Museu da Inconfidência |
Ouro Preto está acima
do bem e do mal. Quem não pensa assim não aproveita a cidade. É extremamente
humana, por isso mesmo corajosa e cruel. A crueldade está escrita nas paredes
intumescidas pela queima de óleo de baleia das antigas minas de ouro. Os
escravos eram forçados a entrar em pequenas aberturas e lá ficavam praticamente
o dia inteiro, respirando a fumaça das tochas, o suor exausto e o sufocante
exalar de urina e fezes. Já a coragem repousa resplandecente no Panteão da Liberdade, onde descansam os
restos daqueles que um dia sonharam a Independência
de Minas Gerais e, por
que não, do Brasil. Em Ouro Preto não há lugar para
maniqueísmos. Devemos apenas nos remeter a uma época sem leis, uma sopa caótica
de interesses que tomou forma e deu origem à primeira sociedade com
características modernas no Brasil.
Se nosso país nasceu em algum ponto do litoral, sua concepção como nação se deu
em Minas Gerais.
Praça Tiradentes |
Ouro
Preto é um município brasileiro localizado no Estado de Minas Gerais, na Região Sudeste do país, a 1179 metros
acima do nível do mar. Ouro Preto
localiza-se em uma das principais áreas do ciclo do ouro. Oficialmente,
foram enviadas a Portugal 800
toneladas de ouro no século XVIII, isso sem contar o que circulou de maneira
ilegal, nem o que permaneceu na Colônia, como por exemplo, o ouro empregado na
ornamentação das igrejas. O município chegou a ser a cidade mais populosa
da América Latina, contando com
cerca de 40 mil pessoas em 1730 e, décadas após, 80 mil. Àquela época, a
população de Nova York era
de menos da metade desse número de habitantes e a população de São Paulo não ultrapassava oito mil.
Em meio às ladeiras de paralelepípedo que recortam toda a antiga Vila Rica, estão
ainda chafarizes, capelas, museus e um belo casario colonial que guardam e
contam histórias dos séculos XVII e XVIII, épocas da pujança das minas e da Inconfidência Mineira.
Igreja São Francisco de Assis |
De nada adianta todo o ouro do mundo se não é possível
ostentá-lo. Não foi diferente na Vila
Rica. A fé foi uma das válvulas de escape para o poder acumulado por
setores da emergente sociedade mineira do século XVIII. A ordem dos poderosos,
dos negros, dos pardos etc., cada qual tinha por finalidade construir a mais
bela igreja, demonstrar sua força e influência. Deu-se início a um tipo de
competição não declarada, cujo combustível era o metal amarelo, que se
esparramou por altares, imagens e demais instrumentos litúrgicos. Minas Gerais vivia uma espécie de
renascimento, onde figuravam mecenas, desabrochavam as artes e nasciam gênios. As
igrejas barrocas e o casario colonial de Ouro
Preto só voltaram a ficar evidenciados de forma positiva pelo Movimento Modernista, na década de
1920. Nesse momento, as obras de Aleijadinho e Mestre Ataíde passaram a ser
vistas como manifestações primeiras de uma cultura genuinamente brasileira. O
próprio tombamento da cidade faz parte do projeto de construção da
nacionalidade brasileira, sendo o primeiro local do país considerado Monumento Nacional. O título de Patrimônio Histórico da Humanidade não
foi concedido por acaso a Ouro Preto.
Recentemente, Ouro Preto foi eleita
uma das Sete Maravilhas Brasileiras.
Igreja Nossa Senhora do Carmo |
Enquanto o carro percorre a sinuosa estrada que leva até Ouro Preto, os olhos dos viajantes
seguem atentos à incrível Serra do
Espinhaço. O sobe e desce das montanhas anuncia o lindo e bucólico cenário
que envolve a antiga cidade de Vila Rica.
Entre as paisagens naturais do Pico do
Itacolomy e as igrejas barrocas do século XVIII, a luz do sol encontra
espaço e ilumina os casarões coloniais que tomam conta das ladeiras de Ouro Preto. O lugar, que já foi palco
da incessante corrida em busca de ouro e intenso trabalho escravo, hoje
resguarda parte importante da história do Brasil
e recebe milhares de visitantes em busca de algumas das mais belas atrações
turísticas de Minas Gerais e do
país.
Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia |
Ouro Preto é o
típico destino que pode ser visitado em um ou 10 dias. Ouro Preto consegue manter os viajantes que chegam à cidade
entretidos por muitos dias. Localizada a apenas 100 quilômetros da capital Belo Horizonte, Ouro Preto é ótima pedida para um passeio de bate e volta e também
para dias de intenso mergulho na história e arte do Brasil. São dezenas de pontos turísticos a serem visitados, belas
cidades nas redondezas, muitos mirantes que merecem paradas fotográficas e,
claro, incontáveis comidinhas mineiras a serem experimentadas. Faltará tempo
para tantas atrações. Caso você esteja organizando uma viagem curta, de apenas
um final de semana, o melhor é focar no essencial de Ouro Preto para não ficar perdido entre tantas igrejas, museus,
minas e povoados encantadores. Caso tenha mais tempo, aproveite para conhecer a
arte e arquitetura de Ouro Preto por
dentro, não apenas as fachadas. A paisagem de Ouro Preto é deslumbrante, mas é no interior das igrejas e casarões
que estão alguns dos maiores tesouros locais.
Teatro Municipal de Ouro Preto - Casa da Ópera |
Por ser uma região turística e sempre receber visitantes, Ouro Preto oferece muitas opções de hospedagem.
Para quem prefere ficar próximo aos pontos turísticos, o lugar ideal para ficar
é mesmo ali pelo Centro Histórico. Como a região é repleta de ladeiras, é importante verificar se
o hotel escolhido fica no topo de uma delas, pois será bastante cansativo subir
e descer todos os dias. Outro detalhe a ser observado é a estrutura física do estabelecimento,
uma vez que os imóveis da cidade são muito antigos e carentes de reforma. Pode ter
certeza de que você vai se impressionar com as construções e fachadas das casas, todas
coloridas e bem preservadas. Força nas pernas para o sobe-desce e câmera nas mãos
para fazer as mais belas fotos de Ouro Preto.
Ao caminhar pelas ruas dá até para se sentir um pouco no século XVIII, quando a
região foi uma das mais importantes do país. A maioria dos visitantes, incluindo
eu, prefere circular a pé pelo Centro Histórico, visitando os principais pontos
turísticos. Com certeza, é a melhor forma de observar cada detalhe da arquitetura
colonial da região.
Observatório Astronômico da Escola de Minas |
Entrar nas igrejas de Ouro
Preto é como visitar museus. Cada uma reserva uma obra especial. A tarefa,
no entanto, pode não ser fácil. Muitas vezes, as igrejas não têm horário
regular de abertura, estão fechadas para restauração ou cobram ingressos para
visita. Na verdade, quase todas as igrejas de Ouro Preto exigem pagamento para serem visitadas por dentro e quase
nunca é permitido o registro fotográfico. Por isso, prepare-se para trazer
recordações dos belos altares e pinturas no teto apenas na lembrança. Ouro Preto oferece ao menos 20 igrejas
e capelas para visitação. Como o número é muito alto e quase sempre o tempo é
muito curto, é preciso priorizar a visita. Sendo assim, comece o tour pelas
igrejas de Ouro Preto visitando as
mais significativas em termos históricos e artísticos.
Casa onde viveu o poeta Thomás Antônio Gonzaga |
Entre as igrejas imperdíveis da cidade estão a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar,
ornamentada com mais de 400 quilos de ouro; a Igreja de São
Francisco de Assis, considerada o ícone do
estilo no país e obra-prima de Aleijadinho; a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição
de Antônio Dias, a Igreja de Nossa
Senhora do Carmo, a Igreja de Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos e a Igreja
de Santa Efigênia e a Capela do Padre
Faria. Ainda que essas igrejas estejam entre as mais belas, elas não são as
únicas. Ao caminhar por Ouro Preto e
se deparar com outras igrejas, não deixe de entrar para descobrir o interior
delas. Nenhuma outra cidade de Minas
Gerais tem oferta tão grande de belas igrejas abertas à visitação. E elas
não são importantes apenas pela questão religiosa. Muitas igrejas de Ouro Preto são verdadeiras obras de arte
e exemplares magníficos da arquitetura colonial. Percorrê-las é um presente
para os olhos. Grandes nomes da arte barroca mineira trabalharam em
projetos dos edifícios, esculturas e pinturas das igrejas setecentistas. Entre
os artistas mais importantes está Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Além
dele, destacam-se também Manuel da Costa Ataíde (conhecido como Mestre Ataíde),
Manuel Francisco Lisboa (pai de Aleijadinho) e Francisco Xavier de Brito.
Escola de Minas de Ouro Preto |
Ouro Preto oferece
aos visitantes alguns espaços dedicados à arte e à história da região. São
museus que ajudam a compreender como Vila
Rica se tornou a atual Ouro Preto
e também a grande influência que a atividade mineradora, a religião e a
escravidão tiveram sobre o povo e o desenvolvimento da região. Para ter uma
ideia geral de Ouro Preto, não deixe
de visitar o Museu da Inconfidência,
onde documentos, mobiliários, obras de arte e peças de época contam mais sobre
o processo que culminou na Independência
do Brasil. Com foco na vocação mineradora de Ouro Preto, o Museu de
Ciência e Técnica da Escola de Minas/UFOPS explica como se desenvolveu
a principal atividade da cidade. Se o interesse for por obras sacras, conheça
o Museu do Oratório, o Museu de Arte Sacra de Ouro Preto e
o Museu Aleijadinho. Para encantar-se
pela arquitetura colonial, vale visitar a Casa
de Thomás Antônio Gonzaga, a Casa dos
Contos, a Casa dos Inconfidentes,
e a Casa da Ópera ou Teatro Municipal de Ouro Preto. A Casa da Ópera
foi construída pelo contratador português João de Souza Lisboa, com o apoio do Conde de Valadares, Governador da Capitania, e de seu
secretário, o poeta Cláudio Manoel da Costa. Situada próximo à Igreja do Carmo, em terreno íngreme,
foi inaugurada em junho de 1770, na comemoração do aniversário do Rei Dom José
I. É o mais antigo teatro em funcionamento da América Latina. A cidade ainda tem instituições que
guardam acervos variados como Museu das
Reduções, Museu do Chá, Museu da Música, Ludo Museu, Museu Casa
Guignard, Museu de Pharmácia, Museu Aberto Cidade Viva além do Museu do Ouro, onde são encontradas
diversas pedras preciosas.
Chafariz do Museu da Inconfidência |
Ouro Preto tem como
grande marca a intensa atividade mineradora no período colonial, quando a
cidade ainda era a famosa Vila Rica.
Pouco resta daquele tempo em que o ouro era o grande produto local. A riqueza
foi embora para a Europa, mas ainda
é possível visitar algumas das minas de onde eram retiradas toneladas de
minérios e pedras preciosas. Durante a visita, os turistas entram nas minas e
ouvem detalhes sobre como era a exploração nos locais e sobre o trabalho
escravo nas minas. Os passeios são acompanhados por guias. As minas estão
localizadas nos jardins de propriedades particulares, portanto tem que pagar. Algumas
das minas mais populares para visitação estão localizadas no Centro Histórico de Ouro Preto,
especialmente na região da Rua Chico Rei.
Por lá, será possível conhecer a Mina do Chico Rei, a Mina Jejê, a Mina du Veloso e
a Mina de Santa Rita.
As visitas são muito semelhantes e no geral acontecem com uma visita guiada por
dentro dos túneis de mineração. Uma mina se destaca das demais por oferecer
um tour diferente. A Mina da
Passagem, localizada na estrada que liga Ouro Preto a Mariana, é
a única mina industrial aberta à visitação na região. Os turistas descem para
os túneis em um carrinho que passa pelos antigos trilhos por onde eram
retiradas as riquezas de Vila Rica.
O passeio é mais interessante, mas o custo também é bem mais alto.
Escola de Minas de Ouro Preto |
Durante
o dia, o programa é desvendar altares e imagens, garimpar peças nos antiquários
e feiras de artesanato em pedra-sabão, bater perna pelas lojas e cafeterias da Rua Direita. Para
tal, não se esqueça dos sapatos confortáveis, que também são bem vindos para
curtir a noite nos bares ou nas festas que agitam as repúblicas de estudantes. As
repúblicas de Ouro Preto estão
espalhadas pela cidade e recebem estudantes de todo o país. Algumas têm décadas
de tradição. E não apenas tradição em bem acolher os estudantes de fora, mas
também tradição festeira. Para se divertir na noite de Ouro Preto, basta bater na porta de uma república e perguntar onde
será a festa do dia. Alguém sempre saberá informar a agenda. Ainda que as
festas sejam constantes, o agito coletivo acontece mesmo é no Carnaval, quando
várias repúblicas oferecem bailes ao mesmo tempo. É lugar para quem deseja
diversão em estágio máximo. O Carnaval em Ouro
Preto é disputado, lotado e, claro, muitíssimo animado!
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Igreja de Nossa Senhora do Carmo |
Para quem gosta muito dos produtos típicos mineiros e não
abre mão de levar alguns doces, queijos e artesanatos para casa, vale conferir
as lojas de Ouro Preto,
especialmente as que estão localizadas na Rua Direita (ou Rua Conde de
Bobadela) e na Rua Claudio Manoel.
Uma visita à Feira do Largo de
Coimbra, de frente para a Igreja de
São Francisco de Assis, também está entre as melhores atrações da cidade.
Por lá, você encontrará grande variedade de artigos típicos, especialmente
artesanatos em pedra sabão. Não deixe também de conferir as lojas de metais e
pedras preciosas ao redor da Praça
Tiradentes. Para que negar? Minas
é mesmo excelente para quem deseja se jogar nas delícias da vida. Então,
renda-se de uma vez e experimente tudo o que há de melhor na culinária mineira,
afinal, in loco é
sempre mais gostoso. Peça uma dose de cachaça local para começar, depois
experimente alguns torresmos e escolha o prato principal entre sabores como
tutu, linguiça, frango com quiabo, costelinha, couve refogada, feijão tropeiro
ou galinha ao molho pardo. É tudo tão saboroso que será difícil desapegar. Ah!
Não se esqueça do docinho caseiro de sobremesa e um cafezinho coado com pão de
queijo no meio da tarde.
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Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos |
Ah! Quanta beleza pode guardar uma janela? Em Ouro Preto, elas são incontáveis! Cada
ângulo, ladeira e sacada da cidade oferece um novo ponto de vista ainda mais
belo. Tudo cercado pela envolvente cadeia de montanhas decorada por casarões
coloniais. Por isso, aproveite cada nova vista para descobrir Ouro Preto. Experimente ver a Igreja de São Francisco de Assis a
partir da Casa de Thomás
Antônio Gonzaga. Suba até o topo da cidade para ver Ouro Preto no Mirante da UFOP ou no Mirante
do Morro São Sebastião. Assista ao pôr do sol no alto da Igreja São Francisco de Paula ou
na varanda do Museu
da UFOP. E sempre repare a vista de todas as igrejas por onde
passar. Cada uma delas permite ver outras várias igrejas de Ouro Preto. E esse é um dos maiores
espetáculos da cidade!
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