domingo, 31 de janeiro de 2016

Roma - Castel Sant'Angelo

Castel Sant'Angelo
Mais um dia em Roma e desta vez visitando o Castel Sant'Angelo. Existem poucos lugares no mundo onde você pode ter o privilégio de entrar em uma construção de 2.000 anos que evoluiu com o tempo e representa um pouco da história da cidade onde está inserido. O  Castel Sant'Angelo é um desses lugares. Imaginem que todos os outros monumentos desta mesma época foram reduzidos a apenas ruínas, mas o Castelo atravessou muitas fases e transformações e resistiu bravamente quase intacto. O Castel Sant'Angelo também conhecido como Mausoléu de Adriano, localiza-se na margem direita do Rio Tibre, diante da Ponte de Sant’Angelo. Nessa Ponte é onde estão 12 estátuas de anjos esculpidas por Bernini. A riqueza de detalhes é impressionante. Vale a pena conferir.

Castel Sant'Angelo e o Rio Tibre

Castel Sant'Angelo e Ponte Sant'Angelo

Castel Sant'Angelo

Muralhas do Castel Sant'Angelo
Sua primitiva estrutura foi iniciada no ano 135 pelo Imperador Adriano como um Mausoléu pessoal e familiar (Tumbas de Adriano), concluído por Antonino Pio em 139. Dizem que Adriano se inspirou no Mausoléu de Augusto para a sua construção. O monumento em travertino era adornado por uma quadriga em bronze, conduzida por Adriano. Em pouco tempo, entretanto, a sua função foi alterada, sendo utilizado como edifício militar. O Imperador Aureliano decidiu cercar a cidade de Roma com uma muralha de aproximadamente 18 quilômetros de extensão, para proteger Roma dos ataques das tropas germânicas. E incorporou o Castel Sant'Angelo como parte dessa muralha, aproveitando para fortalecer o seu entorno. Nessa qualidade, passou a integrar a Muralha Aureliana em 403. A fortificação em torno do Castelo foi ampliada pelo Imperador Honorius, tornando-o o lugar mais seguro e protegido de Roma. Assim, assumiu com louvor seu novo papel e serviu de fortaleza durante muitas guerrilhas e conflitos pelos quais passou Roma durante séculos.

Castel Sant'Angelo

Castel Sant'Angelo

Entrada do Castel Sant'Angelo

Arcanjo São Miguel
Diz a lenda que o nome do Castel Sant'Angelo seria uma referência ao Arcanjo São Miguel e teria como protagonista a Roma do século VII e  Gregório I, que foi Papa entre 590 e 604. Naquela época a cidade vivia um período de anarquia e carestia, onde poucos cidadãos comandavam aquela que tinha sido a capital do mundo; e para complicar ainda mais a situação a população estava sendo dizimada pela peste. Para invocar a misericórdia divina, o Papa Gregório organiza uma procissão de três dias com toda a população da cidade. Após passar por mortos e doentes, na altura do Mausoléu de Adriano, os romanos notam no céu violeta a figura luminosa de um anjo com uma espada nas mãos. É dia 29 de agosto de 590. A partir daquela noite a peste desaparece e o Mausoléu de Adriano ganha o nome de Castelo do Santo Anjo.

Mausoléu de Adriano
Em 1277 foi construído um corredor fortificado de 800 metros de comprimento (Passeto di Borgo) que conectava o Castelo com a Cidade do Vaticano para que o Papa pudesse escapar ileso caso estivesse em perigo que ainda pode ser utilizada e visitada com guias. Os anos passam, muita história acontece e em 1367 o Castelo passa a abrigar o tesouro do Vaticano, servindo também como residência papal. O Papa Nicolau V foi o primeiro a se mudar para o Castelo. Durante os assédios ocorridos em Roma em 1527, o Papa Clemente VII utilizou a fortaleza como refúgio. Cada novo Papa pedia para um artista da época reformas e expansões das construções. Era uma época de Papas de famílias muito poderosas, que a gente reconhece facilmente dos livros de história: Medici, Borgia, Farnese, Orsini… Quando se transformou em uma fortaleza com o objetivo de defender Roma dos ataques, foram também adicionados os quatro ângulos de defesa (Bastioni). Serviu também como prisão para muitos patriotas, na época dos movimentos de unificação da Itália ocorridos no século XIX. De seu terraço superior, tem-se uma magnífica vista do Rio Tibre, dos prédios da cidade e até mesmo do domo superior da Basílica de São Pedro. O Castel Sant'Angelo foi usado por Giacomo Puccini como cenário do último Ato (Ato III) de sua grande ópera "Tosca".

Mausoléu de Adriano

Armas utilizadas na defesa do Castelo
A Ponte que cruza o Tibre até o Castelo também foi construída pelo Imperador Adriano e mudou de nome na época do Papa Gregório I. Porém, antes de exibir belas esculturas, eram corpos de prisioneiros executados que ficavam expostos ali. Foi só lá por 1535, que o Papa Clemente VII instituiu um imposto para a construção de estátuas dos apóstolos Pedro e Paulo. Depois, vieram as esculturas dos quatro patriarcas: Adão, Noé, Abraão e Moisés. Em 1669, o Papa Clemente IX encomendou de Bernini novas esculturas para decorar a Ponte, representando a Paixão de Cristo. Uma curiosidade é que apesar de Bernini ter desenhado e participado do processo, ele não fez de fato nenhuma das 12 esculturas que está lá hoje: foram todas feitas por seus discípulos. As duas esculturas que Bernini fez de fato foram expostas na Igreja Sant’Andrea delle Frate.



De planta circular, o seu desenho renascentista influenciou o traçado do Forte do Mar em Portugal, e o do Forte de São Marcelo, no Brasil. Ao todo, o Castelo possui cinco andares aos quais se podem ter acesso através de uma rampa em espiral que leva primeiramente à Câmara das Cinzas e posteriormente às celas onde permaneceram presos alguns personagens históricos - alguns deles famosos, como Arnaldo de Brescia e Benvenuto Cellini. Avançando para a parte superior do Castelo é possível visitar diferentes estâncias que funcionaram como residência papal, decoradas com frescos da época renascentista e perfeitamente conservados, além das extensas coleções de armas. No último pavimento, o visitante desfruta de uma das mais belas vistas de Roma. Lá do alto do Castel Sant'Angelo de um lado, dá para ver o sol se pôr atrás do Vaticano, do outro está o Rio Tibre e lá no fundo outras grandes atrações e construções imponentes em Roma.

Ponte Sant'Angelo e as esculturas de anjos

Ponte Sant'Angelo

Ponte Sant'Angelo
Atualmente, o Mausoléu de Adriano é um museu no qual pode se visitar suas 58 salas recheadas de história, abrigando coleções de pinturas, mobiliários e acessórios. Uma pena não poder tirar foto nas salas de exposição. A sensação era de estar num lugar cheio de histórias, porém sombrio. Como não podia deixar de ser, devido a sua origem, seu interior é escuro e nos dá a nítida sensação de Mausoléu mesmo. Um passeio pelo seu interior representa uma viagem no tempo, mesmo numa cidade histórica como Roma. Existem diversas alas e seções que você poderá visitar no interior do Castel Sant'Angelo: de afrescos a móveis de época (que mesmo que não sejam originais, servem para dar uma ideia do estilo de antigas alas como o Apartamento Particular de Paolo III) até prisões históricas.

Muralhas do Castel Sant'Angelo

Muralhas do Castel Sant'Angelo

Peças do Museu
São sete níveis de visita, desde os subsolos até o terraço. Isso quer dizer que boa parte da história do Castelo ainda pode ser vista. Nos subsolos fica a área reservada para a Tumba de Adriano e nos andares seguintes encontram-se uma mistura de prisão com os quartos luxuosos papais e várias das ruínas de achados arqueológicos, esculturas etc. Dá até para ver a entrada da passagem “secreta” para o Vaticano. Embora muitas das riquezas dos tempos áureos do Castel Sant'Angelo tenham se perdido no tempo ou nas batalhas que o prédio já viveu, caminhar por lá ainda é de impressionar. As muralhas que circundam o prédio estão muito bem preservadas e é possível dar a volta completa na fortaleza, vendo a cidade de Roma e o Vaticano num giro de 360 graus.

Roma vista do Castel Sant'Angelo

Vaticano visto do Castel Sant'Angelo


Ponte Sant'Angelo
Primeira regra sobre o Castel Sant'Angelo: não vá numa segunda-feira. É que o lugar não abre e você corre o risco de ficar estupidamente parado na porta porque você não pode entrar. Se você viaja com bebê, vale a pena saber que você não poderá fazer a visita com carrinho e a visita inclui muitos degraus e subida, por isso espero que você tenha um bom preparo físico!

sábado, 30 de janeiro de 2016

Roma - Pantheon de Roma

Pantheon de Roma
Dentro do labirinto de ruas estreitas em Roma está um dos edifícios mais renomados na história da arquitetura. Não é exagero afirmar que este é um dos lugares mais extraordinários da Itália. O Pantheon de Roma foi erguido em 27 a.C. por Marcos Vipsânio Agripa, genro do Imperador César Augusto, por este motivo, o Pantheon é conhecido como Pantheon de Agripa. Foi construído como um templo dedicado a todos os deuses do Panteão Romano. Muito provavelmente, o templo pertencia a um santuário particular do Agripa que incluía também termas, as primeiras públicas da cidade. Era, com muitas probabilidades, um Augusteum, quer dizer, um santuário dedicado à grandiosidade da dinastia do Augusto. No interior, de fato, o Agripa fez dispor, ao longo das paredes, uma estátua do Júlio Cesar, tio e pai adotivo do Augusto, e outras estatuas de deuses, entre as quais as de Marte e Vênus, os antepassados divinos do Imperador. 

Pantheon de Roma
Só os simulacros do Augusto e do Agripa ficaram expostos externamente, nos nichos aos lados da porta, porque, no ocidente romano, era proibido venerar como divindade um imperador ainda em vida e, então, não era possível colocar no interior do templo uma estátua dele. A intenção do Agripa era a de homenagear o império do Augusto desde pouco nascido, construindo um templo onde, segundo o mito, Rômulo, fundador de Roma, teria sido levado ao céu por uma águia, tornando-se, assim, divindade. Uma águia com asas abertas era uma das decorações do frontão, e hoje é ainda possível ver os buracos de onde foi tirado o relevo de bronze representando a grande ave.

Pantheon na Piazza della Rotonda
Destruído por um incêndio devastador em 80 d.C., foi reconstruído parcialmente pelo Imperador Domiciano. No entanto, quando um raio queimou o Panteão mais uma vez em 110, a estrutura que o Imperador Adriano colocou em seu lugar teve um projeto inteiramente novo. Mas a verdadeira homenagem feita pelo Adriano ao cônsul Agripa foi a decisão de não esculpir seu próprio nome no novo monumento. Ao contrário, ele colocou uma escrita grandiosa na fachada (ainda hoje visível) só para lembrar a grandiosa e mais antiga obra do Agripa. Este, fortemente influenciado pelas suas viagens pela Grécia e pelo Oriente, cria um local dedicado a todos os deuses de forma a abraçar (e agradar) os novos povos sob dominação do Império Romano.

O Pantheon e o Obelisco Egípcio

Pantheon na Piazza della Rotonda
O Imperador Bizantino Phocas deu o monumento ao Papa Bonifácio VIII em 608 d.C., que foi convertido em Basílica Cristiana passando a ser usado então como uma Igreja. Ele foi dedicado a Santa Maria e os Mártires, sendo normalmente chamado de Santa Maria della Rotonda, e a Piazza em frente passou a ser chamada de Piazza della Rotonda. Desde o período da Renascença, o Pantheon foi usado como uma tumba, abrigando os corpos do artista Raffaello, dos Reis Umberto I de Savoia e Vittorio Emmanuelle II de Savoia, da Rainha Margherita de Savoia entre outros. Isso significa que o Pantheon nunca deixou de ser usado para fins religiosos em quase dois mil anos de existência. É uma basílica menor da Igreja Católica e foi diaconia até 1929. Missas são celebradas no local aos domingos e dias santos, assim como casamentos.

Pantheon na Piazza della Rotonda

Detalhes do Obelisco Egípcio
É uma das mais bem preservadas estruturas romanas antigas e permaneceu em uso por toda a sua história. Sua planta é circular com um pórtico de grandes colunas coríntias de granito (oito na primeira fila e dois grupos de quatro na segunda) suportando um frontão. Um vestíbulo retangular liga o pórtico à rotunda, que está coberta por uma enorme cúpula de caixotões de concreto encimada por uma abertura central (óculo) descoberta. Antigamente, a entrada do edifício era precedida por uma escadaria, eliminada quando o nível do piso que leva ao pórtico foi elevado em uma das reformas posteriores. O frontão era decorado com esculturas em relevo, provavelmente banhadas em bronze. As grandes portas de bronze da cela, que no passado eram banhadas a ouro, são antigas, mas não são originais. Pequenas demais para os batentes e estão ali desde o século XV. 

Detalhes do Obelisco Egípcio

Óculo da cúpula
O peso de 5.000 toneladas da cúpula de concreto romano está concentrado no anel de aduelas com 9,1 metros de diâmetro que forma o óculo e o impulso descendente da cúpula é suportado por oito abóbadas de berço na parede de 6,4 metros de largura do tambor, assentado sobre oito pilares. A espessura da cúpula varia de 6,4 metros na base até 1,2 metros à volta do óculo. Sabe-se que as forças de stress na cúpula foram substancialmente reduzidas pelo uso de agregados rochosos progressivamente menos densos, como pedaços de pedra pomes, nas camadas superiores do domo. Câmaras escondidas criadas no interior da rotunda formam uma sofisticada estrutura em favos de mel, que reduziu o peso do teto, o que fez também a eliminação do ápice da cúpula com a criação do óculo. O topo da parede da rotunda apresenta uma série de arcos de tijolo para aliviar as forças de stress, visíveis do lado de fora e construídos no interior da estrutura de tijolos da parede. O Pantheon está repleto de estruturas deste tipo, mas elas ficavam escondidas no interior pelo revestimento de mármore e, no exterior, pelo revestimento de pedra ou estuque.

Interior da Chiesa Santa Maria dei Martiri

Interior da Chiesa
Santa Maria dei Martiri
A altura do óculo e o diâmetro do círculo interior são idênticos, 43,3 metros. Portanto, o interior caberia exatamente dentro de um cubo e poderia abrigar uma esfera perfeita de 43,3 metros de diâmetro. Estas dimensões fazem muito mais sentido quando expressas nas unidades de medida da Roma Antiga: a cúpula tem 150 pés romanos; o óculo tem 30 pés de diâmetro; a porta tem 40 pés de altura. Substancialmente maior que as cúpulas anteriores, o Pantheon ainda detém o recorde de maior cúpula de concreto não reforçado do mundo. Embora geralmente apareça em desenhos como um edifício isolado, havia outro edifício anexo ao fundo do Pantheon. Apesar de servir como contraforte adicional à rotunda, não havia uma passagem interior de um edifício para o outro.

Altar Mor






Mas, a sua beleza principal reside no interior (principalmente porque a entrada é gratuita – coisa rara por terras italianas!). O interior é abobadado e foi ornamentado no século XVIII com pinturas de Giovanni Panini. O interior da cúpula provavelmente foi desenhado para simbolizar a abóbada celeste. O óculo no ápice e a porta de entrada são as únicas fontes de luz natural no interior. No decorrer de um dia, a luz do óculo passeia pelo espaço num movimento inverso ao de um relógio de sol. O óculo serve ainda como sistema de resfriamento e ventilação do edifício; durante chuvas e tempestades, um sistema de drenagem com 22 furos espalhados no piso remove a água que escorre pela abertura. Um ligeiro basculamento na superfície permite à água escorrer no chão do Pantheon de Roma e desaparecer praticamente no mesmo instante que precipita.

Altar-mor da Chiesa Santa Maria dei Martiri

Altar-mor da Chiesa Santa Maria dei Martiri
Pelo interior, a cúpula é formada por caixotões, em cinco anéis de 28 unidades cada. Este espaçamento uniforme é difícil de conseguir e, presume-se, tem um significado simbólico, seja numérico, geométrico ou lunar. Os atuais altares e absides foram encomendados pelo Papa Clemente XI e projetados por Alessandro Specchi. No Santuário na abside acima do Altar-mor está um ícone bizantino do século VII da “Madona com o Menino”. Com a maior cúpula europeia até 1.436 (até que Brunelleschi criou a cúpula de Florença) o seu passado cristão permitiu a sua preservação ao longo dos séculos, lamentando-se, no entanto a perda das esculturas de mármore que adornavam o seu interior e grandes quantidades de bronze que foram fundidos para construir o Dosel (da autoria de Bernini) na Basílica de São Pedro. Um pormenor interessantíssimo e que não passa despercebido ao olhar atento do geógrafo é o “atolamento” que a cidade de Roma sofreu ao longo dos séculos. A base do Panteão de Roma original apresentava-se muito mais abaixo do que o nível atual das ruas que circulam o edifício.

Interior da Chiesa Santa Maria dei Martiri
A visita ao Pantheon não costuma demorar mais que uma hora e o melhor horário para ir ao local é mais cedo (para aqueles que desejam evitar a multidão). O templo abre todos os dias da semana, e a entrada é gratuita. A linda Piazza  Della Rotonda, com suas fontes e o seu Obelisco Egípcio, merecem uma paradinha para algumas fotos e, se o tempo ajudar, sente-se nos inúmeros restaurantes ao lado da Piazza, apreciando esta paisagem única e, depois, permita-se ficar perdido nas estreitas ruas que cercam o Pantheon. Impossível não ficar encantado.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Roma - Campo Dei Fiori

Campo Dei Fiori
Nos finais de tarde de verão, com seus casarões dourados pela luz do sol, a Piazza Campo Dei Fiori se torna absolutamente irresistível. Ainda mais sabendo que alguns dos bares mais aconchegantes da cidade estão aqui, prontos para abastecerem a clientela – jovem, em sua maioria – com taças de vinho ou copos de cerveja gelada, na happy hour – que eles chamam de “aperitivo”. Campo dei Fiori (Campo de Flores) é uma pequena Piazza que passaria despercebida pelos turistas se não fosse por um detalhe: de segunda a sábado acontece ali a maior feira aberta de Roma. São comidinhas, flores, souvenires, massas e diversas outras coisas para comprar e trazer para o Brasil. Sim, as barraquinhas já são meio turísticas, com preços não tão baratos, mas ainda assim é mais autêntico do que comprar em uma loja de souvenires, além de que há coisinhas muito fofas que são ótimos presentes, como massas de vários sabores e produtos feitos à base de trufa. 

Estátua de Giordano Bruno
no Campo Dei Fiori
O lugar recebeu esse nome provavelmente porque durante muitos séculos a região permaneceu abandonada, inabitada. Pois é conhecido que a região frequentemente era atingida pelas cheias do Rio Tibre. Assim, durante muito tempo, quem passava por lá não via mais do que um campo de flores. A primeira construção na região na verdade foi uma igrejinha, que hoje em dia nem está mais no quadrado que forma o Campo dei Fiori. Mais tarde, a Família Orsini (uma dinastia italiana) se estabeleceu ali por volta do século XIII, e construiu o seu palácio. A Piazza, tal como ela é hoje, começou a tomar forma por volta do século XV, por ordem do Papa Calixto III. Depois da remodelação da região e da construção de vários edifícios importantes, foi construído o Palazzo della Cancelleria, que deu ares importantes ao lugar. O Campo dei Fiori se transformou em um lugar muito próspero, repleto de oficinas artesanais e albergues, e havia mercado de cavalos duas vezes por semana. Durante o período medieval, personalidades como nobres, cardeais e  comerciantes circulavam por ali. Mais tarde, a região já valorizada, foi pavimentada, ajudando na sua expansão e desenvolvimento. 

Estátua de Giordano Bruno no Campo Dei Fiori
No Renascimento, a Piazza era repleta de hotéis, pousadas e restaurantes e muitos deles pertenciam à Giovanna Cattanei (conhecida como Vannozza), uma cortesã e, pasmem, amante do Papa Alexandre VI. Bem na esquina da Piazza com a Via Del Gallo se encontra o prédio onde nasceu a terrível Lucrécia Borja, uma das filhas do próprio Alexandre VI. Uma parte do que hoje é a Piazza Farnese (a praça tranquila coladinha com o Campo dei Fiori) já fez parte do Campo dei Fiori. Olhando bem, em volta, percebe-se que a arquitetura é irregular. Os casebres e casarões nunca foram formalizados pelas leis municipais, crescendo desordenadamente, de modo que o visitante não vai ver uma continuidade entre os edifícios que circundam o Campo dei Fiori.

Estátua de Giordano Bruno no Campo Dei Fiori
Durante muitos séculos, apesar do nome bonitinho, o local foi usado para execuções públicas. O mais famoso a ser executado ali foi exatamente Giordano Bruno, que foi perseguido pela Inquisição por defender o sistema copernicano em que a Terra se move em torno do Sol. As ideias de Bruno foram consideradas perigosas e ele foi executado na fogueira, bem ali, no ano de 1600. Sua estátua que foi erguida em 1887, pelo escultor Ettore Ferrari, foi colocada ali, com a face soturna voltada para o Vaticano. Giordano Bruno é representado então como uma espécie de mártir dos livres pensadores, que morreu por defender suas ideais e pagou um preço caro por falar o que acreditava. Saibam que esse assunto é  coisa séria para os italianos, que incluíram a liberdade de manifestar o próprio pensamento na própria Constituição. Campo Dei Fiori foi a Piazza na qual foi exibida a sentença que condenou o pintor Caravaggio depois que ele assassinou um adversário. Antigamente, no lugar do monumento existia uma fonte que, na década de 1920, foi deslocada e ainda  se encontra na Piazza della Chiesa Nuova.

Palazzo della Cancelleria
Uma das coisas que você vai perceber é a ausência de qualquer sinal religioso nesta Piazza, numa terra onde você se depara com uma igrejinha em qualquer esquina, o que mais impressiona neste quadrado que forma a Piazza Campo dei Fiori é a ausência absoluta de qualquer edifício religioso. Em compensação tem diversos restaurantezinhos ao redor, ideal para uma pausa para o vinho. Fica ao leste do Rio Tibre no Rione Parione. Em 1869 o antigo mercado de flores da Piazza Navona foi transferido para o Campo dei Fiori. O Campo dei Fiori é um dos lugares agradáveis de Roma a serem explorados a pé ou por quem apenas deseja uma pausa entre um passeio e outro. No meio de tanta história que encontramos em Roma, Campo dei Fiori é um passeio que nos traz de volta ao presente, aos italianos simpáticos e galanteadores, ao colorido das barracas. O Campo dei Fiori fica a cerca de 25 minutos de caminhada do Coliseu. Uma corrida de táxi das proximidades do Pantheon até o local também não sai cara.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Roma - Fontana di Trevi

Fontana di Trevi
Um parque de diversões para apreciadores da história e arquitetura. Um tesouro inesgotável para amantes da arte e cultura. Uma metrópole eletrizante de trânsito caótico. Um agitadíssimo centro com tudo do melhor para boêmios, glutões e fashionistas. Roma consegue ser tudo isso e muito mais. A “Cidade Eterna” tem tantas atrações imperdíveis que aos visitantes sempre se recomenda voltar. Mesmo assim, joga a favor dos turistas o fato de a maioria das atrações mais procuradas se concentrarem em uma área perfeitamente viável para a exploração a pé. Porque se o Coliseu, a Fontana di Trevi e o Vaticano são obrigatórios, igualmente indispensável é saborear o prazer de cafés ou barezinhos, como bons romanos, enquanto nos embasbacamos com cada praça, monumento ou museu. Impossível falar das atrações de Roma e não incluir aquela que é a sua mais famosa fonte: a Fontana di Trevi. Claro que ela não é a única fonte linda de Roma. Na cidade de fontes como a Fontana dei Barcaccia (Piazza di Spagna), Fontana dei Quattro Fiumi (Piazza Navona), Fontana dei Triton (Piazza della Bocca della Veritá), só para citar algumas, ser considerada a mais famosa, é coisa para quem tem grandiosidade. E a Fontana di Trevi merece toda a fama e toda massa de turistas que se perde pelas ruelas ao seu redor para poder encontrá-la, e poder apreciar sua magnitude.

Fontana di Trevi
Nos anos áureos do Império Romano, as estruturas que alimentavam as cidades com água eram os famosos aquedutos, admirados pelos engenheiros até hoje. Era tradição na época fazer uma bonita fonte no ponto final de cada aqueduto, e por isso Roma está lotada de lugares assim. A história da Fontana di Trevi remonta à época da Roma Antiga. Era uma Fonte que estava situada no cruzamento de três ruas (tre vie), onde se formava um trivium (trevo), o que levou o sítio a ser chamado de Trebium. O local da Fontana marcava o ponto terminal do Aqueduto Acqua Vergine, um dos mais antigos abastecedores de água de Roma, que tinha sido encomendado pelo Imperador Otávio Augusto a Marcus Agripa, sendo as suas águas usadas para fornecer água para os banhos termais. As águas que circulam na Fontana têm dois nomes, Águas Virgens e Trevi. O "golpe de misericórdia" desferido pelos invasores Godos em Roma foi dado com a destruição dos aquedutos, durante as Guerras Góticas. Os romanos durante a Idade Média tinham de abastecer-se da água de poços poluídos, e da pouco límpida água do Rio Tibre, que também recebia os esgotos da cidade. 

Fontana di Trevi
O antigo costume romano foi reavivado no século XV, com o Renascimento. Em 1453, o Papa Nicolau II, determinou que fosse consertado o Aqueduto de Acqua Vergine, construindo ao seu final um simples receptáculo para receber a água, num projeto feito pelo arquiteto humanista Leon Battista Alberti. Apesar de ser naturalmente linda e chamar atenção devido à sua grandiosidade e aos detalhes, o que deu fama à Fontana foi o filme “La Dolce Vita” de Fellini, da década de 1960, que tem a famosa cena em que a protagonista americana entra na Fontana à noite. Em 1629, o Papa Urbano VIII achou que a velha Fontana era insuficientemente dramática e encomendou a Bernini alguns desenhos, mas quando o Papa faleceu o projeto foi abandonado. A última contribuição de Bernini foi reposicionar a Fontana para o outro lado da praça a fim de que esta ficasse defronte ao Palazzo Quirinale (assim o Papa poderia vê-la e admirá-la de sua janela). Ainda que o projeto de Bernini tenha sido abandonado, existem na Fontana muitos detalhes de sua ideia original. Dizem que sua inspiração veio também de outra fonte, a Fontana dell’acqua Paola. E realmente, ao se olhar para ela, consegue-se perceber a compatibilidade desta ideia. Esta Fontana fica na Colina Gianicolo, em Trastevere, e vale a pena ser visitada.

Turistas jogando moedas na Fontana di Trevi
Muitas competições entre artistas e arquitetos tiveram lugar durante o Renascimento e o Período Barroco para redesenhar os edifícios, as fontes, e até mesmo a Scalinata di Piazza di Spagna (as Escadarias da Praça de Espanha). Em 1730, o Papa Clemente XII organizou uma nova competição na qual Nicola Salvi foi derrotado, mas efetivamente terminou por realizar seu projeto. Este começou em 1732 e foi concluído em 1762, logo depois da morte de Clemente, quando o Netuno de Pietro Bracci foi afixado no nicho central da Fontana. Salvi morrera alguns anos antes, em 1751, com seu trabalho ainda pela metade, que manteve oculto por um grande biombo. A Fontana foi concluída por Giuseppe Pannini, que substituiu as alegorias insossas que eram planejadas, representando Agripa e Trívia, as virgens romanas, pelas belas esculturas de Netuno e seu séquito.

Turistas jogando moedas na Fontana di Trevi
Considerada a mais bela Fonte do mundo, a Fontana di Trevi, literalmente traduzida como Fonte dos Trevos, é um dos mais sedutores monumentos de Roma. Sua beleza dimensional feita de água e pedra foi construída sobre o esplendor do barroco italiano. A beleza estética faz desta obra de arte um símbolo das esculturas que adquiriram uma mítica lendária, com linhas tênues entre o fulgor e o monumento, causando uma empatia romântica com todos os cidadãos do mundo, fazendo dele um triunfo do barroco. Um ponto que costuma atrapalhar o momento da visita é que a região sempre está cheia de gente tentando vender rosas insistentemente, mas basta ignorá-los para continuar desfrutando de um lugar tão especial.

Fontana di Trevi
Diante da Fontana, a primavera é eterna, Netuno rompe a paisagem e a pedra na qual foi esculpido, tornando viva a arquitetura. Vento, luz, sombras, pedra, água, juntam-se como se fosse formado um imenso mar, num cenário intenso e de uma dramaticidade singular. A Fontana di Trevi, com a sua paisagem espetacular e grandiosidade barroca, dá um toque romântico a Roma, às vezes perdido na concepção dos monumentos históricos intensos, como o Coliseu. É o ponto preferido dos casais apaixonados ou que se apaixonam na Cidade Eterna. É o ponto final da cidade, que se transforma no retorno. Reza a lenda que estrangeiros, forasteiros, turistas, quando visitam Roma, devem jogar uma moeda na Fontana para que possam retornar. O ritual é repetido por todos, que assim, garantem a esperança de um dia poder rever Roma, e, principalmente, poder rever a Fontana mais bela e romântica do mundo. As moedas nunca ficam na água por mais de sete dias. A Prefeitura as retira semanalmente e as doa para instituições de caridade. 

Fontana di Trevi
Reza a lenda que, no ano 19 a.C., alguns soldados sedentos procuravam por água, encontraram pelo caminho uma jovem romana virgem, que se apiedando deles, conduziu-os a uma fonte límpida, de água pura, localizada a cerca de 22 quilômetros da Roma Antiga. Através da lenda, surgiu o nome de Águas Virgens. No monumento atual da Fonte, a cena da lenda da jovem virgem e dos soldados está representada em escultura. Nos primórdios da história da Fonte, as suas águas foram levadas através de um pequeno aqueduto romano, diretamente ao local de banho de Marcus Vipsanius Agripa, um dos maiores estadistas e generais do Império Romano, a quem se deve a construção do Pantheon de Roma e dos seus principais aquedutos. Na Roma Antiga, graças aos aquedutos, belas fontes foram erguidas por toda a cidade, contribuindo para a arquitetura clássica e imponente da capital do maior império do mundo.

Fontana di Trevi
A Fontana, localizada no Rione de Trevi, no Bairro do Quirinal, no Centro Histórico de Roma, desenha a fantasia das suas águas e estátuas aninhadas no centro de um palácio, possuindo 20 metros de largura e cerca de 26 metros de altura. Verdadeira maravilha do mundo, seu esplendor começa quando nos aproximamos ao redor, ouvimos o som crescente das águas, e de repente, estamos diante de uma visão edênica da criação humana, contemplando uma das mais deslumbrantes vistas do planeta. O espaço da Fontana abre-se aos olhos do visitante, com a força da água a emanar das pedras, como se adquirisse vida e arrebatasse-nos para um cenário preso na beleza da arte do homem.

Fontana di Trevi
Como um dos pontos turísticos mais famosos da capital, a Fontana di Trevi está sempre repleta de visitantes. A Fontana mundialmente conhecida e, na verdade a fachada de um prédio, o Palazzo Poli, ornamentada com estátuas e outros elementos. Ocupando parte da parede do Palazzo, que fica entre duas ruas paralelas, não é possível andar ao redor ou passar atrás dela. Ela também não é circular como a maioria das fontes, sendo, desta forma, uma estrutura ímpar. A Fontana tem detalhes interessantes e curiosos. Acima das quatro colunas estão as estátuas que representam as quatro estações. Podem-se ver as alegorias de prados exuberantes, presentes outonais, exuberância dos campos e a variedade de frutas colhidas (da esquerda para a direita). As inscrições são homenagens aos papas envolvidos na construção. E a Fontana di Trevi é coroada com o brasão de armas do Papa Clemente XII.

Fontana di Trevi
Olhando para a Fontana, se vê que ela tem o formato de um arco triunfal no centro. E este foi modelado de acordo com o Arco de Constantino, que fica em frente ao Coliseu. Quando se compara a Fontana e o Arco, lado a lado, consegue-se perceber bem esta “inspiração”. É como se o Arco estivesse incorporado ali. No centro, está represento Netuno que conduz uma carruagem em forma de concha, puxada por dois cavalos-marinhos montados por dois tritões, um mais velho e outro mais jovem. Olhe mais atentamente e você perceberá que um dos cavalos está calmo, enquanto o outro é bem selvagem: um símbolo das “mudanças de humor” do oceano. O tema da Fontana di Trevi é as forças da natureza que ameaçam o homem e seu trabalho. E Netuno faz parte das forças da natureza e das criaturas míticas que ameaçavam o povo. O grande chafariz posicionado em frente às esculturas simboliza o mar. Nos nichos à direita e à esquerda de Netuno estão as figuras dedicadas à Saúde e Fertilidade. Estas foram criadas por Fillippo della Valle e também fazem parte do tema. Elas são as representações figurativas da Salubridade e da Abundância (saúde e bem-estar).

Escultura de Netuno
Em cima dos nichos da Fertilidade e da Salubridade, estão dois relevos. No relevo da esquerda pode-se ver Marcus Agripa, explicando a construção da Fontana para Augusto, que ordena a construção dela. À direita está representada a virgem que liderou os soldados de Agripa até a nascente nas Montanhas de Sabine. As representações são muito bem feitas e as figuras parecem ter vida e seguir em direção ao espectador. Quase como um quadro vivo. Além disso, a água foi direcionada para gerar um barulho forte, e impressionar ainda mais quem observa a Fontana. Desta forma, o barulho dá “vida” às esculturas. 

Escultura de Netuno com as 
Estátuas da Abundância 
e da Salubridade







A Fontana di Trevi foi construída numa mistura de estilos barroco tardio e neoclássico, usando pedras de travertino de Tivoli e mármore de Carrara. À esquerda da Fontana, vê-se um grande vaso de travertino, cuja história curiosa tem origem na construção do monumento. Dizem que, enquanto a obra era realizada, os operários eram frequentemente importunados pelas críticas de um barbeiro que tinha sua barbearia na praça e estava sempre pronto a se intrometer na obra da Fontana. O arquiteto Nicola Salvi procurou ser paciente, mas não aguentou mais, decidiu mandar colocar esse grande vaso de travertino em frente à barbearia, de forma que o barbeiro não tivesse mais a vista da Fontana. E o vaso, que ainda está lá, é chamado pelos romanos de “naipe de copas” pela semelhança com a carta do baralho.

Palazzo Poli
É interessante saber que desde 2007 a Fontana não é mais alimentada pela água vinda da ainda ativa Aqua Virgo. Agora, uma bomba traz a água do sistema de abastecimento da cidade. A dica para os que desejam evitar a multidão, que se aglomera na Praça de mesmo nome, é visitar o local bem cedo ou tarde da noite. O mais impressionante de Roma são esses (muitos) pequenos momentos em que você anda por ruelas e becos bonitinhos e, meio que sem querer, esbarra com alguma maravilha que te faz tremer completamente. Com a Fontana é assim.