quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Belo Horizonte - Cassino da Pampulha

Cassino da Pampulha 
atual Museu de Arte da Pampulha - MAP

O Cassino da Pampulha foi a primeira obra do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha a ser construída. Inaugurado em 1943, o espaço foi projetado com o objetivo de servir às atividades de lazer dos indivíduos abastados. Equipado com sala de jogos, pista de dança, restaurante e bar, na década de 1940 o Cassino se tornou referência ao confluir diversão e glamour. Cenário procurado não somente pelos ricos residentes na capital mineira, mas também por outros vindos do interior e de fora do Estado ou até mesmo do exterior. Assim como as demais edificações projetadas para o Conjunto na orla da Lagoa da Pampulha, o Cassino não foi construído nos parâmetros arquitetônicos de um prédio convencional. O desenho tem concepção inspirada no trabalho do arquiteto francês Le Corbusier, que esteve no Brasil na década anterior para a construção do prédio do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, considerado o primeiro exemplar da arquitetura modernista no Brasil. O jovem Niemeyer trabalhou com ele no projeto carioca.


Cassino da Pampulha atual Museu de Arte da Pampulha


Formas arredondadas do Cassino da Pampulha

Sua forma, envolvendo retas e curvas, surpreende pela originalidade dos elementos. Na entrada o chão é de mármore português, e no segundo piso é de peroba. O toque moderno vem da estrutura de concreto armado, das esquadrias de ferro e das colunas interiores revestidas de aço inox. As rampas tomam o lugar das escadas servindo aos frequentadores do lugar. Devido aos vidros espelhados, que se destacam na paisagem, o Cassino era chamado pela imprensa de “Palácio de Cristal”. Além das roletas, o espaço abrigava o Grill-room, que funcionava ao mesmo tempo como restaurante, salão de dança e casa de shows. Esse foi construído de forma circular, com paredes e pista de dança de vidro, provida de um moderno processo que permite a variação rápida das cores, elevador automático para os artistas, estrutura projetada para observar o som, e boa visibilidade de qualquer parte do grill.


Museu de Arte da Pampulha - MAP e escultura de Alfredo Ceschiatti

 

Interior do Cassino da Pampulha 
com suas colunas em aço inox

Os bailes dançantes promovidos no lugar, contavam com a presença de artistas conhecidos, e de figuras políticas, como o próprio Juscelino Kubitschek, que à época já possuía fama de exímio “pé de valsa”. No exterior do Cassino os jardins delineados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), foram adornados pelas esculturas “Abraço”, “Nu”, “Sem Nome” e “A Porta” de Alfredo Ceschiatti, August Zamoyski (1893-1970), José Pedrosa (1915-1989) e de Amílcar de Castro. Em 1946, o Cassino da Pampulha estava na rota das principais casas de jogos do país, dentre as quais se destacavam o Palácio Quitandinha em Petrópolis e o Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. Todos administrados pelo empreendedor mineiro Joaquim Rolla. Mas aqueles primeiros anos de sucesso do Cassino da Pampulha ficariam marcados na memória dos que tiveram a oportunidade de desfrutar das atrações oferecidas no espaço.


Cassino da Pampulha, atual Museu de Arte da Pampulha - MAP


Rampa de acesso ao segundo piso do 
Cassino da Pampulha

Somente três anos após sua inauguração, em abril de 1946, o então Presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, proibiu os jogos de azar no país. Com o fechamento dos cassinos, de certo modo, os frequentadores da Pampulha assistiram o esvanecimento de parte do brilho ao qual o lugar estava envolto. Após o encerramento de suas atividades, o espaço passou a servir apenas à realização de apresentações culturais e recepções. Foi somente em 1957 – 11 anos após a instauração do Decreto de Lei que proibiu a prática ou exploração de jogos de azar em todo o território nacional – que o espaço recebeu, oficialmente, uma nova função. 


Antigo Cassino da Pampulha com sua pista de dança em vidro

 

Brises de madeira no Auditório do
Museu de Arte da Pampulha - MAP

Com o estímulo do empresário de comunicação e mecenas, Assis Chateaubriand foi criado nas dependências do antigo Cassino, o Museu de Arte da Pampulha (MAP), a partir de Lei Municipal em dezembro de 1957. Nessa época, as políticas públicas culturais em Belo Horizonte eram gerenciadas pelo então Departamento de Educação e Cultura – DEC, que se encarregava, dentre outras competências de administrar os Salões de Belas Artes que se sucediam anualmente desde a década de 1940.


Brises de madeira no Auditório do Museu de Arte da Pampulha - MAP


"Nu" de August Zamoyski

Em 1969, ao passar a receber obras de artistas de todo o país, os Salões Municipais de Belas Artes passaram a ser denominados: Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte. Os melhores trabalhos apresentados no Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte eram condecorados com um prêmio e expostos no Museu de Arte da Pampulha, que passava a incorporar as obras vencedoras ao seu acervo. Em 2010, cerca de 40% do acervo era composto por peças advindas dos salões nacionais. O MAP possui um acervo de 1.600 obras, dentre elas, mostras da Arte Contemporânea Brasileira, que enfocam variadas tendências artísticas. Um dos destaques do acervo são as obras de Guignard. Seu acervo reúne obras de diversos artistas plásticos como Oswaldo Goeldi, Fayga Ostrower e Anna Letycia, obras modernistas como Di Cavalcanti, Lívio Abramo, Bruno Giorgi e Ceschiatti e dos contemporâneos Antônio Dias, Frans Krajcberg, Ado Malagoli, Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Ivan Serpa, Milton Dacosta, Alfredo Volpi, Frans Weissmann entre outros.


Lagoa da Pampulha vista do Cassino da Pampulha,
atual Museu de Arte da Pampulha - MAP


Azulejos decorando o Cassino da Pampulha 
e a Lagoa da Pampulha

Tombado nas esferas municipal, estadual e federal, o Museu de Arte da Pampulha teve o piso da fachada do prédio restaurado nos parâmetros da década de 1940. A restauração fez parte das obras que foram realizadas nas edificações do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Pampulha, em prol da candidatura do Conjunto ao título de Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), lançada pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2012. Essa não foi a primeira vez que o Museu recebeu melhorias. Em 1996, o Museu teve sua estrutura melhorada a partir de reforma realizada com o patrocínio do Banco Real e da Fundação Roberto Marinho. A obra possibilitou também a renovação de toda a infraestrutura técnica e a organização museológica do Museu. Nesse momento o prédio passou a contar com salas multimídia, biblioteca, café e bar.


Lagoa da Pampulha vista do Cassino


Jardins de Burle Marx no Cassino da Pampulha

Desde 2002, o Museu de Arte da Pampulha recebe artistas para residência por meio da Bolsa Pampulha, programa da Fundação Municipal de Cultura (FMC), destinado a selecionar e conceder bolsas para artistas que se dediquem durante 11 meses consecutivos à realização de projetos inéditos e exclusivos em artes visuais para o MAP. A seleção é realizada durante o Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte. Desde 2003, em todo o primeiro domingo do mês, às 11:00 horas o palco do auditório do Museu de Arte da Pampulha recebe grandes artistas da Música Popular Brasileira (MPB), samba e instrumental, por meio do projeto Domingo no Museu. Os ingressos para as apresentações são vendidos a preços populares e podem ser adquiridos no próprio MAP.


Lagoa da Pampulha vista do Cassino


Jardins de Burle Marx no Cassino da Pampulha
com escultura de José Alves Pedrosa

Atualmente o Museu contribui com a promoção do Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, e realiza em seu espaço diversas atividades culturais. Periodicamente o MAP expõe obras do acervo e apoia a divulgação das produções de artistas contemporâneos tanto nas artes plásticas, quanto na música. O MAP não possui exposição permanente. O motivo é a arquitetura do prédio. Suas paredes de vidro não permitem que obras de arte fiquem expostas nas salas. A ação do sol poderia danificar telas e esculturas. Toda exposição promovida pelo MAP requer um trabalho de mudança da estrutura das salas, como a colocação de paredes falsas para bloquear a passagem da luz externa. O Museu expõe uma seleção de seu acervo uma vez por ano, de acordo com o calendário de mostras temporárias.

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