parcialmente demolido, deixando apenas um vestígio do mesmo.

Portal do Aquartelamento
As dependências do Forte foram utilizadas para diversas finalidades, tais como depósito de armamentos, munições ou outros materiais. No contexto da Segunda Guerra Mundial, serviu de quartel para uma bateria de Artilharia. Na década de 1950 as suas dependências abrigavam diversos serviços da 8ª Região Militar. Encontra-se tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1962. Completamente descaracterizado, o monumento sofreu diversas intervenções no passado, entre as quais várias modificações para abrigar a sede social do Círculo Militar de Belém, que manteve no local um restaurante, um bar, depósitos e um salão de festas. Em 1978, tentou-se negociar a retirada do Círculo Militar e seu restaurante, para uma intervenção de restauração do imóvel. Em 1980, com as muralhas parcialmente destruídas, a edificação passou por obras de emergência para garantir a estabilidade do conjunto remanescente. A partir de 1983, com recursos da Fundação Pró-Memória, o IPHAN realizou obras de conservação e restauro. O Circulo Militar deixou as instalações do Forte apenas em 1997, após o que foram requalificadas como espaço cultural, passando a abrigar um museu, e dando lugar a espetáculos musicais e teatrais.

Museu do Encontro
Com o passar do tempo, sofreu inúmeras reformas até ser transformado em ponto turístico. Foram retiradas várias partes de construções que, ao longo dos anos, descaracterizaram as instalações originais, procurando-se manter aquelas consideradas pertinentes ao aspecto geral do conjunto. Junto às pesquisas e às prospecções arqueológicas no local, foram encontradas também marcas da antiga Capela do Santo Cristo, datada do período de 1621 e 1626, entre o Fosso do Forte e o ângulo setentrional do prédio. Bem preservado, revela ao visitante a preocupação portuguesa, na época, com a manutenção do domínio sobre a região. 

Museu do Encontro
Atualmente, nas instalações do Forte do Presépio, o Museu do Forte do Castelo de São Jorge ou Museu do Encontro conta um pouco do início da colonização portuguesa na Amazônia. O Museu fica na Sala Guaimiabaantigo Corpo da Guarda do ForteHá objetos do uso cotidiano dos povos pré-históricos, além de peças que marcam a transformação e utilização do local. Há também artefatos líticos (peças de pedras), além de raspadores utilizados para ocasionar atrito e dar origem ao fogo. Uma vitrine Marajoara, com peças feitas em cerâmica, também é um dos destaques do Museu. No centro do Museu, urnas funerárias revelam indícios dos rituais marajoaras. O Museu do Forte possui uma das maiores coleções de “muiraquitãs”. Os amuletos, datados do século X, foram encontrados na região tapajônica, atual cidade de Santarém. E o Museu guarda outra riqueza: a história dos famosos índios Tupinambás, que ocupavam a região de construção do Forte. Eles ficaram conhecidos pela fama de comerem carne humana

Mercado Ver-o-Peso visto do Forte do Presépio
Ao fundo do Museu, “A Conquista do Amazonas”, uma tela histórica encomendada pelo governador Augusto Montenegro ao pintor Antônio Parreiras, para decorar a parede do Salão de Honra do Palácio do Governo. A tela, de oito metros de largura por quatro de altura, retrata a expedição organizada pelo Governador da Capitania do Maranhão com objetivo de reconhecer o Rio Amazonas até Quito, no Equador. O interessante do lugar é que ele nos proporciona ricas experiências. Como a visão inesquecível do nascer ou pôr-do-sol. Um presente. Por estar localizado no ponto mais alto da orla da Baía do Guajará, ele abre um cenário magnífico. Constitui-se num dos mais procurados pontos turísticos da cidade, por sua localização privilegiada e seu sentido histórico. É integrante do Complexo Arquitetônico e Religioso da Cidade Velha, a Feliz LusitâniaO Forte fica fechado às segundas-feiras e o valor do ingresso para visitação é simbólico.





Mercado Ver-o-Peso visto do Forte do Presépio