Place de la Republique e Hôtel de Ville |
Principal cidade da
região da Camargue (tão conhecida
pelos ciganos), Arles fica às
margens do Rio Rhône, que nasce na Suíça e chega à França passando pelo Lago de
Genebra, desce por Lyon até
desembocar no Mediterrâneo, por isso
o Departamento leva o nome de Bouches-du-Rhône,
literalmente “Desembocaduras do Ródano”,
e essa localização geográfica da cidade entre a Espanha e a Itália, além
da navegabilidade do Rhône fizeram de Arles um ponto estratégico durante o Império Romano. A cidade está localizada a 37 quilômetros de Avignon e 31 quilômetros de Nîmes, na foz do Rio Rhône. A cidade de Arles é uma das mais importantes do Sul da França, e uma das
mais visitadas também, faz parte da lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO desde 1981.
Rio Rhône |
Arles não é uma das
cidades mais conhecidas da Provence
Francesa. Ela não está na Rota das
Lavandas de Aix-en-Provence,
também não tem um porto tão movimentado e não é a segunda cidade da França como Marselha. A história de Arles começa na Idade do Bronze como um assentamento celto-lígure. Arles é conhecida principalmente pelo
seu conjunto de construções galo-romanas, ou seja, da época em que o Império Romano dominava a região. Durante
o Império Romano, a cidade era
conhecida como Arelate (cidade dos
pântanos), e teve grande importância na província de Gallia Narbonensis. Em 49 a.C., a cidade ficou do lado de Júlio
César durante o cerco de Marselha.
Em 46 a.C., foi recompensada por sua ajuda e se tornou uma colônia romana.
Durante aquele tempo muitos veteranos da tropa de César estabeleceram-se em Arles, que se tornou um dos centros
romanos mais importantes da área. O nome completo da colônia era Colônia Júlia Ancentral Arelatênsio dos
Sextos (6ª Região).
Uma linda ruazinha de Arles |
Situada ao longo da Via Domitia – a estrada principal entre
a Itália e a Espanha – a cidade prosperou e foi fortificada por muros e
embelezada com edifícios notáveis e tornou-se a capital da Provence Romana. Neste período foram construídos importantes
monumentos, incluindo um anfiteatro, um arco triunfal e um teatro, e a cidade
foi cercada por muralhas. Como resultado, tornou-se, no século IV, a capital da
província de Gália. Desde 254 foi um
bispado e um importante centro religioso. Bem próxima ao mar, a cidade
possuía um dos mais importantes portos da região e competia com Marselha. No século IX foi
saqueada pelos bárbaros, que pararam seu desenvolvimento e minaram o papel do
principal centro político da região a favor de Marselha. Apesar disso, Arles
era ainda um importante centro de poder até o século XII. Na Idade Média, Arles foi uma paragem importante para os peregrinos no Caminho de Santiago de Compostela. No
final do século XIX viveu em Arles o
famoso pintor Vincent Van Gogh.
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Arles |
Mesmo tantos anos depois da chegada dos
romanos, Arles continua trazendo
milhões de visitantes todos os anos, seja por conta de seus monumentos
históricos, seja por Van Gogh, ou até mesmo pela localização. Ao sair da Estação de Trem, não tem muito segredo
para chegar ao centro da cidade: é só seguir o fluxo. A Estação é bem próxima
ao Centro Histórico. Logo você irá
perceber que assim como muitas cidades do Sul
da França, Arles também é uma cidade murada. Ao atravessar o portão, é como
entrar em outra dimensão. Arles é
uma cidade pequena, dá para fazer praticamente tudo caminhando. É claro que uma cidade como Arles, com tantos séculos de história, tenha sofrido mudanças. Mas
o interessante é que ela soube preservar o passado a cada urbanização, a cada
transformação arquitetônica. Andar por lá sem rumo é um dos
melhores privilégios que se pode ter. No Office de Tourisme pode-se comprar um folheto que tem
os principais itinerários da cidade e esses itinerários estão marcados no chão,
com cores e desenhos diferentes. Isso facilita e muito os passeios. Permita-se andar um pouco sem
rumo. As ruas são bem estreitas e nem o mapa vai te mostrar todos os nomes.
Amphithéâtre d'Arles |
Em pouco tempo é possível visitar o Amphithéâtre Romano no estilo do Coliseu de Roma, também conhecido como Les
Arènes por serem palco das controversas "corridas" - o Sul da França, principalmente Nîmes,
Saintes-Maries-de-la-Mer e Arles mantêm a tradição de corridas de
touro - e logo ao lado fica o Teatro
Antigo. O Amphithéâtre Romano
continua inteirinho e a sua localização é tão central que ele até parece “o
personagem principal”. Ele foi construído no ano 80, e naquela época podia
receber até 20 mil espectadores (hoje em dia, depois da sua restauração, sua
capacidade é de 12.500 pessoas). Les Arènes
passou 400 anos sendo usado para lutas entre gladiadores e corridas romanas. A
estrutura mede 136 metros de comprimento e 107 metros de largura e tem dois
andares de arcadas, formadas por 120 arcos. Isso faz com que ele seja o 20º anfiteatro
romano em tamanho. Ele já foi usado como um bairro, com 200 casinhas e duas
igrejas dentro dele, na Idade Média.
Hoje é usado principalmente para touradas. Para uma bela vista da cidade
pode-se subir a torre acima da entrada para o Amphithéâtre.
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Amphithéâtre d'Arles |
Se algumas cidades têm uma igrejinha, Arles tem um Teatro Romano. O Teatro
Romano de Arles foi construído sob Augusto, um século antes do seu vizinho,
o Amphithéâtre. Embora fortemente saqueado durante os séculos passados
testemunha ainda a importância da cidade em tempos imperiais. O destaque dele
são as duas colunas de mármore que ficam em frente ao semicírculo restaurado.
Os dois monumentos estão um ao lado do outro. O Teatro Romano também é um dos passeios que você deve considerar
incluir em seu roteiro. O espaço não está tão completo quanto ao Amphithéâtre,
mas dá para ter uma ideia bem bacana de como era o lugar. Suas pedras foram utilizadas
na construção de outros prédios, como a Igreja
de Saint-Trophime. O Teatro tem diâmetro de 102 metros e tem capacidade
para 12 mil pessoas e ainda ocorrem eventos lá. Você também pode visitar um
banho romano como o das Thermes de
Costantin. A maioria das construções data da época do Alto Império, mas as Thermes
é uma construção mais recente, do século IV. As
paredes exteriores do edifício dessas Termas ainda estão de pé, mas por dentro,
temos que usar a imaginação e ler os painéis informativos para ver como
funcionavam. Era em seus banhos quentes ou frios, que a população costumava socializar.
Lá também eram feitas sessões de massagem.
A delicadeza das flores nas janelas |
Do
Teatro podemos avançar para a Place de
La Republique, o coração da cidade, onde fica o Hôtel de Ville, que tem uma particularidade: a torre do relógio não
é como vemos nas demais cidades da França, sendo aqui uma referência ao Templo de Marte, o deus da guerra, que
é representado no alto do monumento segurando uma bandeira francesa. O triunfo da arquitetura clássica acontece com a construção
do Hôtel de Ville, em 1676, projeto
de Jacques Peytret, com a ajuda de Jules Hardouin-Mansart, este último
arquiteto do Rei Louis XIV. O Obelisco
localizado no centro da Place, data do século IV e foi originalmente encontrado
no Circo Romano de Arles. É um símbolo
solar e imperial da Antiguidade. Um elemento
decorativo, mas com a função de marcar o centro do Circo Romano para guiar os condutores das carruagens da época. Ao colocarem
o Obelisco no local atual, também tinham
a ideia de trazer harmonia ao conjunto arquitetônico das fachadas dos prédios da
Place de La Republique. Na área fica a Cathédrale Saint-Trophime, o Musée Lapidaire
d’Art Paien (Museu Lapidário de Arte
Pagã), o Musée d’Art Chretien
Lapidaire (Museu Lapidário de Arte
Cristã) e Les Cryptoportiques.
A Cathédrale Saint-Trophime é a
primeira que você vai ver quando chegar à Place de La Republique.
Cathédrale Saint-Trophime |
A Cathédrale
Saint-Trophime é uma joia do estilo românico provençal, começou a ser
construída nos anos 1100, embora a localização da sede episcopal pareça estar
nesse lugar desde o século V. O esplêndido portal é a atração da Igreja. Ele
foi construído antes de 1178 e as cenas esculpidas representam o Juízo Final, os Doze Apóstolos, a Anunciação
e a Natividade. O interior da Igreja
é impressionante e contém muitas obras de arte. Mas o Cloître de Saint-Trophime é a segunda obra mais admirada do complexo.
Foi construído entre os séculos XII e XV no estilo românico-provençal com belas
figuras esculpidas nos capitéis das colunas e pilares, representando a Ressurreição de Cristo, a Anunciação, a Adoração dos Magos, a Entrada
em Jerusalém e a Glorificação dos Santos Padroeiros de Arles. Era a clausura dos monges.
Hoje é um espaço que acolhe exposições temporárias. Muitas igrejas de Arles foram desativadas, principalmente durante a Revolução. Hoje,
assim como o Cloître, também recebem
exposições temporárias. Durante a Revolução
Francesa virou templo da razão. Depois, no século XIX, foi restaurada e
voltou a ser Igreja. É uma das mais bonitas da cidade. Uma coisa muito
interessante é a capela das relíquias de santos. Tem de tudo ali: tíbias, mãos,
pés e até um crânio.
Les Cryptoportiques |
Ainda
na Place de La Republique fica o Musée Lapidaire d’Art Paien, localizado
no interior da antiga Igreja de
Sainte-Anne. Tem estátuas, esculturas, sarcófagos e mosaicos encontrados
nas ruínas da cidade romana de Arelate.
À curta distância da Place de La
Republique ficam o Musée d’Art
Chretien Lapidaire e Les Cryptoportiques.
O Museu está instalado numa antiga capela jesuíta e é o lar de primeiros
sarcófagos cristãos em mármore. Les Cryptoportiques são acessíveis a partir
do Museu, foi construído no final do século I a.C. Foi construído para ser a fundação e os pilares do Fórum Romano e, no seu centro, havia
uma praça pública que abrigava os edifícios administrativos, judiciais,
econômicos e religiosos da cidade romana. Na época de sua construção, aquele ele
o nível da rua. Hoje em dia fica, seis metros abaixo. Eles são nada menos que os
“túneis” que sustentam a cidade. E ainda está tudo intacto! Leve um casaquinho,
pois a temperatura lá é bem mais baixa do que o normal. A entrada fica dentro
do Hôtel de Ville. Hoje ainda
pode-se ver a fachada com dois pilares da Place
Du Forum, rodeada de hotéis modernos, restaurantes e cafeterias.
Musée de Arles et de La Provence Antique |
Perto
fica outro museu. Trata-se do Museon
Arlaten, um Museu dedicado à vida e à cultura provençal do século XIX. O edifício que abriga a antiguidade arlesiana é bem moderno
e encontra-se à margem do Rio Rhône,
de onde muitas das peças ali expostas foram retiradas - um hábito antigo, algo
se quebrava, as pessoas jogavam no rio. Logo na parte externa em frente ao Museu
podemos perceber a riqueza encontrada na região: o sítio arqueológico foi
integrado à construção, onde podemos ver peças de uso doméstico como pratos,
jarras, copos quebrados que tiveram como destino o fundo do rio e de lá foram
resgatadas por mergulhadores, trabalho importante que foi representado em
maquete. Vestígios da arquitetura antiga, como colunas e mosaicos também fazem
parte do acervo e o trabalho de restauração é constante. Um novo pavilhão está
sendo construído para abrigar o acervo de navegação, e o testemunho histórico
de como funcionava a economia, a indústria e até a medicina da época chega até
nós através das peças expostas no Museu. Uma parte interessante do ponto de
vista do surgimento do cristianismo é comparar as representações presentes nos
sarcófagos, indo de nenhuma representação aos símbolos cristãos, passando por
representações que davam indícios somente aos cristãos da época, até chegar às
representações claras de Jesus com os apóstolos. Como sabiamente apontou Victor
Hugo, quando não podíamos imprimir nossa história para contar em larga escala,
o fizemos através da arquitetura e escultura.
Musée Réattu |
Entre os outros museus
vale a pena mencionar o Musée de Arles
et de La Provence Antique, onde são apresentadas as coleções arqueológicas
da cidade e de sua região. O Musée
Réattu foi aberto em 1868, ele deve seu nome ao pintor nascido na cidade,
Jacques Réattu (1760 – 1833), que compra o lugar para fazer de residência e
ateliê. O Museu possui várias obras de Picasso, a grande maioria doada por ele
mesmo, pois, assim como Van Gogh, era outro apaixonado por Arles. Outra coisa interessante do
Museu, é que a construção onde está abrigado, do século XIV, foi sede da Ordem de Malta ou Hospitaliers (Hospitaleiros). A outra construção, a Commanderie de Sainte-Luce, construída
no século XIII e que fica em frente, era onde eles moravam, mas antes foi dos
templários. Hoje a Sainte-Luce,
infelizmente, não pode ser visitada, pois abriga a administração do Museu. Mas,
no prédio do Réattu há uma parte com
as explicações e alguns objetos que pertenceram a essas Ordens. O Museu alterna períodos em que a
entrada é paga com períodos em que é gratuita.
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Teatro Romano de Arles |
Para quem não sabe Vincent Van Gogh
morou em Arles entre fevereiro de
1888 e maio de 1889. Vincent ficou fascinado pela luz da Provence e pela intensidade de cores que ele lá observava. E pintou
mais de 300 telas quando ainda tinha sua residência lá. Van Gogh chegou em Arles e se instalou na famosa Casa Amarela, da Place Lamartine. A cor da fachada foi escolhida por ele mesmo. Sem
nenhum dinheiro para se manter no local, o pintor decidiu criar uma série de
quadros de girassóis que se tornariam incrivelmente famosos nos anos seguintes.
Foi lá também que aconteceu o célebre evento onde ele corta uma de suas
orelhas. Por toda a cidade, há reproduções dos quadros do artista exatamente
nos lugares onde eles foram pintados e com a perspectiva que ele teve na hora
de pintar. Tem no jardim público, na necrópole (Alyscamps), no Hôtel-Dieu,
na beira do Rhône etc. O Hôtel-Dieu foi construído a partir de
1573. Foi o hospital da cidade desde essa época até os anos 1970. Foi nele que
Van Gogh ficou internado.
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As cores de Arles |
É a partir dessa época que a
aristocracia começa a morar no centro da cidade e constrói ali Hôtels Particuliers, palacetes, que terão
as mais luxuosas decorações. Um exemplo é o Hôtel de Divone ou Hôtel du
Roure. Construído no século XVIII pela Família
Roure, uma das mais ricas da cidade, é o que conserva totalmente sua
arquitetura original. Foi comprado no século XX pela Família Divone e hoje abriga vários apartamentos. Um programa
interessante é passear por Arles
fotografando todos esses palacetes. Um fato interessante sobre Arles (e que pode atrair ainda mais
turistas) é que a cidade recebe anualmente o maior encontro de fotografia do
país, o “Les Rencontres Photographiques
d’Arles”, o que conferiu à cidade o título de capital francesa da
fotografia.
Aos sábados, o Boulevards des Lices dá lugar a um mercado com os itens “normais”
de qualquer feira, como cenoura, batatas etc. Mas também encontramos queijos,
carnes, linguiças, doces, entre outros produtos próprios da região de Arles, além de coisas de outras cidades
provençais. Mesmo que você não vá comprar nada, passe por lá só para apreciar e
sentir o cheiro. O Marché de Arles é
considerado o maior e um dos mais belos da Europa.
Estende-se por mais de 2,5 quilômetros. Arles
tem muita coisa interessante. Mas mesmo que não dê para ver e fazer tudo vale a
pena ao menos passar um dia nela. E para quem se interessa pela peregrinação a San Tiago de Compostela, o caminho de Arles é um dos quatro que passam pela França. Podemos encontrar várias
conchas marcando os lugares importantes do caminho na cidade.
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