quinta-feira, 9 de junho de 2016

Ouro Preto - Barroco

Museu da Inconfidência
Ouro Preto está acima do bem e do mal. Quem não pensa assim não aproveita a cidade. É extremamente humana, por isso mesmo corajosa e cruel. A crueldade está escrita nas paredes intumescidas pela queima de óleo de baleia das antigas minas de ouro. Os escravos eram forçados a entrar em pequenas aberturas e lá ficavam praticamente o dia inteiro, respirando a fumaça das tochas, o suor exausto e o sufocante exalar de urina e fezes. Já a coragem repousa resplandecente no Panteão da Liberdade, onde descansam os restos daqueles que um dia sonharam a Independência de Minas Gerais e, por que não, do Brasil. Em Ouro Preto não há lugar para maniqueísmos. Devemos apenas nos remeter a uma época sem leis, uma sopa caótica de interesses que tomou forma e deu origem à primeira sociedade com características modernas no Brasil. Se nosso país nasceu em algum ponto do litoral, sua concepção como nação se deu em Minas Gerais.

Praça Tiradentes
Ouro Preto é um município brasileiro localizado no Estado de Minas Gerais, na Região Sudeste do país, a 1179 metros acima do nível do mar. Ouro Preto localiza-se em uma das principais áreas do ciclo do ouro. Oficialmente, foram enviadas a Portugal 800 toneladas de ouro no século XVIII, isso sem contar o que circulou de maneira ilegal, nem o que permaneceu na Colônia, como por exemplo, o ouro empregado na ornamentação das igrejas. O município chegou a ser a cidade mais populosa da América Latina, contando com cerca de 40 mil pessoas em 1730 e, décadas após, 80 mil. Àquela época, a população de Nova York era de menos da metade desse número de habitantes e a população de São Paulo não ultrapassava oito mil. Em meio às ladeiras de paralelepípedo que recortam toda a antiga Vila Rica, estão ainda chafarizes, capelas, museus e um belo casario colonial que guardam e contam histórias dos séculos XVII e XVIII, épocas da pujança das minas e da Inconfidência Mineira.

Igreja São Francisco de Assis
De nada adianta todo o ouro do mundo se não é possível ostentá-lo. Não foi diferente na Vila Rica. A fé foi uma das válvulas de escape para o poder acumulado por setores da emergente sociedade mineira do século XVIII. A ordem dos poderosos, dos negros, dos pardos etc., cada qual tinha por finalidade construir a mais bela igreja, demonstrar sua força e influência. Deu-se início a um tipo de competição não declarada, cujo combustível era o metal amarelo, que se esparramou por altares, imagens e demais instrumentos litúrgicos. Minas Gerais vivia uma espécie de renascimento, onde figuravam mecenas, desabrochavam as artes e nasciam gênios. As igrejas barrocas e o casario colonial de Ouro Preto só voltaram a ficar evidenciados de forma positiva pelo Movimento Modernista, na década de 1920. Nesse momento, as obras de Aleijadinho e Mestre Ataíde passaram a ser vistas como manifestações primeiras de uma cultura genuinamente brasileira. O próprio tombamento da cidade faz parte do projeto de construção da nacionalidade brasileira, sendo o primeiro local do país considerado Monumento Nacional. O título de Patrimônio Histórico da Humanidade não foi concedido por acaso a Ouro Preto. Recentemente, Ouro Preto foi eleita uma das Sete Maravilhas Brasileiras

Igreja Nossa Senhora do Carmo
Enquanto o carro percorre a sinuosa estrada que leva até Ouro Preto, os olhos dos viajantes seguem atentos à incrível Serra do Espinhaço. O sobe e desce das montanhas anuncia o lindo e bucólico cenário que envolve a antiga cidade de Vila Rica. Entre as paisagens naturais do Pico do Itacolomy e as igrejas barrocas do século XVIII, a luz do sol encontra espaço e ilumina os casarões coloniais que tomam conta das ladeiras de Ouro Preto. O lugar, que já foi palco da incessante corrida em busca de ouro e intenso trabalho escravo, hoje resguarda parte importante da história do Brasil e recebe milhares de visitantes em busca de algumas das mais belas atrações turísticas de Minas Gerais e do país.

Igreja Nossa Senhora das 
Mercês e Misericórdia
Ouro Preto é o típico destino que pode ser visitado em um ou 10 dias. Ouro Preto consegue manter os viajantes que chegam à cidade entretidos por muitos dias. Localizada a apenas 100 quilômetros da capital Belo Horizonte, Ouro Preto é ótima pedida para um passeio de bate e volta e também para dias de intenso mergulho na história e arte do Brasil. São dezenas de pontos turísticos a serem visitados, belas cidades nas redondezas, muitos mirantes que merecem paradas fotográficas e, claro, incontáveis comidinhas mineiras a serem experimentadas. Faltará tempo para tantas atrações. Caso você esteja organizando uma viagem curta, de apenas um final de semana, o melhor é focar no essencial de Ouro Preto para não ficar perdido entre tantas igrejas, museus, minas e povoados encantadores. Caso tenha mais tempo, aproveite para conhecer a arte e arquitetura de Ouro Preto por dentro, não apenas as fachadas. A paisagem de Ouro Preto é deslumbrante, mas é no interior das igrejas e casarões que estão alguns dos maiores tesouros locais.

Teatro Municipal de Ouro Preto - Casa da Ópera
Por ser uma região turística e sempre receber visitantes, Ouro Preto oferece muitas opções de hospedagem. Para quem prefere ficar próximo aos pontos turísticos, o lugar ideal para ficar é mesmo ali pelo Centro Histórico. Como a região é repleta de ladeiras, é importante verificar se o hotel escolhido fica no topo de uma delas, pois será bastante cansativo subir e descer todos os dias. Outro detalhe a ser observado é a estrutura física do estabelecimento, uma vez que os imóveis da cidade são muito antigos e carentes de reforma. Pode ter certeza de que você vai se impressionar com as construções e fachadas das casas, todas coloridas e bem preservadas. Força nas pernas para o sobe-desce e câmera nas mãos para fazer as mais belas fotos de Ouro Preto. Ao caminhar pelas ruas dá até para se sentir um pouco no século XVIII, quando a região foi uma das mais importantes do país. A maioria dos visitantes, incluindo eu, prefere circular a pé pelo Centro Histórico, visitando os principais pontos turísticos. Com certeza, é a melhor forma de observar cada detalhe da arquitetura colonial da região.

Observatório Astronômico da Escola de Minas
Entrar nas igrejas de Ouro Preto é como visitar museus. Cada uma reserva uma obra especial. A tarefa, no entanto, pode não ser fácil. Muitas vezes, as igrejas não têm horário regular de abertura, estão fechadas para restauração ou cobram ingressos para visita. Na verdade, quase todas as igrejas de Ouro Preto exigem pagamento para serem visitadas por dentro e quase nunca é permitido o registro fotográfico. Por isso, prepare-se para trazer recordações dos belos altares e pinturas no teto apenas na lembrança. Ouro Preto oferece ao menos 20 igrejas e capelas para visitação. Como o número é muito alto e quase sempre o tempo é muito curto, é preciso priorizar a visita. Sendo assim, comece o tour pelas igrejas de Ouro Preto visitando as mais significativas em termos históricos e artísticos. 

Casa onde viveu o poeta Thomás Antônio Gonzaga
Entre as igrejas imperdíveis da cidade estão a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, ornamentada com mais de 400 quilos de ouro; a Igreja de São Francisco de Assis, considerada o ícone do estilo no país e obra-prima de Aleijadinho; a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Igreja de Santa Efigênia e a Capela do Padre Faria. Ainda que essas igrejas estejam entre as mais belas, elas não são as únicas. Ao caminhar por Ouro Preto e se deparar com outras igrejas, não deixe de entrar para descobrir o interior delas. Nenhuma outra cidade de Minas Gerais tem oferta tão grande de belas igrejas abertas à visitação. E elas não são importantes apenas pela questão religiosa. Muitas igrejas de Ouro Preto são verdadeiras obras de arte e exemplares magníficos da arquitetura colonial. Percorrê-las é um presente para os olhos. Grandes nomes da arte barroca mineira trabalharam em projetos dos edifícios, esculturas e pinturas das igrejas setecentistas. Entre os artistas mais importantes está Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Além dele, destacam-se também Manuel da Costa Ataíde (conhecido como Mestre Ataíde), Manuel Francisco Lisboa (pai de Aleijadinho) e Francisco Xavier de Brito. 

Escola de Minas de Ouro Preto
Ouro Preto oferece aos visitantes alguns espaços dedicados à arte e à história da região. São museus que ajudam a compreender como Vila Rica se tornou a atual Ouro Preto e também a grande influência que a atividade mineradora, a religião e a escravidão tiveram sobre o povo e o desenvolvimento da região. Para ter uma ideia geral de Ouro Preto, não deixe de visitar o Museu da Inconfidência, onde documentos, mobiliários, obras de arte e peças de época contam mais sobre o processo que culminou na Independência do Brasil. Com foco na vocação mineradora de Ouro Preto, o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas/UFOPS explica como se desenvolveu a principal atividade da cidade. Se o interesse for por obras sacras, conheça o Museu do Oratório, o Museu de Arte Sacra de Ouro Preto e o Museu Aleijadinho. Para encantar-se pela arquitetura colonial, vale visitar a Casa de Thomás Antônio Gonzaga, a Casa dos Contos, a Casa dos Inconfidentes, e a Casa da Ópera ou Teatro Municipal de Ouro Preto. A Casa da Ópera foi construída pelo contratador português João de Souza Lisboa, com o apoio do Conde de Valadares, Governador da Capitania, e de seu secretário, o poeta Cláudio Manoel da Costa. Situada próximo à Igreja do Carmo, em terreno íngreme, foi inaugurada em junho de 1770, na comemoração do aniversário do Rei Dom José I. É o mais antigo teatro em funcionamento da América Latina. A cidade ainda tem instituições que guardam acervos variados como Museu das Reduções, Museu do Chá, Museu da Música, Ludo Museu, Museu Casa Guignard, Museu de Pharmácia, Museu Aberto Cidade Viva além do Museu do Ouro, onde são encontradas diversas pedras preciosas. 

Chafariz do Museu da Inconfidência
Ouro Preto tem como grande marca a intensa atividade mineradora no período colonial, quando a cidade ainda era a famosa Vila Rica. Pouco resta daquele tempo em que o ouro era o grande produto local. A riqueza foi embora para a Europa, mas ainda é possível visitar algumas das minas de onde eram retiradas toneladas de minérios e pedras preciosas. Durante a visita, os turistas entram nas minas e ouvem detalhes sobre como era a exploração nos locais e sobre o trabalho escravo nas minas. Os passeios são acompanhados por guias. As minas estão localizadas nos jardins de propriedades particulares, portanto tem que pagar. Algumas das minas mais populares para visitação estão localizadas no Centro Histórico de Ouro Preto, especialmente na região da Rua Chico Rei. Por lá, será possível conhecer a Mina do Chico Rei, a Mina Jejê, a Mina du Veloso e a Mina de Santa Rita. As visitas são muito semelhantes e no geral acontecem com uma visita guiada por dentro dos túneis de mineração. Uma mina se destaca das demais por oferecer um tour diferente. A Mina da Passagem, localizada na estrada que liga Ouro Preto a Mariana, é a única mina industrial aberta à visitação na região. Os turistas descem para os túneis em um carrinho que passa pelos antigos trilhos por onde eram retiradas as riquezas de Vila Rica. O passeio é mais interessante, mas o custo também é bem mais alto. 

Escola de Minas de Ouro Preto
Durante o dia, o programa é desvendar altares e imagens, garimpar peças nos antiquários e feiras de artesanato em pedra-sabão, bater perna pelas lojas e cafeterias da Rua Direita. Para tal, não se esqueça dos sapatos confortáveis, que também são bem vindos para curtir a noite nos bares ou nas festas que agitam as repúblicas de estudantes. As repúblicas de Ouro Preto estão espalhadas pela cidade e recebem estudantes de todo o país. Algumas têm décadas de tradição. E não apenas tradição em bem acolher os estudantes de fora, mas também tradição festeira. Para se divertir na noite de Ouro Preto, basta bater na porta de uma república e perguntar onde será a festa do dia. Alguém sempre saberá informar a agenda. Ainda que as festas sejam constantes, o agito coletivo acontece mesmo é no Carnaval, quando várias repúblicas oferecem bailes ao mesmo tempo. É lugar para quem deseja diversão em estágio máximo. O Carnaval em Ouro Preto é disputado, lotado e, claro, muitíssimo animado!

Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Para quem gosta muito dos produtos típicos mineiros e não abre mão de levar alguns doces, queijos e artesanatos para casa, vale conferir as lojas de Ouro Preto, especialmente as que estão localizadas na Rua Direita (ou Rua Conde de Bobadela) e na Rua Claudio Manoel. Uma visita à Feira do Largo de Coimbra, de frente para a Igreja de São Francisco de Assis, também está entre as melhores atrações da cidade. Por lá, você encontrará grande variedade de artigos típicos, especialmente artesanatos em pedra sabão. Não deixe também de conferir as lojas de metais e pedras preciosas ao redor da Praça Tiradentes. Para que negar? Minas é mesmo excelente para quem deseja se jogar nas delícias da vida. Então, renda-se de uma vez e experimente tudo o que há de melhor na culinária mineira, afinal, in loco é sempre mais gostoso. Peça uma dose de cachaça local para começar, depois experimente alguns torresmos e escolha o prato principal entre sabores como tutu, linguiça, frango com quiabo, costelinha, couve refogada, feijão tropeiro ou galinha ao molho pardo. É tudo tão saboroso que será difícil desapegar. Ah! Não se esqueça do docinho caseiro de sobremesa e um cafezinho coado com pão de queijo no meio da tarde.

Igreja de Nossa Senhora 
do Rosário dos Pretos
Ah! Quanta beleza pode guardar uma janela? Em Ouro Preto, elas são incontáveis! Cada ângulo, ladeira e sacada da cidade oferece um novo ponto de vista ainda mais belo. Tudo cercado pela envolvente cadeia de montanhas decorada por casarões coloniais. Por isso, aproveite cada nova vista para descobrir Ouro Preto. Experimente ver a Igreja de São Francisco de Assis a partir da Casa de Thomás Antônio Gonzaga. Suba até o topo da cidade para ver Ouro Preto no Mirante da UFOP ou no Mirante do Morro São Sebastião. Assista ao pôr do sol no alto da Igreja São Francisco de Paula ou na varanda do Museu da UFOP. E sempre repare a vista de todas as igrejas por onde passar. Cada uma delas permite ver outras várias igrejas de Ouro Preto. E esse é um dos maiores espetáculos da cidade!

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