terça-feira, 5 de abril de 2016

Tour pela França - Arles

Place de la Republique e Hôtel de Ville
Principal cidade da região da Camargue (tão conhecida pelos ciganos), Arles fica às margens do Rio Rhône, que nasce na Suíça e chega à França passando pelo Lago de Genebra, desce por Lyon até desembocar no Mediterrâneo, por isso o Departamento leva o nome de Bouches-du-Rhône, literalmente “Desembocaduras do Ródano”, e essa localização geográfica da cidade entre a Espanha e a Itália, além da navegabilidade do Rhône fizeram de Arles um ponto estratégico durante o Império Romano. A cidade está localizada a 37 quilômetros de Avignon e 31 quilômetros de Nîmes, na foz do Rio Rhône. A cidade de Arles é uma das mais importantes do Sul da França, e uma das mais visitadas também, faz parte da lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO desde 1981.

Rio Rhône
Arles não é uma das cidades mais conhecidas da Provence Francesa. Ela não está na Rota das Lavandas de Aix-en-Provence, também não tem um porto tão movimentado e não é a segunda cidade da França como Marselha. A história de Arles começa na Idade do Bronze como um assentamento celto-lígure. Arles é conhecida principalmente pelo seu conjunto de construções galo-romanas, ou seja, da época em que o Império Romano dominava a região. Durante o Império Romano, a cidade era conhecida como Arelate (cidade dos pântanos), e teve grande importância na província de Gallia Narbonensis. Em 49 a.C., a cidade ficou do lado de Júlio César durante o cerco de Marselha. Em 46 a.C., foi recompensada por sua ajuda e se tornou uma colônia romana. Durante aquele tempo muitos veteranos da tropa de César estabeleceram-se em Arles, que se tornou um dos centros romanos mais importantes da área. O nome completo da colônia era Colônia Júlia Ancentral Arelatênsio dos Sextos (6ª Região). 

Uma linda ruazinha de Arles
Situada ao longo da Via Domitia – a estrada principal entre a Itália e a Espanha – a cidade prosperou e foi fortificada por muros e embelezada com edifícios notáveis e tornou-se a capital da Provence Romana. Neste período foram construídos importantes monumentos, incluindo um anfiteatro, um arco triunfal e um teatro, e a cidade foi cercada por muralhas. Como resultado, tornou-se, no século IV, a capital da província de Gália. Desde 254 foi um bispado e um importante centro religioso. Bem próxima ao mar, a cidade possuía um dos mais importantes portos da região e competia com Marselha. No século IX foi saqueada pelos bárbaros, que pararam seu desenvolvimento e minaram o papel do principal centro político da região a favor de Marselha. Apesar disso, Arles era ainda um importante centro de poder até o século XII. Na Idade Média, Arles foi uma paragem importante para os peregrinos no Caminho de Santiago de Compostela. No final do século XIX viveu em Arles o famoso pintor Vincent Van Gogh.

Arles
Mesmo tantos anos depois da chegada dos romanos, Arles continua trazendo milhões de visitantes todos os anos, seja por conta de seus monumentos históricos, seja por Van Gogh, ou até mesmo pela localização. Ao sair da Estação de Trem, não tem muito segredo para chegar ao centro da cidade: é só seguir o fluxo. A Estação é bem próxima ao Centro Histórico. Logo você irá perceber que assim como muitas cidades do Sul da França, Arles também é uma cidade murada. Ao atravessar o portão, é como entrar em outra dimensão. Arles é uma cidade pequena, dá para fazer praticamente tudo caminhando. É claro que uma cidade como Arles, com tantos séculos de história, tenha sofrido mudanças. Mas o interessante é que ela soube preservar o passado a cada urbanização, a cada transformação arquitetônica. Andar por lá sem rumo é um dos melhores privilégios que se pode ter. No Office de Tourisme pode-se comprar um folheto que tem os principais itinerários da cidade e esses itinerários estão marcados no chão, com cores e desenhos diferentes. Isso facilita e muito os passeios. Permita-se andar um pouco sem rumo. As ruas são bem estreitas e nem o mapa vai te mostrar todos os nomes.

Amphithéâtre d'Arles
Em pouco tempo é possível visitar o Amphithéâtre Romano no estilo do Coliseu de Roma, também conhecido como Les Arènes por serem palco das controversas "corridas" - o Sul da França, principalmente Nîmes, Saintes-Maries-de-la-Mer e Arles mantêm a tradição de corridas de touro - e logo ao lado fica o Teatro Antigo. O Amphithéâtre Romano continua inteirinho e a sua localização é tão central que ele até parece “o personagem principal”. Ele foi construído no ano 80, e naquela época podia receber até 20 mil espectadores (hoje em dia, depois da sua restauração, sua capacidade é de 12.500 pessoas). Les Arènes passou 400 anos sendo usado para lutas entre gladiadores e corridas romanas. A estrutura mede 136 metros de comprimento e 107 metros de largura e tem dois andares de arcadas, formadas por 120 arcos. Isso faz com que ele seja o 20º anfiteatro romano em tamanho. Ele já foi usado como um bairro, com 200 casinhas e duas igrejas dentro dele, na Idade Média. Hoje é usado principalmente para touradas. Para uma bela vista da cidade pode-se subir a torre acima da entrada para o Amphithéâtre.

Amphithéâtre d'Arles
Se algumas cidades têm uma igrejinha, Arles tem um Teatro Romano. O Teatro Romano de Arles foi construído sob Augusto, um século antes do seu vizinho, o Amphithéâtre. Embora fortemente saqueado durante os séculos passados testemunha ainda a importância da cidade em tempos imperiais. O destaque dele são as duas colunas de mármore que ficam em frente ao semicírculo restaurado. Os dois monumentos estão um ao lado do outro. O Teatro Romano também é um dos passeios que você deve considerar incluir em seu roteiro. O espaço não está tão completo quanto ao Amphithéâtre, mas dá para ter uma ideia bem bacana de como era o lugar. Suas pedras foram utilizadas na construção de outros prédios, como a Igreja de Saint-Trophime. O Teatro tem diâmetro de 102 metros e tem capacidade para 12 mil pessoas e ainda ocorrem eventos lá. Você também pode visitar um banho romano como o das Thermes de Costantin. A maioria das construções data da época do Alto Império, mas as Thermes é uma construção mais recente, do século IV. As paredes exteriores do edifício dessas Termas ainda estão de pé, mas por dentro, temos que usar a imaginação e ler os painéis informativos para ver como funcionavam. Era em seus banhos quentes ou frios, que a população costumava socializar. Lá também eram feitas sessões de massagem.

A delicadeza das flores nas janelas
Do Teatro podemos avançar para a Place de La Republique, o coração da cidade, onde fica o Hôtel de Ville, que tem uma particularidade: a torre do relógio não é como vemos nas demais cidades da França, sendo aqui uma referência ao Templo de Marte, o deus da guerra, que é representado no alto do monumento segurando uma bandeira francesa. O triunfo da arquitetura clássica acontece com a construção do Hôtel de Ville, em 1676, projeto de Jacques Peytret, com a ajuda de Jules Hardouin-Mansart, este último arquiteto do Rei Louis XIV. O Obelisco localizado no centro da Place, data do século IV e foi originalmente encontrado no Circo Romano de Arles. É um símbolo solar e imperial da Antiguidade. Um elemento decorativo, mas com a função de marcar o centro do Circo Romano para guiar os condutores das carruagens da época. Ao colocarem o Obelisco no local atual, também tinham a ideia de trazer harmonia ao conjunto arquitetônico das fachadas dos prédios da Place de La Republique. Na área fica a Cathédrale Saint-Trophime, o Musée Lapidaire d’Art Paien (Museu Lapidário de Arte Pagã), o Musée d’Art Chretien Lapidaire (Museu Lapidário de Arte Cristã) e Les Cryptoportiques. A Cathédrale Saint-Trophime é a primeira que você vai ver quando chegar à Place de La Republique.

Cathédrale Saint-Trophime
A Cathédrale Saint-Trophime é uma joia do estilo românico provençal, começou a ser construída nos anos 1100, embora a localização da sede episcopal pareça estar nesse lugar desde o século V. O esplêndido portal é a atração da Igreja. Ele foi construído antes de 1178 e as cenas esculpidas representam o Juízo Final, os Doze Apóstolos, a Anunciação e a Natividade. O interior da Igreja é impressionante e contém muitas obras de arte. Mas o Cloître de Saint-Trophime é a segunda obra mais admirada do complexo. Foi construído entre os séculos XII e XV no estilo românico-provençal com belas figuras esculpidas nos capitéis das colunas e pilares, representando a Ressurreição de Cristo, a Anunciação, a Adoração dos Magos, a Entrada em Jerusalém e a Glorificação dos Santos Padroeiros de Arles. Era a clausura dos monges. Hoje é um espaço que acolhe exposições temporárias. Muitas igrejas de Arles foram desativadas, principalmente durante a Revolução. Hoje, assim como o Cloître, também recebem exposições temporárias. Durante a Revolução Francesa virou templo da razão. Depois, no século XIX, foi restaurada e voltou a ser Igreja. É uma das mais bonitas da cidade. Uma coisa muito interessante é a capela das relíquias de santos. Tem de tudo ali: tíbias, mãos, pés e até um crânio. 

Les Cryptoportiques
Ainda na Place de La Republique fica o Musée Lapidaire d’Art Paien, localizado no interior da antiga Igreja de Sainte-Anne. Tem estátuas, esculturas, sarcófagos e mosaicos encontrados nas ruínas da cidade romana de Arelate. À curta distância da Place de La Republique ficam o Musée d’Art Chretien Lapidaire e Les Cryptoportiques. O Museu está instalado numa antiga capela jesuíta e é o lar de primeiros sarcófagos cristãos em mármore. Les Cryptoportiques são acessíveis a partir do Museu, foi construído no final do século I a.C. Foi construído para ser a fundação e os pilares do Fórum Romano e, no seu centro, havia uma praça pública que abrigava os edifícios administrativos, judiciais, econômicos e religiosos da cidade romana. Na época de sua construção, aquele ele o nível da rua. Hoje em dia fica, seis metros abaixo. Eles são nada menos que os “túneis” que sustentam a cidade. E ainda está tudo intacto! Leve um casaquinho, pois a temperatura lá é bem mais baixa do que o normal. A entrada fica dentro do Hôtel de Ville. Hoje ainda pode-se ver a fachada com dois pilares da Place Du Forum, rodeada de hotéis modernos, restaurantes e cafeterias.

Musée de Arles et de 
La Provence Antique
Perto fica outro museu. Trata-se do Museon Arlaten, um Museu dedicado à vida e à cultura provençal do século XIX. O edifício que abriga a antiguidade arlesiana é bem moderno e encontra-se à margem do Rio Rhône, de onde muitas das peças ali expostas foram retiradas - um hábito antigo, algo se quebrava, as pessoas jogavam no rio. Logo na parte externa em frente ao Museu podemos perceber a riqueza encontrada na região: o sítio arqueológico foi integrado à construção, onde podemos ver peças de uso doméstico como pratos, jarras, copos quebrados que tiveram como destino o fundo do rio e de lá foram resgatadas por mergulhadores, trabalho importante que foi representado em maquete. Vestígios da arquitetura antiga, como colunas e mosaicos também fazem parte do acervo e o trabalho de restauração é constante. Um novo pavilhão está sendo construído para abrigar o acervo de navegação, e o testemunho histórico de como funcionava a economia, a indústria e até a medicina da época chega até nós através das peças expostas no Museu. Uma parte interessante do ponto de vista do surgimento do cristianismo é comparar as representações presentes nos sarcófagos, indo de nenhuma representação aos símbolos cristãos, passando por representações que davam indícios somente aos cristãos da época, até chegar às representações claras de Jesus com os apóstolos. Como sabiamente apontou Victor Hugo, quando não podíamos imprimir nossa história para contar em larga escala, o fizemos através da arquitetura e escultura.

Musée Réattu
Entre os outros museus vale a pena mencionar o Musée de Arles et de La Provence Antique, onde são apresentadas as coleções arqueológicas da cidade e de sua região. O Musée Réattu foi aberto em 1868, ele deve seu nome ao pintor nascido na cidade, Jacques Réattu (1760 – 1833), que compra o lugar para fazer de residência e ateliê. O Museu possui várias obras de Picasso, a grande maioria doada por ele mesmo, pois, assim como Van Gogh, era outro apaixonado por Arles. Outra coisa interessante do Museu, é que a construção onde está abrigado, do século XIV, foi sede da Ordem de Malta ou Hospitaliers (Hospitaleiros). A outra construção, a Commanderie de Sainte-Luce, construída no século XIII e que fica em frente, era onde eles moravam, mas antes foi dos templários. Hoje a Sainte-Luce, infelizmente, não pode ser visitada, pois abriga a administração do Museu. Mas, no prédio do Réattu há uma parte com as explicações e alguns objetos que pertenceram a essas Ordens. O Museu alterna períodos em que a entrada é paga com períodos em que é gratuita. 

Teatro Romano de Arles
Para quem não sabe Vincent Van Gogh morou em Arles entre fevereiro de 1888 e maio de 1889. Vincent ficou fascinado pela luz da Provence e pela intensidade de cores que ele lá observava. E pintou mais de 300 telas quando ainda tinha sua residência lá. Van Gogh chegou em Arles e se instalou na famosa Casa Amarela, da Place Lamartine. A cor da fachada foi escolhida por ele mesmo. Sem nenhum dinheiro para se manter no local, o pintor decidiu criar uma série de quadros de girassóis que se tornariam incrivelmente famosos nos anos seguintes. Foi lá também que aconteceu o célebre evento onde ele corta uma de suas orelhas. Por toda a cidade, há reproduções dos quadros do artista exatamente nos lugares onde eles foram pintados e com a perspectiva que ele teve na hora de pintar. Tem no jardim público, na necrópole (Alyscamps), no Hôtel-Dieu, na beira do Rhône etc. O Hôtel-Dieu foi construído a partir de 1573. Foi o hospital da cidade desde essa época até os anos 1970. Foi nele que Van Gogh ficou internado. 

As cores de Arles
É a partir dessa época que a aristocracia começa a morar no centro da cidade e constrói ali Hôtels Particuliers, palacetes, que terão as mais luxuosas decorações. Um exemplo é o Hôtel de Divone ou Hôtel du Roure. Construído no século XVIII pela Família Roure, uma das mais ricas da cidade, é o que conserva totalmente sua arquitetura original. Foi comprado no século XX pela Família Divone e hoje abriga vários apartamentos. Um programa interessante é passear por Arles fotografando todos esses palacetes. Um fato interessante sobre Arles (e que pode atrair ainda mais turistas) é que a cidade recebe anualmente o maior encontro de fotografia do país, o “Les Rencontres Photographiques d’Arles”, o que conferiu à cidade o título de capital francesa da fotografia.

Aos sábados, o Boulevards des Lices dá lugar a um mercado com os itens “normais” de qualquer feira, como cenoura, batatas etc. Mas também encontramos queijos, carnes, linguiças, doces, entre outros produtos próprios da região de Arles, além de coisas de outras cidades provençais. Mesmo que você não vá comprar nada, passe por lá só para apreciar e sentir o cheiro. O Marché de Arles é considerado o maior e um dos mais belos da Europa. Estende-se por mais de 2,5 quilômetros. Arles tem muita coisa interessante. Mas mesmo que não dê para ver e fazer tudo vale a pena ao menos passar um dia nela. E para quem se interessa pela peregrinação a San Tiago de Compostela, o caminho de Arles é um dos quatro que passam pela França. Podemos encontrar várias conchas marcando os lugares importantes do caminho na cidade.

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