sábado, 12 de dezembro de 2015

Barcelona - Basílica de Santa Maria Del Mar

Basílica de Santa Maria Del Mar
Na cidade da Sagrada Família, outras igrejas também merecem seu devido destaque. Representando um perfeito modelo da arquitetura gótica catalã, a Basílica de Santa Maria Del Mar é uma delas. E realmente recomendo a visita. Vale a pena por sua beleza, por sua história, por estar em uma região encantadora da cidade – El Born – e, por ser gratuita. É conhecida também como a Catedral da Ribera. Antigo bairro de pescadores e estivadores, a Ribera tornou-se cada vez mais próspero, demandando a construção de um templo maior para os devotos da Virgem Maria. Mas, como na época a cidade concentrava sua atenção e dinheiro na reconstrução da Catedral, com um caráter bastante mais nobre e rico, restou à população do bairro concentrar força (econômica e braçal) no intuito de erguer aquele que deveria ser o maior templo dedicado à Virgem. Homens que trocaram os sacos de cereais e de tecidos por pedras trazidas do Montijuïc, cujo destino era chegar o mais perto do céu. Por esta ajuda, Santa Maria Del Mar, ainda hoje, rende homenagem a estes trabalhadores que a ajudaram a erguer-se. Por esta preciosa ajuda, Santa Maria Del Mar é conhecida como a “Igreja do povo”.

Porta El Born
Logo após a chegada do cristianismo na colônia romana de Barcino, agora Barcelona, uma pequena comunidade cristã nasceu perto do mar e fora de seus muros. Neste lugar havia uma necrópole cristã onde a mártir Santa Eulália foi enterrada em 303. Este poderia ser o lugar de uma primeira capela que, no início, era conhecida com Santa Maria de las Arenas, que foi ampliada. Há evidências de que no final do século VII o templo existente já tinha o nome da Paróquia de Santa Maria Del Mar. Durante o século XIII, a cidade teve um crescimento intenso. É a época em que os palácios da Rua Montcada foram construídos, onde os ricos comerciantes e nobres viviam. A primeira pedra da igreja foi lançada em março de 1329, sobre as fundações de igrejas anteriores, pelo Rei Afonso IV de Aragão, o Benigno. Tal fato é atestado por uma placa comemorativa localizada numa das fachadas do edifício. O caminho foi árduo. Não só pela empreitada em si, mas por alguns episódios trágicos que marcaram sua história: em 1350 a Igreja já contava com paredes, capelas laterais e fachada. No entanto, 13 anos mais tarde um terremoto que atingiu a cidade derrubou o campanário e, prestes à conclusão do quarto trecho das abóbadas, um incêndio destruiu a Igreja, atingindo tudo aquilo que não fosse de pedra: a sacristia, os órgãos, os altares e o coro. Apesar de a construção ter levado pouco mais de meio século, não houve uma sobreposição de estilos arquitetônicos e o templo é um exemplo único do puro estilo gótico catalão.

Nave da Basílica de Santa Maria Del Mar
Arquitetonicamente, Santa Maria Del Mar é uma Igreja de três naves de altura quase igual (as laterais são apenas um pouco mais baixas que a central) e são compostas por enormes e imponentes colunas de 13 metros de altura separadas com grande distância entre elas, e sem transepto, unificando o espaço numa igreja-salão típica do gótico catalão. As abóbadas são sustentadas por esbeltas colunas octogonais. Um deambulatório ocupa o lado oeste da Igreja. Ressalta-se assim um poderoso ar de amplidão e austeridade, somente quebradas pelos magníficos vitrais. Outro destaque deve ser dado para a acústica, perfeita não só para os atos religiosos, como também para os concertos que já tiveram lugar aí. Dentro dela nos vemos obrigados a olhar para o alto, repetindo um gesto realizado durante seis séculos. Nossos olhos acompanham o percurso das nervuras, que saem do teto, em direção às colunas. Um recurso arquitetônico do estilo gótico para sustentar a altura das construções. Surpreende-nos a altura do interior desta Igreja que nos convida, sem pudor, a olhar o céu. Simples e com pouca ornamentação, sua beleza ganha força com os vitrais que fazem entrar pelas numerosas janelas do templo uma luz intimista e particular. Não sabemos se nos surpreende o interior austero ou a luz que entra pelos vitrais. Mas, sabemos, lá no fundo, que estamos encantados por ela. 

Pilares da Basílica de Santa Maria Del Mar
A simplicidade interior nos leva a perguntar onde estão os altares decorados que um dia ocuparam cada nicho da Igreja? Como tantas outras igrejas de Barcelona, Santa Maria Del Mar não foi poupada da ira dos republicanos. Para atacar o clero, então partidário do grupo nacionalista, em 1936, entraram na Igreja e queimaram os altares. Santa Maria Del Mar queimou por 11 dias seguidos. Um fogo tão forte que fez explodir os vitrais e marcou a Igreja de negro para sempre. Um fogo que trouxe consigo a vingança do vencedor. Franco mandou restaurar a grande rosácea central, com 10 metros de diâmetro, e os vitrais, e nele mandou colocar a imagem de Felipe V, o algoz de Barcelona. O Rei que um dia submeteu Barcelona e que, ironicamente, pretendia derrubar Santa Maria Del Mar.

Basílica de Santa Maria Del Mar
A Imagem da Virgem do Mar, que hoje vemos ao visitar a Catedral, é a mesma que foi colocada ali no período medieval. Santa Maria Del Mar se apresenta um pouco tímida diante dos visitantes, não é glamourosa como a Catedral e nem espetacular como a Sagrada Família, mas as suas pedras, ainda que discretas sussurrem histórias. Uma história que começou em 1329 e se prolonga até hoje. Nesta Igreja encontra-se a Lápide Sepulcral de Pedro de Coimbra, Condestável de Portugal e Rei de Aragão por um breve período, entre 1463 e 1466. Há visitas guiadas às torres, telhado e Cripta de Santa Maria, num tour que dura cerca de uma hora.

Carrer de Montcada
Fora da Igreja, vale a pena destacar alguns detalhes: a fonte gótica de 1402, que possui uma placa da Santa Maria; o Fossar de les Moreres, localizado em frente a uma de suas fachadas laterais, e que representa um espaço de grande importância simbólica aos catalães: com sua tocha com chama sempre acessa, está dedicado à memória dos que morreram defendendo a cidade na Guerra de Sucessão, em 1714; e, finalmente, o Passeig Del Born, um passeio rodeado de bares e cafés, sediando um pouco da vida boêmia e noturna de Barcelona. Também é no Born que ficam o Museu Picasso, o Museu Têxtil, o Mercat Del Born (que é um centro cultural) e o Palau de La Musica Catalana, que merecem a visita. Hoje, El Born é um bairro de ruelas estreitas e prédios antigos, que é mais charmoso e tranquilo que o Bairro Gótico.

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