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Piazza Navona e Fontana del Nettuno |
Se você for um turista matineiro, Roma pode revelar-se uma “outra cidade”.
Cheia na maior parte do ano, muitas vezes é quase
impossível até mesmo ser o protagonista das suas próprias fotos… porque cada
espaço será dividido com outras pessoas que, assim como você, querem
imortalizar a sua viagem. A Piazza Navona dá o melhor de si nas primeiras horas da manhã. Uma oportunidade
única de observá-la antes que outros turistas cheguem ao local. Poucas cidades no
mundo podem competir com Roma no que
se refere à quantidade e beleza de praças monumentais. A Piazza Navona é uma das mais célebres praças barrocas de Roma localizada no Rione Parione. A Piazza
Navona está perto de pontos turísticos como a Chiesa Santa Maria della Pace, da famosa e antiga Livraria Coliseum e do Panteão de Roma.
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Fontana del Nettuno na Piazza Navona |
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Piazza Navona |
A origem desta Piazza
vem da Roma Antiga. No mesmo local,
entre 81 e 96 d.C., o Imperador Romano Tito Flávio Domiciano construiu um Estádio
de 275 metros de comprimento por 106 metros de largura, que ficou conhecido
como Circus Agonalis – ou Arena de Competição. Domiciano foi um dos três imperadores da Dinastia Flavia (ou Flaviana), a mesma que construiu o Coliseu. A sua forma
assemelha-se à dos antigos estádios da Roma
Antiga, seguindo a planificação do Estádio
de Domiciano (também denominado entre os italianos de Campomarzio, em virtude da natureza
rude e esforçada dos exercícios - manejo de armas - e desportos atléticos que
aí se realizavam). A ideia do Imperador
era criar uma versão romana das olimpíadas gregas. Os jogos esportivos eram
chamados de Certamen Capitolino Iovi e
incluíam até batalhas navais. No século III foi restaurado por Alexandre
Severo.
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Palazzo Pamphilj, Embaixada do Brasil em Roma |
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Palazzo Pamphilj, Embaixada do Brasil em Roma |
Hoje a Piazza está no
ponto exato do centro da Arena e as casas ao redor foram construídas sobre as
arquibancadas, mantendo a delimitação original da área do Estádio de Domiciano, que tinha capacidade para 20 mil pessoas
sentadas nas arquibancadas. Se você quer ver um pedacinho deste antigo Estádio Romano existe o Museu Stadio di Domiciano. Basta
caminhar até a Via Zanardelli que
fica atrás da Piazza Navona. Mesmo
que não queira entrar no Museu, tem uma abertura por onde você pode observar
uma parte das ruínas e fazer fotos. A configuração atual da Piazza foi definida
entre 1600 e 1700. Desde então, nada foi alterado – o que torna o lugar ainda
mais charmoso. Entre 1810 e 1839 eram realizadas corridas de cavalos na Piazza.
No entanto, estas aparentemente não têm relação com as famosas corridas de
cavalos de raça da Via Del Corso. Contudo, o que faz da Piazza Navona ser
um dos espaços públicos mais belos de Roma
é a combinação de três belas fontes, a Chiesa
di Sant’Agnese in Agone e palácios
renascentistas, como o Palazzo Pamphilj,
sede da Embaixada Brasileira na Itália. O interior do Palazzo é enriquecido
pela famosa Galeria Nacional de Arte
Antiga, com os afrescos de Pietro da Cortona.
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Palazzo Pamphilj e Chiesa di Sant’Agnese in Agone |
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Palazzo Pamphilj |
Ao contrário do que
acontece quando se visita o Coliseu,
mesmo sabendo da história, é difícil imaginar lá gladiadores lutando contra
leões ou entre si com espadas, escudos, lanças, montados em cavalos ou usando
bigas. A Navona passou de fato a caracterizar-se
como Piazza nos últimos anos do século XV, quando o mercado da cidade foi
transferido do Capitólio para lá. Foi remodelada para um estilo
monumental por vontade do Papa Inocêncio X, da Família Pamphilj e é motivo de orgulho da cidade de Roma durante o período barroco. Todas as melhorias na
Piazza realizadas pelo Papa Inocêncio têm uma justificativa: foi um gesto em
homenagem à Família Pamphilj. Não
era incomum que os papas fizessem reformas em determinada área da cidade para
honrar suas famílias; o Papa Urbano VIII já tinha feito o mesmo na Colina Quirinal para a glória da Família Barberini. A escolha da Piazza Navona para receber estas
reformas ocorreu porque o Palazzo da família ficava em frente à Piazza.
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Chiesa di Sant’Agnese in Agone e Fontana del Moro |
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Fontana dei Quattro Fiumi |
A Fontana dei Quattro Fiumi, ao centro da Piazza, é composta por uma barreira
de pedra que representa a terra, formando uma gruta – de onde surgem um leão e
outros animais fictícios e um obelisco egípcio que representa o céu (recuperado
do Circo Máximo na antiga Via Apia). Ao redor da gruta, estão as
estátuas dos quatro rios: o Rio Nilo
na África, o Rio Danúbio na Europa, o
Rio Ganges na Ásia e o Rio da Prata na
América, que simbolizam os quatro
continentes. A lenda relacionada ao ríspido contraste entre Francesco Borromini
e Gian Lorenzo Bernini, que conta que o gigante do Rio da Prata teria estendido a mão para defender-se da iminente
queda da Igreja é infundada, pois a Fonte foi construída antes da finalização da
fachada de Borromini. No subsolo da Igreja há um oratório medieval e as
relíquias do Estádio de Domiciano. Ela
foi construída entre os anos de 1647 e 1651 a pedido do Papa Inocêncio X. A
criação da Fonte havia sido concedida a Borromini, mas acabou sendo realizada
por Bernini, seu rival. A Fontana dei
Quattro Fiumi ou Fonte dos Quatro
Rios foi construída graças ao dinheiro recolhido com os impostos sobre o
pão e outros produtos alimentares. Mais do que justo a considerar um patrimônio
de todos os romanos!
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Palazzo Pamphilj e Fontana del Moro |
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Fontana del Nettuno |
As duas outras fontes da Piazza foram obras projetadas por
Giacomo della Porta. A Fontana del Nettuno foi construída em 1576. Ela representa Netuno,
o deus romano dos mares, rodeado por ninfas do oceano; essas imagens, porém, só
foram incluídas no design da fonte durante o século XIX. A Fontana del Nettuno, conhecida como Fontana de Calderari, foi construída em 1574. Por volta de
1878 foi lançado um concurso para harmonizar o monumento com a outra fonte
finalizada por Bernini. Foram acrescentadas as esculturas intituladas “A Nereida com Querubins e Cavalos Marinhos”
e “Netuno Luta Contra um Polvo”.
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Fontana del Nettuno |
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Fontana del Moro |
A Fontana Del Moro antes era conhecida como Fonte do Caracol e foi reelaborada por Bernini, durante o século
XVII. Acredita-se que para esculpir o personagem o artista teria se inspirado
na Estátua de Pasquino, que fica ali pertinho do Consulado Geral do Brasil em Roma. O nome da Fonte deriva da
representação de um etíope (mouro) que luta com um golfinho. Outras estátuas,
de tritões, são do século XIX. De frente para a Piazza Navona, também se encontra um dos museus mais importantes de
Roma, o Museu de Roma no Palazzo
Braschi. A Piazza Navona, é um marco romano, com seus cafés e muitos artistas de
rua, é uma parada obrigatória.
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Fontana del Moro |
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Chiesa di Sant’Agnese
in Agone |
Também ao Papa
Inocêncio X se deve a reconstrução da antiga Igreja dedicada a Santa Inês, como
capela anexa ao Palazzo da família, localizada no local de martírio da santa. A
lenda diz que, no lugar onde fica a Igreja, Santa Agnes teve suas roupas
arrancadas; porém, enquanto rezava, seu cabelo cresceu cobrindo o corpo todo, e
ela foi salva da desgraça de ser vista nua. Graças a isso, Santa Agnes é a
protetora da castidade e das virgens contra o estupro. A prova dessa estreita ligação é a abertura no tambor da cúpula, que
permitia ao pontífice assistir às celebrações diretamente de seu apartamento.
Com formato de cruz grega, o projeto inicial foi realizado por Carlo Rainaldi,
posteriormente seguido por Francesco Borromini – autor da grande fachada da Piazza.
Borromini agregou uma grandeza vertical incomum na época, construindo um tambor
bem alto, cercado por duas torres que emolduram a cúpula (alterando a fachada
já iniciada com um arco). A fachada da Chiesa de Sant’Agnese in Agone foi restaurada em 1652, por uma solicitação
do Papa Inocêncio X, com um desenho criado por Borromini; o processo de
construção foi concluído somente em 1670.
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Chiesa di Sant’Agnese in Agone |
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Piazza Navona |
A Piazza Navona é uma das praças mais amadas pelos romanos, há
séculos um local de diversão do povo e de aristocratas; é aqui que as crianças
jogam bola e as famílias romanas se encontram com parentes e amigos. Nas noites
de verão, quando o pôr do sol colore os telhados de vermelho, a Piazza Navona vira um dos lugares mais
lindos para reunir as pessoas. O retângulo de céu sobre a Piazza escurece
lentamente, enquanto as luzes amarelas vão se acendendo nas casas e nos
restaurantes. Se quiser
sentar e relaxar um pouco por lá, para só observar o mundo passar, pode ser uma
boa pedida, pois é um lugar muito movimentado, porém em questão de qualidade e
relação custo-benefício, há muitos outros restaurantes bem melhores, pois lá
eles são mega turísticos e pouco autênticos. De dia, é frequentada por
intelectuais e pintores, já de noite, é o destino preferido dos jovens e
artistas de rua. Depois da guerra, muitos pintores e designers começaram a ir
para a Piazza, armando cavaletes improvisados para pintar, expor e vender
seus trabalhos. Nos últimos tempos a Piazza tornou-se um ponto de encontro e de
performances de artistas de rua.
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Piazza Navona |
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Piazza Navona |
Durante os anos, sempre
foi um dos pontos de encontro preferidos dos romanos durante o Carnaval, no
Natal e no Dia de Reis. É tradição iniciar a Feira de Natal em oito de dezembro, com barraquinhas repletas de
presépios artesanais, inovações e, é claro, doces típicos. A Feira fica até a Festa da Epifania do Senhor, na noite entre cinco e seis, quando adultos e
crianças se reúnem para participar da chegada da Befana (bruxinha). Não dá para
perder a Piazza Navona no Natal, um
espetáculo único.
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Piazza Navona |
Muitos turistas, ao
planejar a própria viagem, se perguntam como chegar à Piazza Navona, pois não encontram nenhuma Estação de Metrô nos mapas nem nos guias de rua. Realmente, assim
como outras praças famosas de Roma,
a Piazza Navona não tem acesso pelo
metrô, nem pela linha A, nem pela linha B. Porém, isso não quer dizer que o
acesso seja difícil, pois a Piazza
Navona é bem conectada aos serviços de ônibus de linha que transitam nas
imediações. Não há um ônibus que desce direto na Piazza Navona (e nem poderia, visto que é um calçadão fechado). A Piazza
fica quase atrás da Corso Vittorio
Emanuele II (exatamente um dos pontos de maior acessibilidade para a Piazza).
Se estiver hospedado no centro de Roma,
você tem a possibilidade (que a meu ver, é a melhor), de ir para a Piazza Navona a pé. Não só é uma forma
de passear, mas também terá a sensação de literalmente caminhar pela história.
A Piazza Navona,
assim como cada pedacinho do restante da cidade, está repleta de história
e de arte.
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