A planta desenvolvida por Sachetti conservou a forma
tradicional espanhola de pátio central retangular, quase quadrado, com fortes
salientes nos ângulos que recordam as torres do antigo Alcázar. As fachadas
foram inspiradas nas que Bernini realizou para o Palais Du Louvre em 1665. O
alçado das fachadas consta de dois corpos: um corpo inferior almofadado, e
outro superior, de Ordem Jônica, com gigantescas pilastras, rematados por
cornija e balaustrada. Em frente da fachada principal, uma esplanada da forma à
Plaza de Armería semelhante à do
incendiado Alcázar. Situado sobre um terreno com inclinações pronunciadas sobre
o Rio Manzanares, foi
necessário criar um grande sistema de contrafortes para duas das fachadas, pelo
que existe uma série de plataformas escalonadas, que tiveram que ser
construídas para o lado poente, com um sistema interior de abobadamentos que
praticamente chega até ao Rio. Para a sua construção utilizaram-se ladrilhos,
granito de Guadarrama, e calcário de
Colmenar. Na sua estrutura não houve
recurso à madeira por receio de um novo incêndio. No reinado de Fernando
VI, a construção recebeu o seu maior impulso, finalizando-se a obra externa. A
conclusão das obras interiores demorou muitos anos, não podendo o Palácio ser
habitado por Carlos III até ao ano de 1764, embora, nessa época
ainda faltassem as decorações de alguns salões.
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Palacio Real de Madrid |
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Palacio Real de Madrid |
A construção durou, portanto, 26 anos, embora as obras
complementares tenham continuado pelos reinados seguintes, só podendo ser dado
por terminado durante a regência de Dona Maria Cristina de Habsburgo-Lorena (Regente
entre 1885 e 1902). Ante a falta de espaço para as secretarias
de Estado, arquivos e dependências várias, Sachetti recebeu o encargo de
ampliar o Palácio. A ideia original era enquadrar a Praça de Armas com uma série de construções onde se pudessem alojar
as diferentes dependências e ampliar para Norte, seguindo a mesma estrutura do
edifício com uma grande edificação. As obras começaram rapidamente, mas foram
interrompidas pouco depois, tendo os seus alicerces permanecido enterrados na
esplanada que se formou depois e onde posteriormente se construíram as
cavalariças. O último monarca foi Alfonso XIII, em 1931, e Manuel
Azaña o último Chefe de Estado a habitá-lo. Nos seus mais de 150 mil
metros quadrados e exatos 3.418 quartos, o Palácio abriga um valioso Patrimônio Histórico e Artístico,
destacando o quinteto de instrumentos musicais “Stradivarius Palatinos”, datados entre 1700 e 1775, a mais
importante do gênero no mundo, coleções de obras de pintura, escultura e
tapeçaria, de artistas como El Greco, Caravaggio, Velázquez e Goya, além de
porcelanas, relógios, mobiliário e prataria. Também são mantidas no Palácio
diversas coleções Reais de grande importância histórica, incluindo a Armaria Real, com armas
e armaduras que datam do século XIII em diante.
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Troca de Guarda do Palacio Real de Madrid |
A Escadaria Principal
é o resultado de uma modificação de Sabatini sobre o projeto original de
Sachetti, que a havia desenhado com outro tramo idêntico. A reforma realizou-se
por desejo de Carlos III, já que lhe parecia inadequado o ingresso às
habitações Reais, uma vez que com a Escadaria dupla não havia mais que uma
obscura passagem que dava acesso aos salões oficiais a partir da Escadaria. Além
disso, com esta modificação, podia usar-se o espaço do tramo encerrado para
construir um grande Salão de Baile,
atualmente conhecido como Salão de
Colunas. Os degraus da Escadaria, fabricados em mármore de San
Pablo (Toledo), estão lavrados, cada
um, numa única peça de cinco metros de comprimento e escassa altura, tendo,
portanto, uma subida pouco pronunciada. A Escadaria tem um único braço desde a
sua base até ao primeiro patamar, onde se divide em dois braços paralelos com
balaustrada, a qual está adornada com leões de mármore, obra de Felipe de Castro e Roberto
Michel. A abóbada está decorada com estuques brancos e dourados, além de
pinturas de Corrado Gioquinto, chamado por Fernando VI para a
composição pictórica que representa "O Triunfo da Religião e da
Igreja".
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Monumento a Filipe IV na Plaza de Oriente, com o Palacio Real de Madrid ao fundo |
A arquitetura do Salão
de Colunas é igual à da Escadaria
Principal, já que resultou da caixa projetada por Sachetti. Foi utilizada
para a celebração de bailes e banquetes até 1879. Nesse ano, foi usado
para o velório da Rainha Maria de las Mercedes, esposa de Alfonso XII,
tendo-se decidido construir um novo Salão
de Baile, que é atualmente a Sala de
Refeições de Gala. Também se celebrava neste Salão o cerimonial do "Lavatório e Comida de Pobres", na
Quinta-feira Santa, dia em que o Rei e a Rainha, ante Grandes de Espanha,
Ministros, corpo diplomático e hierarquia eclesiástica, davam de comer e
lavavam os pés a 25 pobres. O Salão
de Gasparini é um dos mais formosos salões do Palácio, tendo sido construído
durante o reinado de Carlos III e chegado aos nossos dias
praticamente sem nenhuma alteração. Era o lugar onde o Rei se vestia em
presença da Corte, segundo o costume da época. A sua decoração apresenta grandes
originalidades do tipo chinoiserie em estilo rococó, tendo sido
realizada por Matías Gasparini. Com os seus 150 metros quadrados, é um dos
maiores salões do Palácio. Na sua decoração cabe destacar o relógio situado
sobre a chaminé, obra de Pierre Jacquet Droz, com figuras vestidas à moda
do século XVIII, que bailam quando, ao dar as horas, um pastor sentado
toca flauta. Nos jantares de gala oferecidos pelos reis, é neste Salão que se
servem o café e os licores.
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Escadaria Principal |
A Saleta de Porcelana tem as paredes e o teto completamente
recobertos por placas de porcelana, sujeitas a uma armação interior de
madeira, montadas de tal forma que as suas uniões ficam dissimuladas entre
adornos de telas e entalhes a imitar porcelana. É obra da primeira etapa da Fábrica do Buen Retiro, a sua fase de
maior esplendor. Foi construída entre 1765 e 1770, pelos mesmos
que realizaram o Salão de Porcelana
do Palacio de Aranjuez. A Saleta de Porcelana foi executada num
estilo rococó mais próximo do neoclassicismo, com o uso de cores mais sóbrias. O
piso foi construído sobre um desenho de Gasparini. A Sala de Refeições de Gala, com uma superfície de 400 metros
quadrados, é formada por três divisões que constituíam o "Quarto da Rainha" María
Amalia de Sajonia, esposa de Carlos III, a qual nunca as chegou a utilizar
por falecer antes da sua finalização. A sua construção foi ordenada pelo
Rei Alfonso XII para usá-la como Salão
de Baile e nova Sala de Refeições,
utilizando-se pela primeira vez quando do seu segundo matrimônio,
com Maria Cristina de Habsburgo-Lorena, no ano de 1879. Está decorada com
tapetes de Bruxelas do século XVI,
jarras de porcelana chinesa do século XVIII e peças da vila francesa de Sèvres.
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Salão do Trono |
O Salão dos Espelhos era utilizado como toucador da Rainha Maria
Luísa de Parma, esposa
de Carlos IV, num estilo neoclássico, sendo um dos salões mais belos do
Palácio, para o que contribuem os rodapés de mármore rosado e os
paramentos das paredes, cobertos por uma fina ornamentação em estuque na qual
predomina o branco e o azul. Os grandes espelhos que dão nome ao Salão estão
guarnecidos com ouro e azul, rodeados de estuques coloridos sobre fundo branco
com motivos vegetais. Nesta sala cabe destacar o velador central,
de mogno e bronze dourado, construído por Thomiere
em 1788. A Família Real
utilizou-o nos tempos de Alfonso XIII como Salão de Música.
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Sala de Refeições de Gala |
O Salão do Trono, conhecido no século XVIII como "Salão de Embaixadores" ou "Salão de Reinos", conserva o
aspecto da época da sua decoração durante o reinado de Carlos III. O Salão
é presidido por dois tronos com as esfinges dos atuais Reis de Espanha, os quais são cópia
exata do trono da época de Carlos III. Todo o Salão está atapetado em veludo
encarnado com orlas de estilo rococó de prata dourada trazidas de Nápoles. De ambos os lados do trono
situam-se quatro leões de bronze dourados construídos para Filipe
IV e que, juntamente com outros oito que se conservam no Museo Del Prado, foram usados na
decoração do Salão de Reinos do
anterior Alcázar. Decoram o Salão, 12 consoles dourados de estilo rococó
acompanhados, cada um deles, com os seus espelhos correspondentes construídos
na Real Fábrica de Cristais da Granja.
Tanto os espelhos como os consoles apresentam diferente desenho dentro de uma
unidade de traçado. Os consoles foram desenhados por Ventura Rodríguez para
ocupar o mesmo lugar onde continuam colocados na atualidade. Representam,
juntamente com os espelhos, as quatro estações do ano, os quatro elementos e os
quatro continentes conhecidos naquele momento. Peças importantes são
as estátuas, algumas delas esculpidas em Roma por discípulos de Bernini e trazidas por
Velázquez por encomenda de Filipe IV. As aranhas que iluminam este Salão datam
da época de Carlos III e foram executadas em prata e compostas por
contas de cristal de rocha engastadas com fio de prata. Na abóbada
destaca-se a alegoria pintada por Tiépolo em 1764 e que representa "A Grandeza da Monarquia Espanhola".
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Saleta de Porcelana |
A Capela Real situa-se ao centro do lado Norte do andar principal do
Palácio. Tem acesso a partir da galeria que rodeia o pátio central, sendo um
dos pontos mais interessantes do ponto de vista arquitetônico. A planta é do
tipo central ou elíptica, estando coroada por uma cúpula de meia lua.
Por último, 16 colunas de mármore negro de uma única peça, coroadas com
capiteis em estuque dourado, estão adossadas a cada um dos ângulos que
descrevem a planta, salvo no átrio, que apresenta pilastras negras que imitam o
mármore. A distribuição da Capela é clássica; enquanto a Leste se situa o Altar-mor de mármore, a Norte, o Altar do Evangelho, a Oeste o
órgão, e o átrio é o vestíbulo. Os Assentos
Reais ficam no lado Norte, próximo do Altar-mor
à sua direita. Sobre o Altar-mor
existe um quadro do “Arcanjo São Miguel
Bayeu”, abaixo do Altar do Evangelho
encontram-se as relíquias de São Felix, e acima o quadro da “Anunciação de Mengs”. O dossel e as
poltronas dos soberanos são da época do Rei Fernando VI e foram colocados
fundo branco com bordaduras de prata e sedas coloridas. O órgão, construído
em 1778, é considerado como uma autêntica obra prima.
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Armeria Real |
A Real Biblioteca ocupa o ângulo noroeste do Palácio e consta de dois
andares mobilados com estantes de mogno. As suas coleções constam de
livros, medalhas e moedas em número de 300 mil obras impressas, 4.000 manuscritos,
3.000 obras musicais, 3.500 mapas, 200 gravuras e desenhos, e cerca de 2.000
moedas e medalhas. O seu catálogo está informatizado, e pode ser consultado
através da página oficial da Real Biblioteca. A Real Biblioteca é a que, com os nomes
de Real Particular ou de Câmara, serviu como Biblioteca Particular dos Reis da Casa de Bourbon
desde a chegada de Filipe V. A Biblioteca
Particular dos Reis continuou a crescer, deslocando-se com os seus
proprietários durante os anos que durou a construção do novo Palácio depois do
incêndio do Real Alcázar em 1734.
Os inventários conservados da época de Carlos III revelam o predomínio
do livro impresso na Biblioteca, embora se deva à iniciativa deste monarca a
incorporação na Real Biblioteca da
coleção de manuscritos de idiomas da América,
reunidos por Celestino Mutis em 1787. As aquisições
de livros mais notáveis correspondem ao reinado de Carlos IV.
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Cozinha Real |
Os aposentos privados
foram utilizados como residência, propriamente dita, dos soberanos Isabel
II, Alfonso XII e Alfonso XIII. Ocupando o prolongamento (Ala de San Gil) feito por Sabatini, em volta
da Plaza de La Armería e da Calle de Bailén, são de menor tamanho
que o resto das habitações do Palácio e possuem uma decoração mais
"burguesa”. O que conserva o Palácio são os restos da grande Coleção Real,
uma vez que a maior parte passou a formar parte do Museo Del Prado no século XIX. Conta-se que Fernando VII decretou a
fundação do Prado para desfazer-se de tantos quadros, pois preferia decorar o Palácio
com papéis pintados e candeeiros, à moda francesa. Além dos valiosos afrescos
de Tiepolo e outros, destacam-se no Palácio vários quadros de Francisco de
Goya, como dois pares de retratos, com diferentes trajes, de Carlos
IV e sua esposa, Maria Luísa de Parma.
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Aposentos Reais |
No Palácio
Real as séries de esculturas são de importância menor em relação à coleção
de pintura, mas a série do século XVII, procedente do anterior Alcázar, é
de um caráter excepcional. Os principais escultores representados são Mariano
Benlliure, Gian Lorenzo Bernini, Antoine Coysevox e Agustín Querol. Sobressai a
série "Os Planetas" do Salão do Trono. O grande valor do
mobiliário do Palácio reside na sua autenticidade, pois são muito poucos os
móveis de estilo moderno presentes nos seus salões (situados principalmente nos
aposentos privados). A maior parte dos móveis corresponde à época de construção
do Palácio e reinados sucessivos, mostrando uma série ininterrupta de estilos
rococó, neoclássico, império e isabelino. Algumas das séries de móveis mais
importantes encontram-se nos Salões de
Gasparini, Trono e Espelhos. Cabe destacar "A Mesa das Esfinges", de estilo
império, situada no Salão de Colunas,
sobre a qual se assinou a entrada da Espanha
na União Europeia.
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Capela Real |
Considerada
a maior e melhor coleção de relógios da Espanha, também é uma das principais no mundo. O relógio denominado
de "El Calvário", do século
XVII e construído em Nuremberg,
é o mais antigo, enquanto a existência de muitos relógios da época império se
deve à paixão pelos relógios de Carlos IV. Há a destacar um relógio
oferecido pelo Presidente do Peru ao Rei Alfonso XIII em 1906,
e construído em 1878, pela riqueza de materiais usados para a sua
elaboração, como o ouro, prata, marfim etc. A importância da coleção de
relógios radica, sobretudo nos relógios de época em estilo rococó, construídos
para o Rei Fernando VI pelo relojoeiro suíço Jacquet Droz.
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Campo Del Moro e Palacio Real de Madrid ao fundo |
Durante o reinado
de Filipe II, a Real Farmácia
se converteu num apêndice da Casa Real
com ordem para abastecê-la de medicamentos, função que ainda mantém. A Real Farmácia que existe na atualidade
foi fundada como Museu de Farmácia
em 1964. As salas de destilação e as duas salas adjacentes à Farmácia
foram reconstruídas tal como eram durante os reinados de Alfonso
XII e Alfonso XIII. Os frascos são anteriores e foram fabricados nas Fábricas da Granja de San Ildefonso e
de Porcelana do Buen Retiro, mas
também existem utensílios fabricados em louça de Talavera no século XVII. Considerada, juntamente com a Armaria Imperial de Viena como
uma das melhores do mundo, a Armaria
Real é formada por peças que vão do século XV em diante. São de
destacar as peças de torneio feitas para Carlos V e I e Filipe
II pelos principais mestres armeiros de Milão e Augsburg.
Entre as peças mais apelativas sobressaem a armadura e instrumentos completos
que o Imperador Carlos V e I empregou na Batalha de Mühlberg, e com os quais foi retratado
por Tiziano no famoso retrato equestre do Museo Del Prado. Infelizmente, partes da Armaria perderam-se durante
a Guerra Peninsular e
a Guerra Civil Espanhola.
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Palacio Real de Madrid e Jardines de Sabatini |
Do lado de fora, o Palacio
Real é rodeado por dois espetaculares jardins, que formam um oásis no meio
da cidade: com mais de 900 anos (foi lá onde acamparam as tropas árabes que
sitiaram o Alcazar em 1109), o Campo Del Moro reúne fontes, estátuas,
jardins e construções históricas, além de vasta flora – são mais de 70 espécies
de árvores, alguns exemplares com mais de 150 anos, e rica fauna – animais como
pavão e o faisão podem ser facilmente encontrados por lá. O atual desenho data
de 1890, quando o Campo Del Moro foi
restaurado e convertido num jardim paisagista.
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