Cementerio de la Recoleta |
No luxuoso e nobre Bairro da Recoleta, se localiza um
cemitério diferente dos já conhecidos. Este bairro histórico é escolhido na
atualidade por muitas pessoas como destino de lazer muito popular. Os jardins
que rodeiam o cemitério representam um ponto de reunião para os portenhos. Pode parecer estranho para muita gente, mas o Cementerio de La Recoleta está entre os
principais pontos turísticos da cidade. É claro que passear por lá é um pouco
estranho, mas a visita guiada, que mostra monumentos tombados e mausoléus
históricos, deixa o clima menos fúnebre. O ponto alto da visita é o Túmulo de Evita Perón, muito querida
por seus conterrâneos. Passear pelo cemitério é legal conhecendo as histórias.
Quando você for por lá, evidente que o corredor onde fica o Túmulo de Evita Perón estará lotado. Ela é a maior celebridade do lugar com
certeza, mas para o bem da verdade é um dos túmulos mais simplesinhos. O Escritório de Turismo de Buenos Aires
oferece visitas guiadas gratuitas pelo Cemitério. Acontecem todos os dias, com
horários pela manhã e à tarde, e podem ser feitas em espanhol ou inglês. Na
própria entrada do Cemitério há um quadro com os horários.
Painel na entrada do Cemitério identificando os principais monumentos |
O Cementerio de La Recoleta, assim como o bairro, é bastante caro e reservado
às pessoas que possuem condições financeiras, portanto, não se trata de um
lugar simples, pelo contrário. O Cementerio
de La Recoleta é considerado um museu a céu aberto por dois motivos. Um
deles é o grande número de obras de arte encontradas lá. A outra razão é
porque, no Cemitério estão os restos mortais de personalidades famosas da
política, cultura, arte e ciência. As abóbadas são na maior parte das famílias
aristocráticas do país. As sepulturas são de propriedade de cada família e cada
proprietário deve pagar uma taxa mensal de administração. O metro quadrado mais
caro da cidade está localizado dentro do Cementerio
de La Recoleta.
Mapa do Cemitério com as principais sepulturas |
A cidade toda já tem aquele ar
arquitetônico europeu e o “último lar” dos portenhos não é diferente. A
arquitetura e as esculturas foram realizadas por artistas internacionais
famosos. As ruas deste cemitério simulam uma cidade pequena, e ocultam muitas curiosidades que mantém com vida este espaço. Foi inspirado no
Cemitério Père Lachaise de Paris, com sepulturas e mausoléus
gigantes e impressionantemente decorados com esculturas que são verdadeiras
obras de arte. Alguns túmulos são
considerados monumentos históricos nacionais e para se ter ideia um túmulo
chega a custar 75 mil Dólares. Só tem uma coisinha
que deixa mais horripilante que o de Paris:
dentro dos mausoléus alguns caixões ficam expostos. Não são enterrados, e mesmo
os mais antigos continuam lá e com toalhinhas de crochê em cima para decorar!
Uma multidão de turistas em uma das visitas guiadas |
Buenos Aires já tinha
séculos de vida quando o Cementerio de La
Recoleta foi fundado. A “cidade de mortos
dentro da cidade” projetada pelo arquiteto e engenheiro francês Prosper Catelin,
foi construída em 1822, como o primeiro cemitério público da cidade e se chamava
Cemitério do Norte. Implanta-se
sobre o que costumava ser o jardim da Basílica
de Nossa Senhora do Pilar - atualmente Monumento
Histórico Nacional - construído pelos monges da Ordem dos Recoletos em 1732. Foi a partir do final do século
XIX que as famílias mais abastadas começaram a mudar-se para a zona norte da
cidade por conta da epidemia de febre amarela que acometia os bairros do
sul de Montserrat e San Telmo. O bairro começou a tornar-se
de "classe alta", e o Cemitério converteu-se no local preferido para
enterros dessas famílias, em conjunto a cidadãos argentinos de grande
prestígio.
Uma das inúmeras alamedas do Cemitério |
A entrada principal se dá através de um
pórtico em estilo neoclássico, com colunas em estilo dórico grego e símbolos
sobre o tema da morte, concluído durante uma de suas reformas, em 1881. As
evidências das duas grandes reformas podem ser observadas nas datas gravadas
sobre o piso: 1881 e 2003. Está em um terreno de mais de 50 mil metros
quadrados com mais de 4.000 abóbadas e 90 mausoléus de mármore decorados com
estátuas organizadas - assim como em Buenos Aires - em um traçado retangular de quadras
e ruas. Entre os elementos decorativos que se apresentam, distinguem-se diversos
estilos que vão desde o gótico ao movimento Art
Deco. A Argentina, que acabara
de se tornar independente, começava uma era de mudanças. Grande parte das tumbas faz parte dos Monumentos Históricos Nacionais de Buenos
Aires. O criador do Cemitério, o Presidente Bernardino Rivadavia acabou não
sendo enterrado lá, e está sepultado na Plaza
Miserere.
Uma das inúmeras alamedas do Cemitério |
Recentemente destacado como um dos
cemitérios de arquitetura mais interessante do mundo, por Architectural Digest, o Cementerio
de La Recoleta, localizado adjacente à Plaza
Intendente Torcuato de Alvear, conserva uma grande trajetória histórica que
se manifesta em todas as personalidades e intelectuais que descansam nele. Os
mausoléus de mármore, as numerosas abóbadas e as estátuas realistas provocam
uma atmosfera única que torna o Cemitério uma visita obrigatória em Buenos Aires. Atualmente é o Cemitério
mais visitado da cidade e merece um passeio arquitetônico por sua quadrícula
tradicional e decorada, que evidencia o auge econômico nesse contexto histórico
argentino e é reflexo da competência das famílias por pertencer à memória do
país.
Detalhe de uma das esculturas do Cemitério |
O passeio não é visto com bons olhos por todos os turistas,
claro, a ideia de passar algumas horas visitando túmulos e mausoléus
em um cemitério pode parecer mórbida para alguns, mas
muitas celebridades estão sepultadas no local. São
líderes políticos, incluindo presidentes; escritores; Prêmios Nobel; esportistas e outros. Parte
do sucesso do Cemitério se deve ao fato de grandes personalidades argentinas
terem sido sepultadas ali. O Túmulo de
Evita Perón, por exemplo, muito querida pelos argentinos, sempre tem flores
deixadas por seus admiradores, é um dos mais
procurados, mas não necessariamente o mais bonito. A cada novo passo é
possível perceber a beleza e o cuidado com os detalhes em cada recanto do
local. Ao contrário do que se possa esperar no Cementerio de La Recoleta a vida pulsa. Trata-se de um percurso
histórico e cultural, que passa longe da morbidez.
Obra de arte em uma sepultura
|
Obra de arte em uma sepultura |
Cheio de estátuas de anjos ou dos próprios personagens enterrados
e de belas inscrições, o Cementerio de La
Recoleta encerra muitas histórias de romances, fatalidades, infidelidades,
homenagens, disputas, namorados sem sorte, famílias com histórias difíceis,
promessas, inveja, ciúmes ou simplesmente curiosidades. Geralmente, cada uma das esculturas tem legendas que
detalham o passado daquelas famílias, os problemas que viveram e os episódios
dos últimos dias. Muitos jovens visitam o Cemitério para aprender história,
arquitetura, poesia, desfrutar de sessões de fotos para casamentos (isso
mesmo!!!), aproveitar o sol do inverno para dormir uma siesta ou simplesmente
ler um livro aproveitando o silencio e ambiente tranquilo.
Decoração na tumba de um dos
presidentes da Argentina |
Sepultura do ex-presidente argentino Raul Alfonsin |
O Cementerio de La Recoleta
encerra muitas histórias curiosas em seus mausoléus. Morta em uma avalanche durante
sua lua de mel na Áustria, Liliana Crociati
foi enterrada com seu vestido de noiva. Ganhou de seus pais uma sepultura que reproduz
seu dormitório e tem na porta uma estátua sua junto a Sabú, seu fiel e inseparável
cão. Sabú morreu no mesmo dia que sua dona, separado dela por milhares de quilômetros.
É tradição encostar a mão no focinho do cachorro para voltar mais vezes a Buenos Aires. O grande túmulo verde de Elisa
Brown, conhecida com A Noiva do Rio de La
Plata também é um dos mais visitados. Ela se matou meses depois se saber da
morte de seu noivo Francis, ele morreu na Batalha
de Monte Santiago, inconsolada Elisa se jogou no Rio e morreu afogada usando
o vestido que usaria em seu casamento.
Tumba de Rufina Cambaceres |
Em
uma das esquinas do Cementerio de La Recoleta está uma das tumbas mais belas, a de Rufina
Cambaceres, filha do escritor Eugenio Cambaceres. Diz a história que na noite
que a menina fazia 19 anos, sua mãe faria uma grande comemoração e a levaria
para o teatro, apresentando Rufina para a sociedade. Porém, antes de sair, a
menina foi encontrada morta, toda rígida no chão. Um médico confirmou sua morte
e no dia seguinte ela foi enterrada. Alguns dias depois, os empregados do Cemitério
encontraram seu caixão aberto com a tampa quebrada. A versão oficial diz que
foi um roubo, mas o provável é que a Rufina tenha sofrido um ataque de
catalepsia e acordado dentro do sepulcro, já que foram encontrados vários
arranhões na parte interior do caixão. Uma estátua mostra a menina segurando
uma espécie de maçaneta da tumba, como se quisesse sair ou entrar do mundo dos
mortos.
Vitral em um mausoléu |
Na realidade, esta cidade de anjos e legendas convida a
conhecer tesouros inéditos da história da cidade. A
melhor forma de conhecer o Cemitério, não é contratar os serviços oferecidos na
porta de entrada. A melhor forma é pegar o mapa e ficar caminhando em liberdade,
olhando os milhões de detalhes escondidos nas infinitas representações
artísticas e textos. Lembre-se que é um percurso cultural, poético, muito longe
da angústia e nostalgia. Mas também é um espaço de profundo respeito pelas
pessoas que lá descansam e a história do país.
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