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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Florianópolis - Forte de Sant'Ana do Estreito

Forte de Santana do Estreito
O Forte de Sant’Ana do Estreito, ou simplesmente Forte de Santana, localiza-se na cidade de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina. Em 1760, por determinação do Ministro Marquês de Pombal (1750 – 1777), o Governador e Capitão-general da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade (1733 – 1763), enviou o Tenente-coronel José Custódio de Sá e Faria, do Real Corpo de Engenheiros, para fazer um levantamento das defesas erguidas pelo Brigadeiro José da Silva Pais na Ilha de Santa Catarina. Como resultado, aquele oficial concluiu que, se as fortalezas da Barra do Norte da Ilha fossem ultrapassadas ou contornadas, a Vila do Desterro ficaria sem defesa ante um invasor. Propôs desse modo a construção de dois fortins ou baterias, uma na Praia de Fora, ao Norte da Vila (o Forte de São Francisco Xavier da Praia de Fora), outro na ponta da Ilha mais próxima ao continente – o Forte de Sant’Ana do Estreito. Construído em 1763, no governo do Coronel Francisco Antônio Cardoso de Meneses e Sousa (1762 – 1765), com planta do próprio Tenente-coronel Sá e Faria, destinava-se à defesa daquele ancoradouro no estreito, passagem entre a Baía Norte e Sul da Ilha. Essa posição foi reforçada a partir de 1793 com a construção do Forte de São João do Estreito, que lhe era fronteiro, pelo continente. O primeiro comandante conhecido do Forte foi o Alferes Rodrigo José Brandão, natural da Bahia. Artilhado originalmente com nove peças, conservava 10 de diferentes calibres (seis de ferro e quatro de bronze, em precário estado de conservação), quando do levantamento efetuado em 1786 pelo Alferes José Correia Rangel para a Coroa Portuguesa.

Entrada do Forte de Santana do Estreito


Forte de Santana do Estreito
Na segunda metade do século XIX esse Forte passou a abrigar  a recém criada Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina (1857), vindo a receber reformas em 1863, e alguns reparos em 1876, quando ali se alojou a Companhia dos Inválidos. Na ocasião, o Ministro da Guerra, Duque de Caxias, mandou fornecer ao Forte quatro canhões ante carga raiados La Hitte, calibre 12, que na época servia à Polícia do Porto. Quando da Revolução Federalista (setembro de 1893), os parapeitos do Forte chegaram a ser rasgados para a instalação de canhões Krupp, que, no entanto, acabaram destinados à Praia de Canasvieiras, para dar combate às embarcações rebeldes fundeadas na Baía do Norte. Prevendo um ataque à capital, o Alferes Hermínio Coelho dos Santos, comandante do 25º Batalhão de Infantaria no Forte de Sant’Ana, reuniu alguns antigos canhões ante carga, de ferro, utilizados como enfeite à época, enterrados invertidos pela metade em logradouros públicos. Ainda assim trocou tiros com embarcações da esquadra rebelde: o Cruzador República e o Vapor Palas, que fora do alcance daquela precária artilharia (alcance aproximado de 300 metros), bombardearam o Forte, forçando o seu comandante, ferido na ocasião com mais um soldado, a ordenar o cessar-fogo. Em 1898, o comandante do Forte à época, relata que seria necessária uma grande restauração no conjunto da fortificação.

Forte de Santana do Estreito sob a Ponte Hercílio Luz

Forte de Santana do Estreito
Considerado fora de serviço a partir de maio de 1907, passou ao Ministério da Agricultura, que nele instalou uma Estação Meteorológica. Sob a atual Ponte Hercílio Luz, que desde a década de 1920 liga a Ilha ao continente, o Forte de Sant’Ana foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938. Abandonado, esteve invadido por populares de baixa renda até 1969. De propriedade da União e sob administração do Governo Estadual, foi restaurado definitivamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional entre 1969 – 1970, que lhe devolveu as formas originais, sendo o primeiro trabalho desta natureza realizado em fortificações catarinenses. Abriga, desde 1975, em prédio anexo, o Museu de Armas Major Antônio de Lara Ribas, da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, inaugurado em março do mesmo ano, fruto do convenio firmado entre IPHAN e a Prefeitura, com a interveniência da Polícia Militar do Estado. O Museu exibe armas históricas, peças centenárias recolhidas pelo Major entre 1938 e 1945, réplicas de fardamentos, fotografias e insígnias, entre outros objetos. A restauração deste Forte marcou o início do processo de redescoberta e recuperação das fortificações catarinenses, durante anos abandonadas e arruinadas.

Guarita do Forte de Santana do Estreito e Ponte Hercílio Luz

Guarita do Forte de Santana do Estreito
O Forte de Santana, em alvenaria de pedra e cal, foi erguido sobre um único terrapleno, sustentado por muralhas de 1,20 metros de espessura no parapeito, com planta na forma de um hexágono irregular, e uma única guarita circular sobre o respectivo pião, no vértice da muralha vigiando o Canal da Baía do Norte. O projeto original compreende um conjunto linear de edificações de um pavimento, em alvenaria de pedra, com cobertura em quatro águas, que se abrem para o terrapleno onde se dispunham sete canhoneiras em tijoleira à barbeta, apresentando apenas o estritamente necessário para o funcionamento regular da fortificação: corredor de acesso e portada, plataforma ou terrapleno, com sete canhoneiras dispostas, quartel dos soldados (quartel da tropa), cozinha, quartel dos oficiais (casa do comandante), corpo da guarda, casa da palamenta, casa da pólvora (paiol de pólvora). Do conjunto de edifícios originais, somente a sala do Paiol de Pólvora não está presente na construção atual. Na fachada, as aberturas com molduras de pedra alternam vergas retas e em arco abatido, sobressaindo a portada de granito à entrada do Forte. O telhado, em suave inclinação, reproduz um aspecto da arquitetura oriental.

Canhões do Forte de Santana do Estreito e a Ponte Hercílio Luz

Pátio de Canhões do Forte do Presépio
Forte e Museu podem ser visitados diariamente à Avenida Oswaldo Rodrigues Cabral (Beira Mar Norte), sob a Ponte Hercílio Luz, centro de Florianópolis. A entrada é franca e o conjunto possui estacionamento próprio. O Forte não é grandioso e imponente como o de São José da Ponta Grossa, mas tem uma coisa que o outro não tem: permite uma das mais lindas vistas da Ponte Hercílio Luz, além de vista para a parte continental de Florianópolis e para a Grande Florianópolis. O pátio dos canhões do Forte de Santana é um dos locais mais indicados para se apreciar toda a beleza do pôr do sol na Ilha de Santa Catarina. Distante apenas poucos metros da Rodoviária Rita Maria, pode-se chegar ao Forte a pé ou de automóvel.

Escadaria de acesso ao Forte de Santana do Estreito

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Florianópolis - Ponte Hercílio Luz

Ponte Hercílio Luz
Falar de Florianópolis e não falar da Ponte Hercílio Luz é até heresia. É o símbolo mais famoso da cidade e do Estado, sendo a imagem mais reconhecida de ambos. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto MAPA, ela é mais citada do que a própria capital e que as praias do litoral catarinense. Por esse simbolismo, a Ponte está presente – seja na sua forma ou no nome – em comércios, logos e diversos usos em Florianópolis ou fora dela, e é recorrente que obras como filmes, séries e novelas que estejam locadas ou façam referência a Florianópolis mostrem a Ponte. A Ponte foi projetada e começou a ser construída durante o governo de Hercílio Luz para ser a primeira ligação terrestre entre a Ilha de Santa Catarina e o continente e consolidar Florianópolis como capital de Santa Catarina. Àquela altura, as outras cidades do Estado consideravam a ilha muito distante para ser o centro administrativo e político do Estado e, em consequência, havia um movimento pregando a mudança da capital para Lages. O acesso à ilha, dependente de um sistema de balsas, era precário. Monopolizado, o serviço sequer oferecia cobertura para proteger os passageiros do sol ou da chuva, e era impraticável em dias com muito vento e mar agitado.

Ponte Hercílio Luz e os 
Canhões do Forte Santana do Estreito
Se a proposta inicial tivesse dado certo, a Ponte Hercílio Luz não seria da forma como a conhecemos. A ideia inicial era para a Ponte ser de uma estrutura de vigas treliçadas, que foi descartada devido a dificuldades de financiamento. Entrou então o projeto da ponte pênsil, de autoria dos engenheiros norte-americanos Robinson & Steinman. A estrutura seria instalada no Canal do Estreito, trecho que tem a menor distância entre a Ilha e o continente. Mas bancar a construção não era o único obstáculo para executar o projeto. A Ponte foi projetada para que fosse usada também como ferrovia, com dois trilhos posicionados no centro, o que nunca se concretizou. O Brasil sequer produzia ferro fundido e aço em volume suficiente, o que fez com que o material da obra fosse importado por meio de navios. Todo o material nela empregado foi trazido dos Estados Unidos, tendo sido construída por uma equipe composta por 19 técnicos especializados norte-americanos e catarinenses. A construção ficou a cargo da American Bridge Company.

Ponte Hercílio Luz
O Governo finalmente iniciou as obras em novembro de 1922, mas o canteiro de obras do lado continental só ficou pronto em fevereiro de 1923, com itens vindos da Dinamarca. A outra frente de trabalho ficava do lado insular. A fundação da Ponte foi concluída em julho de 1923. Aos poucos, o projeto ia saindo do papel e a construção, tomando forma. Hercílio Luz, o idealizador da obra, não viu seu sonho ser concluído, pois morreu em 1924, doze dias depois de inaugurar uma réplica de madeira, de 18 metros de comprimento, construída na Praça XV de Novembro especialmente para o ato simbólico. A Ponte, que era inicialmente chamada Ponte do Estreito, seria chamada de Ponte da Independência por sugestão do então Governador, mas, após sua morte, foi renomeada para Ponte Hercílio Luz como homenagem póstuma.

Ponte Hercílio Luz
A inauguração da Ponte Hercílio Luz, numa tarde chuvosa de maio de 1926, acabou com o antigo sofrimento dos então 40 mil habitantes da Ilha de Santa Catarina, que até então eram obrigados a usar as desconfortáveis balsas para atravessar da Ilha ao continente ou vice-versa. Florianópolis, que até a inauguração era uma pequena cidade com ar provinciano, mudou seu destino com a nova ponte. Mais do que afastar o risco de perder o status de capital, o surgimento da Hercílio Luz mudou os costumes, os negócios e a forma de viver na cidade, e impulsionou o rodoviarismo e o avanço urbano. Os carros se tornam protagonistas e os ônibus se tornam, em cerca de 10 anos após a inauguração, o transporte coletivo mais usado, substituindo primeiro os bondes e logo também as balsas. Entre 1926 e 1935 um pedágio, por pessoa, foi cobrado na cabeceira continental. Era cobrada ainda, uma taxa adicional para quem estivesse carregando bagagens. O direito de passagem era retribuído por uma taxa, por conta do ressarcimento dos investimentos, segundo o Governo do Estado. Em 1944, Florianópolis anexa parte do Município de São José, que se torna a parte continental da capital catarinense. Desde então a Ponte deixa se ser uma ligação entre cidades e passa a ser uma ligação interna de Florianópolis, entretanto, o Governo Estadual permanece com a jurisdição da estrutura. Nas décadas seguintes, o piso de madeira, barulhento, deu lugar ao asfalto, mais suave para os carros, mas também mais pesado, e a Ponte não recebia manutenção devida. O trânsito era cada vez maior, e congestionamentos começaram a se tornar comuns. No fim de 1967, um alerta veio dos Estados Unidos.

Ponte Hercílio Luz
A necessidade de se averiguar o estado de conservação da Ponte Hercílio Luz tornou-se óbvia com uma tragédia no Hemisfério Norte: a queda da Silver Bridge, uma ponte de desenho e concepção estrutural similar sobre o Rio Ohio, entre Point Pleasant e Gallipolis, nos Estados Unidos. Essa ponte tinha sido construída pela mesma empresa que construiu a Hercílio Luz, a American Bridge Company. O colapso da Silver Bridge, que desabou no horário de pico em dezembro de 1967, causou 46 mortes. Esse acidente levou a desconfiança sobre a estrutura da ponte florianopolitana. Uma perícia realizada em dezembro de 1981 pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) verificou que as barras de olhal estavam deterioradas, o que comprometia a segurança de seus transeuntes. A descoberta de uma trinca de cinco centímetros de abertura no olhal de uma das barras localizada na altura do topo do pilar do lado sul da Ilha fez com que o Departamento de Rodagem do Estado levasse a recomendação do Relatório do IPT a cabo, interditando a Ponte ao tráfego pela primeira vez em janeiro de 1982. Na época a ponte absorvia 43,8% do tráfego de veículos. A Ponte Colombo Salles, aberta ao tráfego em março de 1975, passou a ser a única ligação da Ilha ao continente. Posteriormente, em março de 1988, a Ponte foi reaberta ao tráfego para pedestres, bicicletas, motocicletas e veículos de tração animal.

Ponte Hercílio Luz
Em fevereiro de 1990 foi concluída a primeira etapa da análise de viabilidade da reabertura da Ponte ao tráfego, o que levou à segunda interdição dela, em julho de 1991. A subsequente retirada do piso asfáltico do vão central resultou em um alívio da ordem de 400 toneladas na carga suportada pela Ponte. O pesadelo do desabamento tornou-se constante na vida das pessoas. Este temor, entretanto, foi eliminado justamente no dia em que a Ponte completou 71 anos de idade. A obra clássica da engenharia internacional foi tombada como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Município de Florianópolis. Ainda em 1997, o Ministério da Cultura reconheceu como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Brasil, tendo sido inscrita no Livro do Tombo Histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em agosto de 1998.

Ponte Hercílio Luz
Após anos fechada e apenas sendo mantida, uma parceria entre o Governo Federal, Governo do Estado e Prefeitura de Florianópolis em 2005 proporcionou o início das obras de restauração da Ponte Hercílio Luz. Em 2008, o Consórcio Florianópolis Monumento passou a ser o responsável pela manutenção e restauração. O prazo máximo para a entrega da restauração era em maio de 2012, quando a Ponte completasse 86 anos, mas impedimentos burocráticos, aliados à mudança no comando do Governo do Estado, fizeram com que a obra atrasasse. O novo prazo de entrega ficou para metade de 2013, o que também não se efetivou, e o Consórcio foi afastado pelo Governo do Estado. O tempo de obras, os gastos e as denúncias de corrupção fizeram parte da opinião pública se voltar contra a Ponte, e muitos moradores de Santa Catarina defendiam abertamente a derrubada do maior símbolo do Estado e construção de uma nova ponte – o que não poderia acontecer já que é um patrimônio histórico tombado.

Ponte Hercílio Luz
A Ponte tem 821 metros de comprimento total, sendo formada pelos viadutos de acesso do continente com 222,5 metros, da Ilha com 259 metros, e pelo vão central pênsil que tem 339,4 metros de extensão. A estrutura de aço tem o peso aproximado de 5.000 toneladas, e os alicerces e pilares consumiram 14.250 metros cúbicos de concreto. Os pilares submersos receberam cimento especial resistente à corrosão da água salgada. As duas torres principais têm 74,21 metros de altura. O vão pênsil tem uma altura média de 30,86 metros em relação ao nível do mar e a carga total nas cadeias de barras de olhal é de 4.000 toneladas-força. O mirante situado à cabeceira insular proporciona uma das mais belas vistas panorâmicas do centro da cidade. Na área também estão situados o Museu da Ponte e o Parque da Luz.