Avignon e o Palais des Papes |
Avignon é
uma cidade do Sul da França,
na região de Provence, que durante vários anos foi a residência dos Papas da Igreja Católica. Está situada
na margem esquerda do Rio Rhône, no Dèpartement de Vaucluse a cerca de 650 quilômetros
a sudeste de Paris, a 80 quilômetros
a noroeste de Marselha e a 230 quilômetros
de Lyon. Era chamada de Avênio ou Avênio Cavaro durante o Período
Romano. Desde 1995 o Centro Histórico de Avignon, incluindo o Palais
des Papes, uma das maiores e mais importantes construções da
arquitetura gótica na Europa, faz parte da lista de Patrimônios
Mundiais da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O Palais des Papes é um dos
monumentos mais visitados na França.
É uma cidade bem pequena, mas é tão linda e tão
importante para a história da França
que vale a pena passar uma tarde inteira dentro das muralhas que cercam o Centro Histórico. Avignon é apenas a 43ª maior cidade da França e, por isso, a quantidade de atrativos e a agitação de sua
vida social e cultural surpreende. São incontáveis programas, que vão desde
tours gastronômicos de dar água na boca, passando por visitas aos sítios que
remontam séculos de história, tardes em meio aos campos floridos de lavandas ou
noites embaladas por alguns dos melhores e mais importantes festivais e eventos
da França.
Entrada da cidade de Avignon |
A constituição de uma
pequena república municipal, no século XIII parecia antecipar já para a cidade
a perspectiva de um papel de relevo na história da Provence. Avignon tirava
sabiamente partido das velhas rivalidades feudais que dividiam Toulouse e Barcelona, mas o florescimento do burgo havia começado muito antes,
ainda nos séculos IV e V a.C. Nessa altura converteu-se num importante porto
fluvial na margem esquerda do Rhône
– rio que é hoje um eixo por onde passa uma parte das visitas turísticas a Avignon, com os seus restaurantes
flutuantes e os pequenos cruzeiros que permitem uma visão ímpar da cidade e da
velha Pont de Saint Bénézet. Mas foi, sobretudo, o mecenato dos papas e dos altos
prelados que construiu a aura de Avignon.
Com a prosperidade crescente que tomava conta da cidade, a população passou em
pouco tempo de cinco mil para 40 mil habitantes. Através de um sistema fiscal
implacável, as receitas dos impostos e dos dízimos avolumaram-se e ajudaram
também à fortuna da corte papal, imersa num fausto cada vez menos teológico.
Hôtel de Ville - Prefeitura de Avignon |
Habitada desde o tempo dos
celtas, é famosa por se ter convertido na residência dos Papas em 1309, quando
se encontrava sob governo dos reis da Sicília pertencentes à Casa de Anjou. A sua Universidade
foi fundada pelo Papa Bonifácio VIII em 1303 e devido à reputação dos cursos de Direito
teve grande importância até à Revolução Francesa. Em 1348 o Papa Clemente VI comprou a cidade da Rainha Jeanne de Nápoles, uma personagem notória na história do Mediterrâneo. Ela é mais bem conhecida por abrir um bordel em Avignon em 1387, e permaneceu como propriedade papal até 1791, quando foi incorporada ao resto da
França durante a Revolução Francesa. Em 1377 os
romanos finalmente conseguiram levar de volta para Roma a sede da Igreja
Católica, quando o Papa Gregório XI deixou Avignon. Mas ele morreu no ano seguinte e então a Igreja elegeu um
novo papa, italiano. Acontece que a parte francesa do clero considerou essa
eleição inválida e decidiu escolher outro papa: Clemente VII, que voltou a
morar em Avignon. E é por isso que
durante 30 anos a Igreja Católica
teve dois papas, um na Itália e
outro na França.
Place des Papes |
O último Papa de Avignon
foi Bento XIII, que foi perdendo o seu poder dentro da Igreja e ficou preso no Palais des Papes por cinco anos, antes
de fugir em 1403 e morrer em 1409. O sobrinho do Papa Bento XIII conseguiu
ficar no Palácio por 17 meses depois da fuga do seu tio, e para tentar evitar
que a riqueza fosse saqueada, ordenou que todas as casas que ficavam em frente
ao Palais des Papes fossem
destruídas. Avignon era sede episcopal desde o ano 70, e foi convertida em
Arcebispado em 1476. Foi sede de
vários sínodos de menor importância. Ao todo, sete
papas comandaram a Igreja Católica
residindo em Avignon. A vida tolerante de Avignon parecia restaurar Sodoma
e Gomorra, tal a quantidade de
“casas de prazer” e tão intenso o movimento de marginais de toda a espécie que
por ali encontrava benévolo pouso: contrabandistas, soldados aposentados que se
dedicavam a pilhar os viajantes, falsificadores ou assassinos. Em face deste
cenário “pré-apocalíptico”, tornava-se necessário garantir a proteção da suntuosa
corte eclesiástica – por isso o esteio essencial da austeridade militar do Palais des Papes, símbolo eminente da
cidade monumental de Avignon.
Palais des Papes |
É praticamente impossível separar a
história de Avignon da história de
seu Papado. Os anos nos quais a Igreja
Católica teve sua sede em Avignon
transformaram a cidade e moldaram de uma forma evidente, sua identidade. Por
tudo isso, se você deseja conhecer um pouco sobre a história de Avignon e descobrir de que forma uma
pequena cidade às margens do Rhône
evoluiu para o berço cultural que é hoje, é imprescindível que comece visitando
o Palais des Papes – um dos 10
monumentos mais visitados da França
e o mais importante palácio gótico da Europa,
que serviu como residência para diversos papas ao longo da Idade Média. Durante a visita, é possível visitar cerca de 25
salas, dentre as quais se destacam as grandes Salas de Cerimônias – onde eram realizadas as festas, os conclaves
e demais cerimônias da Igreja – e os Apartamentos
Privados do Papa.
Um dos pátios do Palais des Papes |
O Palais des Papes começou como uma construção
muito menor, conhecida como o Palácio
Velho. O primeiro pontífice Clemente V estava satisfeito em dormir no Monastério Dominicano em Avignon. Seu sucessor, entretanto, não
estava disposto a viver de forma tão simples. Foi Bento XII quem
lançou a primeira pedra desse imenso edifício com mais de 15 mil metros
quadrados e cuja construção se prolongou por cerca de 30 anos. Ao Palácio Velho, encomendado por Bento
XII ao arquiteto Pierre Poisson, mandou Clemente VI acrescentar posteriormente
o chamado Palácio Novo, cujas linhas
exteriores retomavam um perfil de sólida fortaleza. Mas as robustas muralhas e
as 10 torres defensivas – algumas com mais de 50 metros – ocultavam no seu
interior um universo de referências nada marciais que ainda hoje surpreendem o
viajante, tal o contraste entre a fria austeridade de alguns espaços e o ornato
frívolo ou profano de certos compartimentos, a Torre dos Papas, nomeadamente os Apartamentos Privados do Papa.
Salão no interior do Palais des Papes |
Paradigmática desse contraste é a decoração hedonista do
quarto de dormir do sumo pontífice, onde figuram representações de amáveis e
sugestivas videiras. O gabinete de trabalho de
Clemente VI é um dos melhores exemplos desse trabalho de decoração que os papas
encomendaram a artistas vindos da Itália. Os motivos florais e as
esplêndidas cenas de caça, em que aparece o cervo que acabou por dar nome ao
aposento, teriam sido pintados por Robin de Romans, sob a direção de Matteo
Giovanetti. Admiráveis são também os afrescos que o pintor italiano deixou nas Capelas de Saint Marcial e de São João,
onde Giovanetti pintou cenas das vidas de São João Batista e de São João
Evangelista. A abóbada da grande sala onde se reuniam os 13 juízes do tribunal
eclesiástico espelha também obra de Giovanetti, uma impressiva representação
dos profetas sobre um céu noturno povoado de estrelas. A grande Sala do Consistório testemunha ainda a
presença de um dos maiores pintores do renascimento italiano, Simone Martini. Os
afrescos que ali estão atualmente expostos vieram da Catedral de Notre-Dame-de-Doms, templo vizinho do Palais des Papes.
Sacristia do Palais des Papes |
O Palácio é majestoso,
mas não espere encontrar cômodos com mobília preservada. Durante a Revolução Francesa, o Palácio foi
saqueado e, posteriormente, durante a Terceira
República, teve muitas de suas obras e afrescos destruídos. Outras obras se
perderam, contudo, ou sofreram grave deterioração quando o Palácio se viu
transformado em prisão e caserna durante o século XIX. Conta-se que muitos
soldados arrancavam às paredes fragmentos dos afrescos para serem depois
vendidos a insignes antiquários, profissão que encontrou em Avignon nessa altura bom terreno para
medrar. Algumas salas têm tido seus afrescos restaurados ao longo dos últimos
anos, mas ainda é possível ver as pinturas descascadas em algumas capelas do
Palácio. O Palácio ostenta dois pátios, um Salão de Jantar que facilmente comporta uma partida de futebol
americano, uma cozinha que foi uma vez capaz de servir milhares e uma elevada
capela gótica, onde os Papas eram coroados. Passe um tempo na capela, mas
apesar de sua grande beleza, não pode tirar fotos. Duas horas, pelo menos, é o tempo necessário para visitar o Palais des Papes.
Cripta no Palais des Papes |
As muralhas da cidade, em bom estado de
conservação, foram construídas pelos papas imediatamente após a mudança da
residência para este lugar. A grande muralha de Avignon, construída no século XIV, tem
cerca de quatro quilômetros de comprimento, mas só um setor se encontra aberto
a visitas, junto à Pont Saint Bénézet,
monumento que uma popular canção celebrizou como «Pont d’Avignon».
Construída entre os anos 1177 e 1185, foi destruída 40 anos depois durante a
invasão de Louis VIII. A partir disso, a Ponte foi reconstruída algumas vezes,
porém, destruída em consequência das cheias do Rhône, da qual só restam quatro arcos dos 22 que
inicialmente tinha. Diz a lenda que um jovem pastor Bénézet havia encontrado
Jesus Cristo, que o pediu para construir uma ponte sobre o rio. Ele correu para
dizer aos outros pastores e ao povo de Avignon
sobre seu encontro e que ele teria que construir uma ponte sobre o rio, mas foi
ridicularizado por toda a cidade e desafiado a carregar um bloco de pedra
enorme até às margens do rio, e que caso ele conseguisse tal feito, teria
permissão para construí-la. Dito e feito: o rapaz levantou o bloco
milagrosamente deixando todos em choque. O povo acreditou que ele teve ajuda
divina e a partir daí teve apoio de toda a cidade na construção da ponte. A Ponte ligava Avignon
à outra margem, a Villeneuve-lès-Avignon,
de onde se pode desfrutar uma das vistas clássicas da cidade dos papas. Com tudo isso, é o lugar perfeito para curtir um lanche, ler um
livro ou apenas devanear enquanto olha através do rio para Villeneuve-lès-Avignon.
Muralhas de Avignon |
Com o passar dos séculos, a cidade se desenvolveu
para além das muralhas, mas ainda são elas que delimitam seu Centro Histórico. Passear pelo Centro Histórico de Avignon é, de forma
resumida, uma volta no tempo com cheirinho de lavada. É no Centro Histórico de Avignon que estão localizados quase todos os
seus pontos de interesse turísticos. E é ali também que conseguimos compreender
melhor a identidade da cidade e, com um pouco de imaginação, reviver os séculos
mais importantes de sua história. Observar a fachada dos edifícios, os estilos
arquitetônicos, os detalhes em suas calçadas, e a forma como a vida moderna
apropriou-se, sem deteriorar, tudo aquilo é incrível! Daqueles passeios que
merecem tempo, calma e um olhar apurado do visitante. É também no Centro Histórico que você encontrará o
maior número de lojinhas de souvenires, e isto explica o cheiro delicioso de
lavanda que embala os passeios por ali. Uma infinidade de lembrancinhas
produzidas a partir das flores mais famosas da região.
Uma dos torres de proteção na Muralha de Avignon |
Para o Centro
Histórico de Avignon convém reservar dois ou três dias, sobretudo se a visita
se realizar por ocasião do Festival de Teatro
(a cidade é palco anual de um Festival de
Teatro realizado desde 1947, é o mais importante da França), uma vez que nessa altura a
afluência de turistas aos principais monumentos e a multiplicação da oferta
cultural constituem fatores ou apelos para uma demora maior na cidade. Qualquer
itinerário pelo Centro Histórico de
Avignon não pode deixar de incluir algumas das belas e animadas praças que
são simultaneamente símbolos da Avignon
cosmopolita: a Place
des Papes (suba a escadaria para a Catedral que está bem acima), e a Place de l’Horloge, cheia de bares e
restaurantes nas calçadas e com um lindo carrossel,
datado de 1900, ao centro, onde à
sombra dos velhos plátanos o viajante pode fruir as horas lentas da Provença. É a principal praça da cidade
e também conhecida como Place de Avignon.
Nela estão dois importantes edifícios, o Hôtel
de Ville e a Ópera. A vista do Rio Rhône através de seus campos, acima das fortalezas são
verdadeiramente de grande valia, passando uma tarde ensolarada por lá. A
estátua de ouro maciço da Virgem Maria sobre a igreja é talvez seu elemento
mais interessante.
Cathèdrale Notre-Dame-des-Doms |
Não
é surpresa que esta cidade formadora de papas tenha muitas igrejas. A Igreja de Saint Pierre, construída em
1385, com talha setecentista, é a favorita de Avignon. Ela oferece uma ideia mais íntima de como as pessoas
rezavam no passado. A Igreja, localizada no quarteirão de paralelepípedo de
mesmo nome, tem uma entrada em gótico provençal ostentoso. Passe um tempo nas
portas de nogueira elegantes alusivas à Anunciação
e Santos Gerome e Julien. Não há taxa
de entrada, mas se cobra um donativo para conservação das estruturas
religiosas. O interior é de muita beleza, com altar do alto renascimento cheio
de painéis e pequenos trabalhos feitos pelos antigos mestres locais, como
"Adoração dos Pastores por Simon de
Chalons". O belo exterior da Igreja é talvez melhor visto à noite,
quando está iluminado.
Rocher des Doms |
O roteiro monumental de
Avignon inclui uma série de igrejas,
nomeadamente a Cathédrale Notre-Dame-des-Doms,
de raiz românica e interior medieval e barroco. Está localizada bem ao lado do Palais des Papes. Uma das suas joias é
um Ecce Homo em pedra pintada do século
XVI. No alto da torre da Catedral está uma estátua dourada da Virgem Maria com
uma das mãos abençoando a cidade e com a outra, protegendo-a. A estátua possui
seis metros de altura e pesa 4.500 quilos. Igualmente interessante é a Igreja de Saint Didier (século XIV),
onde se podem ver afrescos italianos da escola de Siena e um retábulo do século XV. A partir do século XIII foram
criadas em Avignon muitas confrarias
de penitentes, que tiveram o seu apogeu nos séculos XVI e XVII. A Capela dos Penitentes Negros, mais
recente, possui um notável interior barroco. Outra visita obrigatória é a da Igreja de Saint-Symphorien, com
escultura em madeira pintada do século XVI. O Rocher des Doms é um jardim localizado ao lado da Catedral em direção
ao Rio Rhône. É incrivelmente lindo e
com vistas panorâmicas para o Rio e para a Ponte.
Pont Saint Bénézet |
Avignon é
uma cidade ricamente bordada por história. Seus museus e atrações
refletem o impacto do tempo quando era uma Cidade Papal e de seus residentes. Antes de sair para
descobrir Avignon tenha certeza de
ter pegado o guia da cidade (Avignon
Passion Guide). Basta solicitar um exemplar em seu hotel, no escritório de
turismo ou em qualquer museu na cidade. O
guia o poupará dinheiro toda vez que você o usar, às vezes reduzindo pela
metade do preço cada ingresso de museu. No capítulo dos museus, o viajante pode encontrar pretexto
para fazer pelo menos duas pausas na peregrinação pela monumentalidade de Avignon. O Musée Calvet tem para mostrar um bom acervo de obras de Joseph
Vernet, um pintor local, enquanto a Fundação
Angladon-Dubrujeaud reúne obras provenientes da coleção do célebre
colecionador Jacques Doucet, entre as quais pintura de Picasso, Van Gogh,
Cézanne, Velásquez e Modigliani.
Forte Saint Andrès em Villeneuve-lès-Avignon |
O Musée Du Petit Palais
está localizado na Place des Papes, no
Centro Histórico de Avignon, e hospeda
uma coleção de pinturas provençais e italianas do século XIII até o século XVI,
e coleções romanescas e góticas de escultura. O edifício surgiu em meados
do século XIV e foi nomeado Petit Palais
devido ao seu gigantesco vizinho, o Palais
des Papes. O Museu está aberto todos os dias da semana, com exceção das terças-feiras.
É considerado um museu francês excepcional, então para os amantes de museu está
aí algo imperdível.
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