Canal do Panamá - Lado do Oceano Pacífico |
Poucos países são tão
definidos por uma única obra humana como o Panamá.
Atalho para a Ásia, o Canal do Panamá foi a materialização de
um antigo sonho da navegação do mundo ocidental. O Canal do Panamá é um canal artificial de navios com 71,1 quilômetros de extensão,
localizado no Panamá e que liga o Oceano Atlântico (através do Mar do Caribe) ao Oceano Pacífico. O canal atravessa o Istmo
do Panamá e é uma travessia
chave para o comércio marítimo internacional. Há bloqueios e eclusas em cada extremidade da travessia para
levantar os navios até o Lago Gatún, um lago artificial criado para reduzir a quantidade de
trabalho necessário para a escavação do Canal e que está localizado 26 metros
acima do nível do mar. Os
bloqueios iniciais tinham 33,5 metros de largura. Uma terceira faixa de eclusas,
mais larga, foi construída entre 2007 e 2016. A Sociedade Americana de Engenheiros Civis classificou o Canal do Panamá como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.
Canal do Panamá - lado do Oceano Pacífico |
Com o sucesso da
construção do Canal de Suez, ligando
o Mar Mediterrâneo ao Golfo de Suez, era a vez de facilitar a
vida dos ianques que tinham de viajar até as gélidas águas do Estreito
de Magalhães no extremo
sul da América para viajar da costa
leste à costa oeste numa travessia arriscada, cara e longa: eram mais de 15 mil
quilômetros a percorrer. Em 1878, o francês Ferdinand de Lesseps, construtor do
Canal de Suez, conseguiu a permissão
dos britânicos, a quem a região pertencia à época, anulando o Tratado de Clayton Bulwer segundo o
qual ambos se comprometiam a não iniciar a construção sem o consentimento
mútuo, autorizando a sua companhia a iniciar as obras de abertura do Canal. O
projeto de Lesseps constituía-se na abertura de um Canal ao nível do mar.
Entretanto, na prática, os seus engenheiros nunca conseguiram uma solução
prática para o problema do curso do Rio
Chagres, que atravessava em diversos pontos o traçado projetado para o
Canal. Além disso, a abertura deste ao nível do mar implicava na completa
drenagem daquele rio, um desafio para a engenharia da época.
Navio chegando na Eclusa de Miraflores (Eclusa cheia) |
A França começou a construir o Canal em 1880, com
base na experiência do Suez.
Entretanto, as diferenças de tipo de terreno, relevo e clima constituíram-se em
desafios consideráveis. Chuvas torrenciais, enchentes, desmoronamentos e
altíssimas taxas de mortalidade de trabalhadores devido a doenças tropicais,
principalmente a malária e a febre amarela, causaram demoras imprevistas no
projeto original. Foi nessa época que se descobriu que a malária e a febre
amarela eram transmitidas por mosquitos, o que facilitou o trabalho de combate
às enfermidades. Em
1885, o plano inicial de um canal ao nível do mar foi alterado, passando a
incluir uma comporta. Mas, após quatro anos de investimentos e trabalho, a
companhia veio a falir. À época da construção, a posse do
território onde está o Canal era dos colombianos, depois, dos franceses e dos
estadunidenses.
Navio chegando na Eclusa de Miraflores (Eclusa vazia) |
O presidente americano Theodore Roosevelt estava
convencido de que os Estados Unidos
podiam terminar o projeto, e reconheceu que o controle estadunidense da
passagem do Atlântico ao Pacífico seria de uma importância
militar e econômica considerável. O presidente americano ofereceu 40 milhões de
dólares ao engenheiro que trabalhara com Lesseps e que havia fundado a Compagnie Nouvelle Du Canal de Panama encarregada
de vender o espólio da falida empresa de Ferdinand, pelo direito de continuar a
construção. Mas, mesmo depois de ter conseguido, através dos Tratados Hay-Paucefote, que a Inglaterra abrisse mão de ser sócia na construção
do Canal e permitisse que os Estados Unidos
construíssem uma base militar na região. Os americanos tinham uma pedra pelo caminho:
a Colômbia queria mais dinheiro pela
companhia francesa. O Panamá fazia
então parte da Colômbia, de modo que
Roosevelt começou as negociações com os colombianos para obter a permissão
necessária. No início de 1903, o Tratado
Hay-Herran foi assinado pelos dois países, mas o Senado colombiano não o
ratificou. No que foi então, e ainda hoje é, um movimento polêmico, Roosevelt
deu a entender aos rebeldes panamenhos que, se eles se revoltassem contra a Colômbia, a marinha estadunidense
apoiaria a causa da independência panamenha.
Eclusa de Miraflores |
O Panamá
acabou por proclamar sua independência em novembro de 1903, e a canhoneira USS Nashville, em águas panamenhas,
impediu toda e qualquer interferência colombiana. Quando as lutas começaram,
Roosevelt ordenou à marinha estadunidense estacionar navios de guerra perto da
costa panamenha para “exercícios de treinamento”. Muitos argumentaram que o
medo de uma guerra contra os Estados Unidos obrigou os colombianos a evitar uma
oposição séria ao movimento de independência. Entretanto, como tudo na vida
americana, a construção do Canal tinha motivos um pouco menos altruístas que
simplesmente facilitar a navegação interoceânica. Como retribuição pela “ajuda”, o governo panamenho concedeu o
direito de construção e controle da Zona
do Canal do Panamá de 1904 até 1999 aos Estados Unidos, como previsto no Tratado Hay-Bunau-Varilla (Isthmian
Canal Convention), assinado em novembro de 1903.
Abertura da Eclusa de Miraflores |
Os Estados Unidos assumiram o projeto em 1904 e levaram uma década
para concluir o Canal, que foi inaugurado oficialmente em agosto de 1914. O
primeiro engenheiro-chefe do projeto foi John Findlay Wallace. Prejudicado
pelas doenças e pela escassa organização, sem condições de trabalho, acabou por
se demitir após um ano. O segundo engenheiro-chefe, John Frank Stevens, optou
pela construção de um Canal com eclusas, propondo-se a controlar o curso do Rio Chagres por meio de um aterro de
grandes dimensões, formando uma barragem de Gatún. O lago artificial assim formado não apenas forneceria a água
e a energia elétrica necessária à operação das eclusas, como também
constituiria uma via líquida, que cobriria um terço da distância no istmo. Stevens
conseguiu construir a maior parte da infraestrutura necessária para as obras,
incluindo a construção de casas para os trabalhadores, a reconstrução da
ferrovia do Panamá destinada ao
transporte de carga pesada e o projeto de um método eficiente de remoção de
entulho decorrente do desmonte de rochas pela ferrovia. Viria a demitir-se, por
sua vez, em 1907.
Passagem do navio pelo Canal do Panamá |
Nesta etapa, o grande
sucesso dos Estados Unidos foi a
erradicação do mosquito transmissor da febre amarela, que havia vitimado cerca
de 20 mil trabalhadores franceses. Com base nos trabalhos do médico cubano Juan
Carlos Finlay, Walter Reed havia descoberto em Cuba, durante a Guerra
Hispano-Americana, que a doença era transmitida por mosquitos. Desse modo,
as novas medidas sanitárias introduzidas pelo Dr. William C. Dorgas eliminaram
a febre amarela e melhoraram as condições de higiene e trabalho. O terceiro e
último engenheiro-chefe foi o Coronel George Washington Goethals. Sob a sua
direção, os trabalhos de engenharia foram divididos entre a construção de
represas, de eclusas e de lagos em ambos os lados, e o grande trabalho de
escavação através da falha continental em Culebra
(Passo de Culebra, hoje
conhecido como Falha de Gaillard).
Passagem do navio pelo Canal do Panamá |
Após 10 anos de
trabalho e da escavação de um volume de material quase quatro vezes maior do
que o inicialmente projetado, o Canal foi finalmente concluído em outubro de
1913, com a presença do presidente americano Woodrow Wilson, que naquela data
apertou o botão para a explosão do Dique
de Gamboa. Concluídas as obras complementares, quando o Canal entrou
finalmente em atividade, em agosto de 1914, constituía-se numa maravilha
tecnológica. A complexa série de eclusas permitia até mesmo a passagem dos
maiores navios de sua época. O Canal foi um triunfo estratégico e militar
importantíssimo para os Estados Unidos,
e revolucionou os padrões de transporte marítimo.
Passagem do navio pelo Canal do Panamá |
Um dos maiores e mais
difíceis projetos de engenharia já realizados, o Canal do Panamá reduziu muito o tempo de viagem para se cruzar os Oceanos Atlântico e Pacífico de navio, o que permitiu evitar a longa e perigosa rota
do Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul, através da Passagem de Drake ou do Estreito de Magalhães. A passagem mais
curta, mais rápida e mais segura para a Costa
Oeste dos Estados Unidos e para os países banhados pelo Pacífico, permitiu que essas regiões se
tornassem mais integradas à economia mundial. O tempo aproximado para cruzar o
Canal varia entre 20 e 30 horas.
Passagem do navio pelo Canal do Panamá |
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Canal serviu
de base para os navios norte-americanos que partiam em direção ao Japão, após sua frota militar ser
devastada no Pacífico pelo ataque a Pearl Harbour em dezembro de 1941. Alguns
dos maiores navios que os Estados Unidos
tiveram que enviar pelo Canal foram porta-aviões, em particular o USS Essex. Estes eram tão largos que,
apesar de as eclusas poderem contê-los, os postes de luz que ladeiam o Canal
tiveram que ser removidos para que pudessem passar. Atualmente, os maiores
navios que podem atravessar o Canal são conhecidos como Post-Panamax. Nessa época, os Estados
Unidos chegaram a ter cerca de 65 mil soldados na região. Na década de 1990,
não passavam de 10 mil.
Passagem do navio pelo Canal do Panamá |
O Canal e a Zona
do Canal em torno foram administrados pelos Estados Unidos até 1999, quando o controle foi passado ao Panamá, como previsto pelos Tratados de Torrijos-Carter, assinados
em setembro de 1977, nos quais o Presidente
dos Estados Unidos Jimmy Carter cede aos pedidos de controle panamenhos. Os
Tratados previam uma passagem gradual do controle aos panamenhos, que se terminou
pelo controle total do Canal pelo Panamá
em dezembro de 1999. O Panamá tem,
desde então melhorado o Canal, quebrando recordes de tráfego, financeiros e de
segurança ano após ano.
O Canal do
Panamá possui dois grupos de eclusas no lado do Pacífico (Pedro Miguel e
Miraflores) e outro grupo no lado do Atlântico
(Gatún). No grupo que consiste em um
par de eclusas paralelas em Gatún,
as embarcações são elevadas ou rebaixadas em três níveis, totalizando nessa
etapa 26 metros. Cada eclusa desse primeiro grupo
mede 300 metros de comprimento e conta com paredes com 15 metros de espessura
na base e três metros no topo. Já a parede central entre as eclusas mede 18
metros de espessura e 24 metros de altura. Com respeito às portas, elas são
feitas de aço maciço e contam com, em média, dois metros de espessura e 19,5
metros de comprimento, alcançando 20 metros de altura. As bufas maciças de aço
das eclusas triplas de Gatún têm 140
metros de altura e pesam 745 toneladas cada uma, mas são tão bem
contrabalançadas que um motor de 56 KW é suficiente para abri-las e reabri-las.
Cada conjunto de comportas é acompanhado por bacias de reutilização de água, com
dimensões de 430 metros de comprimento, 70 metros de largura e 5,5 metros de
profundidade. Tal arranjo permite coletar gravitacionalmente a água utilizada
no tráfego pelas comportas, num reaproveitamento de 60%.
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Um Navio de Cruzeiro atravessando o Canal do Panamá |
O Lago
Gatún, que fica a 26 metros acima do nível
do mar, é alimentado pelo Rio Chagres, onde foi construída uma
barragem para a formação do Lago. Do Lago
Gatún, o Canal passa pela Falha de Gaillard e desce em direção ao Pacífico, primeiramente através de um
conjunto de eclusas em Pedro Miguel,
no Lago Miraflores, a 15,5 metros acima do nível do mar, e depois,
através de um conjunto duplo de eclusas em Miraflores.
Todas as eclusas do Canal são duplas, de modo que os barcos possam passar nas
duas direções. Os navios são dirigidos ao interior das eclusas por pequenos
aparelhos ferroviários. O grupo de Pedro
Miguel é o menor do Canal, elevando ou baixando as embarcações apenas um
nível que totaliza 10 metros, enquanto em Miraflores
as eclusas contam com dois níveis que elevam ou baixam os navios em um total de
16,5 metros.
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Canal do Panamá |
Ao todo, o Canal tem
uma extensão de 82 quilômetros, tendo uma grande importância no fluxo marítimo
internacional, que hoje corresponde a 4% do comércio mundial: por ano passam
pelo Canal cerca de 15 mil navios. As principais trajetórias saem do litoral
leste norte-americano com destino, principalmente, à costa oeste da América do Sul; há também fluxo da
origem europeia para a costa oeste dos EUA
e do Canadá. Diversas ilhas
situam-se no Lago Gatún, incluindo a
Ilha Barro
Colorado, um santuário mundial de vida selvagem. Junto com o Canal, os
panamenhos herdaram em 1999 uma completa infraestrutura de ferrovia, rodovias,
duas hidrelétricas, uma base aérea, e mesmo vilas militares, que mais tarde se
transformaram em hotéis de alto padrão. Visitar
o Canal é quase uma obrigação. Além de um museu que conta a história de sua
construção, há passeios de barcos, com cinco horas de duração, saindo de Balboa ou Gatun, no Atlântico, ou
de Miraflores-San Miguel, no Pacífico, até o Lago Miraflores.
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Canal do Panamá |
Em setembro de 2007 iniciaram-se as obras para a construção
de uma nova hidrovia, que permite a passagem de navios muito maiores. O projeto
teve um atraso de mais de um ano na conclusão das obras e houve ainda um
conflito que chegou a levar à paralisação da obra, em 2014. O plano de expansão
consistiu em criar um conjunto de comportas paralelo às existentes, que é operado
simultaneamente junto às anteriores comportas. Cada conjunto ascende do nível
do mar até o Lago Gatún em apenas
uma passagem, em oposição à situação anterior, onde havia uma passagem em duas
etapas, Miraflores/Pedro Miguel. As
dimensões das novas comportas são da ordem de 427 metros de comprimento, 55
metros de largura e 18,3 metros de profundidade; a correspondente capacidade
dos navios será 366 metros de comprimento, 49 metros de largura e 15 metros de
profundidade. Cada conjunto de comportas é acompanhado por bacias de
reutilização de água, de dimensões 430 metros de comprimento, 70 metros de
largura e 5,5 metros de profundidade. Tal arranjo permite coletar
gradativamente a água utilizada no tráfego pelas comportas, num
reaproveitamento de 60%.
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