sábado, 30 de abril de 2016

Final de Semana em Curitiba - Paróquia do Imaculado Coração de Maria

Paróquia do Imaculado Coração de Maria
Acho que um dos maiores monumentos de uma cidade são suas igrejas. Elas representam a arquitetura de uma época e a cultura de um povo. Acho ainda que elas devem constar em qualquer roteiro de viagem, independente da crença do turista. Como vocês podem perceber, elas constam em todos os meus roteiros de viagem. Não poderia ser diferente em Curitiba. Desta vez fui conhecer a Paróquia do Imaculado Coração de Maria que é um templo claretiano situado no Bairro Rebouças. Em 1900, como um ato simbólico de renovação evangélica do Brasil como nação católica, o Bispo Dom José Camargo Barros celebrou, em um descampado na então pequena Curitiba, uma missa em comemoração aos 400 anos de chegada dos europeus na Terra de Santa Cruz. Nesse ato, benzeu a cruz de madeira colocada no centro do descampado, que passou, desde então, a ser conhecido como Campo da Cruz (atual Praça Ouvidor Pardinho). Na oportunidade, o primeiro Bispo de Curitiba apontou para onde hoje se encontra a Paróquia do Imaculado Coração de Maria e vaticinou que aquele local brevemente iria abrigar importante instituição religiosa.

Entrada principal da 
Paróquia do Imaculado Coração de Maria
Na Casa e Capela provisória – benzida em maio de 1908 pelo então Padre Superior José Domingos com a autorização do Bispo Diocesano Dom João Francisco Braga – a festa em homenagem ao Imaculado Coração de Maria passou a atrair a população local, a qual ainda começou a contar com a oferta dos trabalhos paroquiais, como missas e administração dos Santos Sacramentos, confissão, batismo, casamento e ensino do catecismo. A Casa dos Missionários transformou-se em um centro popular de espiritualidade católica; o trabalho era imenso para o pouco número de religiosos claretianos estabelecidos em Curitiba. A construção do Santuário Matriz do Imaculado Coração de Maria em substituição a Capela provisória começou a ser cogitada pelos claretianos imediatamente ao seu estabelecimento em 1908.

Nave da Paróquia do 
Imaculado Coração de Maria
Localizada no limite entre a área urbanizada e o rocio (bairros afastados), a região do Campo da Cruz foi sendo transformada, ao longo das décadas de 1910 e 1920, de maneira planejada, recebendo arruamento regular e sendo ocupada, principalmente, por instalações industriais e comerciais, em virtude da proximidade da estrada de ferro. A maioria da população estabelecida nesta região exercia profissões urbanas e trabalhava no centro da cidade, em atividades burocráticas, no comércio e na prestação de serviços. A devoção ao Imaculado Coração de Maria não se fez demorar em florescer entre a população curitibana e as dos lugares assistidos pelos missionários claretianos. Aos poucos, o Santuário inaugurado em 1910 tornou-se pequeno para a frequência do crescente número de fiéis e, entre os padres da Casa de Curitiba era grande o desejo de erguer um Santuário definitivo capaz de abrigar fiéis em grande número. Desde meados da década de 1910 os religiosos buscaram concretizar tal desejo contando com o apoio fundamental do então Vice-Governador do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha. Por intermédio dessa autoridade estadual, os claretianos pediram uma planta arquitetônica do templo a ser elaborada, gratuitamente, pela Diretoria de Obras Públicas do Município de Curitiba, na época sob a direção do Engenheiro João Moreira Garcez. Enquanto o desenho do templo era planejado, os religiosos iniciaram um depósito no Banco da Província Claretiana com o intuito de criar fundos financeiros para o andamento da obra.

Confessionário da Paróquia do Imaculado Coração de Maria

Pia Batismal da 
Paróquia do Imaculado Coração de Maria
O lançamento e a pedra fundamental do Santuário ocorreram no dia do Imaculado Coração de Maria em 17 de agosto de 1917. Os alicerces do templo tornaram-se visíveis no terreno em meados de 1919, conformando o edifício no formato de cruz latina com 12 metros de largura na nave única e 40 metros de comprimento até o altar-mor. O Santuário foi inaugurado quatro anos depois, em dezembro de 1922. Em março de 1923 a ocorrência de um incêndio no Santuário do Imaculado Coração de Maria, três meses após a inauguração do templo, surpreendeu os religiosos e fiéis. Segundo a crônica da Casa de Curitiba, o fogo consumiu todo o altar-mor, feito em madeira e que abrigava a Imagem do Coração de Maria, vinda da Espanha, além das imagens de São José e de Santo Antônio que se encontravam nos nichos próximos.

Altar-Mor da Paróquia do 
Imaculado Coração de Maria
A ajuda financeira de alguns benfeitores, além das doações coletadas na Festa do Imaculado Coração de Maria, realizada em agosto do mesmo ano do incêndio, possibilitou a colocação de um novo altar-mor, bem como de uma nova Imagem do Coração de Maria, que tomou posse do seu trono em fevereiro de 1924. No desenho da fachada do templo, de autoria de João Moreira Garcez constavam vitrais no corpo principal e na torre maior, sendo esta decorada com relógio e aquela encimada pela Imagem do Imaculado Coração de Maria. No final da década de 1920, alguns anos após a inauguração do templo, e apesar da manutenção do formato original do edifício, ele não foi dotado dos vitrais, espaço esse preenchido por tijolos. Além disso, as torres ganharam acabamento abobadado, diferentemente do planejado por Moreira Garcez; o relógio foi mantido e a imagem somente foi colocada no início da década de 1950 sobre a torre maior; na virada de 1940 para a década seguinte, a fachada ganhou 41 metros quadrados de vitrais importados da Bélgica, os quais foram reparados em março de 1970, a fim de substituir os que haviam se quebrado.

Capela de Nossa Senhora do Rosário
Das atividades direcionadas para a devoção ao Imaculado Coração de Maria destaca-se a das Capelinhas das Visitas Domiciliárias. Criadas em 1937 formavam nove coros compostos, cada um, por 30 famílias e percorriam mensalmente um itinerário pré-estabelecido dentro dos limites da Paróquia do Imaculado Coração de Maria, pioneira ao implantar as Capelinhas na Diocese de Curitiba. A visita das Capelinhas extrapolou, porém, os limites da Paróquia e, após autorização dos respectivos vigários, percorriam outras localidades, espalhando-se pela cidade. Localizada em uma região fabril, a Paróquia interagia, com os trabalhadores das principais indústrias aí instaladas por meio da Páscoa dos Operários. Tal ato era celebrado na própria Matriz do Imaculado Coração de Maria após os operários terem sido instruídos pelos membros da Ação Católica, que percorriam alguns dias antes as fábricas estabelecidas dentro dos limites paroquiais. Em virtude da deflagração da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o clero nacional instituiu, em 1943, a Páscoa dos Militares, a ser celebrada em todas as cidades brasileiras a fim de reforçar o patriotismo e oferecer consolo espiritual aos soldados em tempos de guerra. Na Paróquia do Imaculado Coração de Maria destacou-se a Páscoa dos Militares de 1946.

Capela de 
Nossa Senhora de Guadalupe
Além da prestação de serviços religiosos, os claretianos iniciaram um amplo relacionamento com os moradores da cidade, não somente daqueles que moravam ou trabalhavam nas proximidades da Casa de Curitiba, mas da sociedade curitibana em geral, em virtude do desenvolvimento de atividades diversas ofertadas pela Paróquia, como o cinema, a escola noturna para adultos, a escola diurna para crianças do jardim de infância e das primeiras séries, cujas aulas eram ministradas por professores da rede estadual de ensino, os cursos de corte e costura e da Academia Claret de Datilografia, além do atendimento aos assistidos pelo Centro Social Coração de Maria, que angariava fundos e produtos de primeira necessidade, como remédios, roupas e alimentos para distribuir aos assistidos. As funções do cinema tiveram início no segundo semestre do ano de 1940. Em 1960, o cinema foi reaberto com novos equipamentos e preços reduzidos às crianças do catecismo. A última exibição do cine paroquial foi em outubro de 1966 com a apresentação da 300ª sessão. 

Vitrais da Paróquia do Imaculado Coração de Maria

Pintura no teto da Paróquia do 
Imaculado Coração de Maria
Em 1964, o Centro Social pôs em funcionamento um Gabinete Dentário, que passou a atender, além dos assistidos do próprio Centro, os alunos da Escola Paroquial, seminaristas e demais membros da comunidade Claretiana. Porém, a intensificação dos trabalhos paroquiais na década de 1970, como a catequese familiar, os cursilhos, os grupos de jovens, etc., tornou inviável a manutenção das salas de aula e impossibilitou a renovação do contrato com a Secretaria de Educação e Cultura, resultando na transferência dos alunos para grupos escolares próximos. 






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