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Beaune |
Se Dijon
é a capital administrativa da Bourgogne,
Beaune pode ser considerada a
capital afetiva da região. Essa pequena cidade encravada em meio a vinhedos
multicentenários é uma base mais do que conveniente para explorar e degustar o
tesouro de “grands crus” e “premiers crus” produzidos ao seu redor.
A Bourgogne é subdividida
oficialmente em cinco áreas produtoras de vinhos que se sucedem num eixo de
apenas 230 quilômetros: Côte de Nuits,
Côte de Beaune, Côte Chalonnaise, Mâconnais
e Chablis (há quem inclua também Beaujolais na conta). Dá para ir parando de cidadezinha em cidadezinha para
admirar os vinhedos, a arquitetura das casas e, de preferência, degustar alguns
vinhos locais. Beaune é uma comuna francesa na região
administrativa da Bourgogne-Franche-Comté, no Dèpartement Côte-d’Or. Beaune está localizada a pouco mais de 300 quilômetros da capital Paris, no
“centro-leste” da França, bem
próximo a fronteira com a Suíça. Estende-se por uma área de 31,31 quilômetros
quadrados. É a segunda comuna mais populosa do Dèpartment Côte d’Or.
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Chegando em Beaune |
Apesar de ser uma das regiões vinificas mais
importantes da Europa, sua produção
representa apenas 0,4% do total mundial; uma a cada duas garrafas é exportada.
As características do solo, as condições de temperatura, chuva e insolação e os
métodos tradicionais de fabricação extraem das uvas pinot noir e chardonnay o
terroir inimitável dos tintos e brancos bourguignons. Todos os caminhos na Bourgogne levam ao encontro da boa
comida, dos bons vinhos e dos cenários apaixonantes. Existe mais de quatro mil Domaines (como são chamadas as
propriedades vinícolas da Borgonha) na região. Domaine Romanée-Conti, Domaine
Leflaive, Domaine Armand Rousseau
Père et Fils e Domaine Leroy,
são exemplos dentre as mais importantes vinícolas da Côte d’Or, sendo a primeira responsável por produzir o vinho mais caro do mundo (segundo listagem do Wine Searcher). Por razões óbvias,
algumas Domaines – como é o caso da Romanée-Conti
– não estão (normalmente) abertas à visitação, mas existem centenas – talvez
milhares – delas disponíveis para que você possa degustar e
ver de pertinho o processo de produção dos vinhos da Borgonha.
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As ruas charmosas de Beaune |
Beaune
funciona muito bem como uma parada entre Paris
e Lyon, um dos grandes centros
gastronômicos da Europa. Logisticamente falando, Beaune
é uma base perfeita para quem
pretende viajar pelo interior da França de carro – quase no meio do caminho entre Paris e a Provence. Turisticamente falando, é a cidade perfeita para quem
quer conhecer um pouquinho da vida e rotina no verdadeiro interior da França. Ruelas de pedras, edifícios
centenários, uma pracinha com carrossel, balões no céu e campos verdes a perder
de vista. Uma característica forte de Beaune
é a ausência de ventos fortes.
Venta muito pouco na região, no verão isso faz com que a sensação de calor seja
ainda mais cruel, mas por outro lado faz dali o lugar ideal para passeios de balão. Não é nada raro vê-los no céu de Beaune. Em Beaune, muitas opções de lazer têm estreita ligação com o vinho: passeios
(inclusive de bicicleta) através de vinhedos, ótimos restaurantes nos quais é concedida
especial atenção à harmonização de vinhos com pratos primorosos, e belos museus.
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Musée Du Vin |
Basicamente você pode chegar até lá de três
maneiras, sempre a partir de Dijon:
pedalando, alugando um carro ou vindo de trem. Saindo de Dijon, o melhor caminho é a Route des Grands Crus (também chamados de "Champs
Elysées" da Bourgogne), que passa por 33 pequenos vilarejos e inúmeros
vinhedos. Viajando de carro, não se esqueça de configurar o GPS para percorrer as estradas menores
e fugir das rodovias (eu sempre faço isso). Assim, você conseguirá cruzar com o
Château Du Clos de Vougeot rodeado
de parreiras no meio do caminho. O Château foi inicialmente construído por
monges como uma abadia no século XII e, no século XVI, um grande castelo
renascentista foi concluído em seu anexo. São 45 quilômetros entre Dijon e Beaune, mas aposto que você vai querer parar a cada novo quilômetro
(digo por experiência própria). É uma rota muito fotogênica. Da Estação Central de Dijon partem trens
para Beaune diversas vezes ao dia. A
viagem leva menos de 30 minutos. Essa opção não permite parar para fotografar.
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Place de La Halle |
A Estação de Trem
fica bem pertinho da entrada da cidade murada. Caminhe em direção à Place de La Halle, a principal Place da
cidade. É nessa Place que as quartas
e sábados pela manhã acontece uma feirinha de produtos locais. A Place é
cercada por lojinhas de comércio local, caves e alguns cafés e restaurantes,
além é claro da principal atração da cidade, os Hospices de Beaune – Musée
de l’Hôtel Dieu. O Centro Antigo de
Beaune fica dentro da cidade murada de origem medieval, está localizada no
coração da Borgonha, formada por uma
série de ruas estreitas e tortuosas com muitas caves de vinhos. As construções
antigas com telhados em desenhos geométricos tingidos de amarelo e vermelho são
uma característica da cidade. Inicie a visita a Beaune pela Cathèdrale de
Notre-Dame. Saindo da Catedral vá até o prédio do antigo Hotel dos Duques de Beaune, com fachada
em estilo flamboyant, uma fase do estilo gótico, mais rebuscado que o normal.
No Hotel dos Duques hoje funciona o Musée Du Vin. Para quem visita a Borgonha, passar no Musée Du Vin é imperdível, pois ali
está registrado tudo sobre o assunto, desde a área mais favorável à produção,
as ferramentas e equipamentos utilizados na lavoura e na produção dos vinhos,
até as características de aroma e sabor de todos os vinhos da região. Há
diversos passeios para conhecer os produtores da região.
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Hôtel Dieu |
A visita que mais
impressiona em Beaune é o fantástico
Hôtel Dieu, construído em 1443, um
antigo hospital construído para cuidar de pessoas pobres e desamparadas, por um
nobre da Borgonha e sua esposa, o
casal Nicolas e Guigone Rolin. Era uma forma de aliviar a
consciência de um casal bem-afortunado, que conseguiu também atrair a
cooperação de diversos artistas para ajudar na decoração do local. Naquela
altura, o cenário não era das melhores na França, a chamada Peste Negra havia feito muitas vítimas, o país
ainda lutava a Guerra dos 100 anos.
A fundação de um hospital de caridade,
que atendesse a população carente da região surge como uma esperança para muita
gente que, mais do que nunca, necessitava de toda e qualquer ajuda. O Hôtel
Dieu, ou Hospices de Beaune, é um dos
lugares mais bonitos de se visitar na Bourgogne. Mas calma, não precisa ficar com medo de não te deixarem sair
mais de lá, não tem nada a ver com hospício. Hospice neste caso quer dizer simplesmente
hospital. Hoje em dia é um lugar
super bem conservado e um passeio imperdível. A visita começa pelo pátio
interno, de onde se pode contemplar a deslumbrante arquitetura medieval em
estilo gótico. O destaque fica por conta do uso de telhas policromadas,
que dão um aspecto brilhante aos telhados, em um visual colorido único, super
típico dessa região da Borgonha.
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Salle des Pôvres com as camas enfileiradas |
Após
o pátio interno, a visita segue pelos salões e alas do antigo hospital, com
reproduções fiéis ao estilo da época e que ajudam a contar um pouco da história
do lugar. Há uma reprodução da ala onde ficavam as camas dos doentes, além da
cozinha e da farmácia onde eram armazenados os medicamentos. Essa parte da
visita é bem histórica e o áudio guia ajuda a complementar as informações visuais.
A “Salle des Pôvres” ainda conserva os
leitos medievais, é possível ver a farmácia, a cozinha, tudo como era na época.
Também se pode notar a ausência de banheiros. É impressionante e deixa qualquer
um feliz de ficar doente nos dias de hoje. Mas pelo menos era um lugar lindo de
morrer. Literalmente. A visita levou no total entre 45 e 60 minutos, mesmo com
a gente parando para tirar fotos de quase tudo lá dentro.
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Salle des Pôvres do Hôtel Dieu com o Políptico representando "O Juízo Final" ao fundo |
Após mais de 500 anos
de sua fundação, em 1971, o Hôtel-Dieu
passou a não mais receber enfermos. Desde então, os atendimentos médicos são
realizados em um novo hospital, mais moderno e mais bem equipado para atender as
necessidades da população local. O antigo “palácio dos pobres” foi então transformado
em museu, aberto à visitação. O edifício onde funcionou o hospital possui
uma arquitetura espetacular. É absolutamente impossível passar pelo Hospices de Beaune sem parar por alguns
minutos para admirar todos os detalhes e singularidades da construção. O Palais des Pôvres foi
construído inspirado em prédios onde funcionavam hotéis no Norte. Com fachadas
góticas, as telhas policromáticas formando padrões geométricos indicam
referências à Europa Oriental. Foi
construído em estilo flamengo e o que mais chama a atenção na sua estrutura é o
telhado, formado por um mosaico de telhas vitrificadas (tuiles vernissées),
com cores bastante vivas. As cores
lembram a paisagem de outono dos vinhedos.
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Cozinha do Hôtel Dieu |
O conjunto forma uma
obra única da arquitetura medieval. E o melhor ponto para observar a riqueza do
telhado é do pátio interno. Esse tipo de telhado pode ser encontrado em várias
cidades da Borgonha, mas é aqui no Hôtel Dieu que se tem o exemplar mais
belo. Em seu interior, que se assemelha a uma nave central de igreja, os
enfermos eram cuidados por freiras, em leitos dispostos lado a lado, nas
laterais. Outro ponto alto é o políptico em óleo sobre tela do século XV
representando o “O Juízo Final” de
Rogier van der Weyden, que fica na última sala antes da saída da visita. Vale alguns
minutos de contemplação. Uma enorme lupa percorre toda extensão do quadro para
que se possam observar os detalhes do trabalho. Exposto em duas paredes
contíguas, o quadro foi seccionado para que os visitantes possam apreciar
simultaneamente, o que originalmente seria a obra fechada e aberta. Quando o Hôtel Dieu funcionava, a obra era
exposta na maior parte do tempo em sua face externa (no modo fechado): a
pintura mostra Nicolas e Guigone Rolin, ajoelhados em cada canto da obra. A
parte interna só era aberta nos fins de semana para que o povo tivesse acesso:
Jesus Cristo ao centro; à sua direita, o caminho para o paraíso, e à esquerda,
o fogo eterno.
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Hôtel Dieu - Hospices de Beaune |
A fama do local se
espalhou rapidamente e não tardaram a bater às portas do hospital não só os
menos favorecidos, mas também nobres e representantes de classes mais
remediadas - estes eram recebidos numa espécie de ala de primeira classe. Todo
médico, se algum dia tiver a chance, deveria vir conhecer o antigo Hospice de Beaune. É uma aula de
planejamento administrativo, sustentabilidade econômica e perseverança, além de
ação humanitária. O casal Rolin conseguiu donativos e os meios para manter o
hospital funcionando, mesmo depois das suas mortes. Dentre os donativos, o Hôtel Dieu recebeu terras excelentes
para a produção de uva e vinhos. Os vinhos “Hospice de Beaune” são famosos e a sua comercialização ajudou a
pagar as despesas do hospital.
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Corredores da Cave Patriarche |
Um dos eventos mais importantes da Bourgogne é o leilão anual de caridade dos
vinhos de Beaune, ou a Vente des Vins des Hospices de Beaune. A
Vente des Vins des Hospices de Beaune
organizada pela Christie’s acontece sempre no
último fim de semana de novembro e é concorridíssima! O leilão em si não tem interesse
nenhum para quem está passeando. Como se trata de um leilão de caridade,
algumas celebridades e empresários franceses fazem lances super altos para
contribuir com a causa do Hospital de
Beaune. Apesar disso, a imprensa e os especialistas acompanham tudo bem de
perto, pois os lances costumam indicar a tendência do valor dos vinhos do ano.
Os lances são feitos num salão logo em frente ao Hôtel Dieu, e é possível ver o que está acontecendo
pelo lado de fora. Portanto, o interesse da coisa não é o leilão, mas sim os
eventos que comemoram o fim da temporada de produção de vinho. Durante dois
dias a cidade fica em ritmo de festa regada com “vin,
beaucoup de vin!”. As caves se abrem para degustações, as praças
são invadidas por barraquinhas com comidas e bebidas, os estacionamentos viram
parques de diversões para crianças, e as ruas ficam lotadas de turistas e
habitantes locais.
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Portão da Cave Patriarche |
Beaune
recebe o título de “capital dos vinhos da
Borgonha” não por acaso. São
inúmeras produções vinícolas na região, dentre elas estão alguns dos mais
famosos e melhores vinhos da França.
Nada mais justo que um museu dedicado a esta arte. O Museu do Vinho da Borgonha é
local destinado a contar sobre a história e produção local.
Um passeio superinteressante para os enófilos ou para qualquer viajante que
nutra curiosidade sobre o tema. Bem no centro de
Beaune existe uma
maneira de degustar vários vinhos de ótima qualidade. A Cave Patriarche, na Rue Du Collège, é uma das caves mais
famosas da região, e propõe uma degustação de 14 vinhos diferentes ao longo da
visita dos seus corredores subterrâneos que se contorcem por cinco quilômetros
nos subterrâneos da cidade. São milhões de garrafas estocadas nas galerias do
século XIII. O mais bacana é que quem manda é você. Na hora que a gente chega e
paga a entrada, recebe um “tastevin”,
que é uma tacinha chata de metal usada na Borgonha
para degustar o vinho. Se quiser ajuda na hora da degustação, ótimo. Se
não, ninguém vai te amolar. E o mais importante: apesar da visita começar e
terminar numa lojinha, ninguém vai te botar pressão para comprar algo.
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Hôtel de Ville |
Se você tem pouco tempo
na cidade, mas não desiste de conhecer – ainda que rapidamente – todos os seus
principais atrativos, o Visiotrain pode
ser uma opção bem bacana. Os trenzinhos fazem passeios de 45 minutos de duração,
passando pelos mais importantes pontos da cidade. Enquanto aproveitam o passeio, os
visitantes podem ouvir mais detalhes sobre a cidade e seus monumentos em áudio guias que contemplam nove idiomas, incluindo o português. Os horários das
partidas variam de acordo com os dias da semana. A Place Carnot é
a segunda Place mais importante da cidade, conhecida por ostentar um carrossel
bem ao centro e pela lojinha Mulot
& Petitjean, uma das mais famosas na produção de ‘Pain d’Épices’, uma espécie de bolo/pão
de especiarias que é bem típica da região. Outros pontos que merecem destaque
são a Rue Notre-Dame e
a Place Marey. Na
Rue de Lorraine fica
localizado o Portão
de Entrada da cidade. Logo em seguida fica o ‘Hôtel de Ville’, o imponente edifício
da Prefeitura da cidade.
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Passeio de Bicicleta nos vinhedos da região |
Se você já rodou
minimamente pelo interior da Europa
sabe o quanto os europeus são entusiastas de festivais. Dos mais diversos
tipos: musicais, teatrais, gastronômicos,
cinematográficos, o que importa é incentivar e prestigiar a
arte e produção. Em Beaune, e em
toda a região da Borgonha, não
poderia ser diferente. Antes de fechar seu roteiro, vale a pena dar uma olhada
atenta na agenda cultural de cidade.
Muitas vezes você encontrará joias inesperadas que darão um toque todo especial
à sua viagem. Quem viaja para Beaune
de junho a setembro, por exemplo, pode
aproveitar o Lumières
à Beaune. O evento convida os visitantes à um “tour iluminado” pela noite de Beaune. Ao longo do caminho, são realizadas grandes projeções de luzes nas
fachadas de sete monumentos da cidade. Um show belíssimo inspirado na história
da cidade. Já aqueles que visitam a cidade entre novembro
e dezembro podem
curtir boa música no Beaune
Blues Boogie Festival.
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