terça-feira, 2 de agosto de 2016

Belo Horizonte - Igreja São Francisco de Assis

Igreja São Francisco de Assis
e Painel de 
Cândido Portinari

É difícil encontrar algum brasileiro que nunca tenha ouvido falar da Igreja São Francisco de Assis em Belo Horizonte. Se, ao falar o nome, alguém reluta em responder, espere alguns segundos e diga Igreja da Pampulha para ver o que acontece: a memória refresca na hora. A construção da Igreja, que está localizada em meio a um Complexo que recebeu da UNESCO o título de Patrimônio Mundial da Humanidade, tem uma história por trás que é repleta de inspiração para profissionais da arquitetura em todo o mundo.


Igreja São Francisco de Assis

A obra foi carinhosamente apelidada de “Igrejinha da Pampulha” por estar localizada na orla da Lagoa da Pampulha, e teve sua inauguração oficializada no ano de 1943 e é considerada um marco na história da arquitetura brasileira. O projeto arquitetônico da Igreja é de Oscar Niemeyer, que veio a se tornar mundialmente famoso com as obras de construção de Brasília, e o cálculo estrutural do engenheiro Joaquim Cardozo. Junto com a Casa do Baile, o Cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha) e o Iate Clube, a Igreja compõe o Conjunto Arquitetônico da Pampulha.


Sessão de Fotos na Igreja São Francisco de Assis

A Igreja é considerada a obra-prima do Conjunto e foi o último prédio a ser inaugurado. No projeto da Capela, Oscar Niemeyer faz novos experimentos em concreto armado, abandonando a laje sob pilotis e criando uma abóbada parabólica em concreto, até então só utilizada em hangares. A abóbada na Capela da Pampulha seria ao mesmo tempo estrutura e fechamento, eliminando a necessidade de alvenarias. Inicia aquilo que seria a diretriz de toda a sua obra: uma arquitetura onde será preponderante a plasticidade da estrutura de concreto armado, em formas ousadas, inusitadas e marcantes.


Igreja São Francisco de Assis

Marcado por curvas que fazem uma alusão às montanhas de Minas Gerais, o desenho da Igreja traz uma sucessão de abóbadas (tetos arredondados): duas principais que cobrem a nave e o santuário, e três secundárias, que envolvem a sacristia e anexos. Na fachada principal, uma marquise reta conduz à torre que emerge na lateral. O arquiteto incluiu uma brise na parte superior da entrada. Com as formas mais livres presentes neste projeto, Niemeyer aventurou-se pelas qualidades plásticas do concreto armado, revelando seu gosto pelas linhas sinuosas. Pela primeira vez em edificações católicas no Brasil, foram usados traços muito diferentes da tradição religiosa, marcada pelos prédios robustos e  imponentes do período colonial.


Torre e Campanário da 
Igreja São Francisco de Assis
e os mosaicos de Paulo Werneck

As linhas curvas da Igreja seduziram artistas e arquitetos, mas escandalizaram o acanhado ambiente cultural da cidade, de tal forma, que as autoridades eclesiásticas não permitiram, por muitos anos, a consagração da Capela devido à sua forma inusitada e ao painel de Portinari onde se vê um cachorro representando um lobo junto a São Francisco de Assis. A Igreja permaneceu durante 14 anos proibida ao culto. Aos olhos do Arcebispo Dom Antônio dos Santos Cabral a igrejinha era apenas um galpão. Essa situação só mudou quando o então Papa João XXIII manifestou interesse em expor no Vaticano a Via Sacra de Portinari. A primeira missa na Igreja da Pampulha foi celebrada em abril de 1959.


Interior da Igreja São Francisco de Assis 
com o Mural de Cândido Portinari







O artista plástico Cândido Portinari é autor do painel externo em azulejo azul e branco, na fachada posterior da Igreja, que retrata cenas da vida de São Francisco. Fez também o mural do altar principal, em que São Francisco de Assis aparece se despindo de suas posses para se dedicar à caridade. O mural reproduz os traços modernos da época na medida que faz uma releitura ao próprio São Francisco de Assis. Fez também, os 14 pequenos quadros que retratam a Via Sacra, considerada uma de suas obras mais significativas. Esta Via Sacra foi exposta no Palazzo Reale em Milão, em 1963, quando foi realizada uma das maiores exposições individuais da obra de Portinari. Destaca-se o painel em cerâmica que reveste o púlpito, na parede exterior do batistério e no balcão.


Detalhes dos azulejos no interior da Igreja

O belo-horizontino Alfredo Ceschiatti é autor dos painéis em bronze, esculpidos em baixo-relevo, no interior do batistério, retratando a Expulsão de Adão e Eva do Paraíso. O resultado foi uma obra de bela plasticidade. Com esses painéis, o escultor ganhou o prêmio do 51º Salão Nacional de Belas Artes. Suas esculturas acompanham sempre os grandes trabalhos de Niemeyer e estão presentes no Palácio da Alvorada, na Praça dos Três Poderes e na Catedral, em Brasília. Nas laterais da abóbada da nave, encontram-se os mosaicos em azul e branco do pintor, desenhista e ilustrador Paulo Werneck, que introduziu a técnica de mosaico no Brasil. O azul das pastilhas usadas na parte externa da Igreja da Pampulha foi pensado para ser uma espécie de reflexo da água, enquanto os desenhos representam os movimentos das ondas da Lagoa da Pampulha.


Painel de Cândido Portinari no Batistério 
da Igreja São Francisco de Assis

Os jardins da Igreja são assinados pelo maior paisagista brasileiro, cujos trabalhos também podem ser vistos no Cassino (hoje Museu de Arte da Pampulha) e na Casa do Baile. Ele foi revolucionário, já que deixou de lado as influências estrangeiras, como os simétricos jardins franceses, para apostar na assimetria da natureza. Nascido em São Paulo, em 1909, Burle Marx também foi desenhista, pintor e ceramista, entre outras atividades.


Cruz da Igreja de
São Francisco de Assis




Por mais que Belo Horizonte estivesse crescendo, fosse uma bela capital e contasse com um planejamento minucioso do Prefeito Juscelino Kubitschek em relação à arquitetura, a Igrejinha da Pampulha se tornou mais do que uma notável construção de reconhecimento internacional: o cartão-postal dos mineiros. A Igreja da Pampulha é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) desde 1984 e pela Gerência do Patrimônio Municipal. Em 2005, a Igreja passou por obras de recuperação e restauração. Também foi criado o projeto de iluminação das fachadas, que valoriza as formas arredondadas da construção.


Igreja São Francisco e jardins de Burle Marx

Em 2016, a Igreja da Pampulha ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade concedido pela ONU. Para conseguir tal feito, a obra teve que cumprir três critérios. São eles: representar uma obra-prima do gênio criativo humano; exibir um evidente intercâmbio de valores humanos que teve impacto sobre o desenvolvimento da arquitetura; e ser um exemplar excepcional de conjunto arquitetônico ou paisagem que ilustre um estágio significativo da história humana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário