|
Caminito em La Boca |
No que diz respeito
aos bairros da capital argentina, é impossível não falar sobre o tradicionalíssimo
Bairro La Boca: o berço da história portenha e um dos pontos mais emblemáticos
de Buenos Aires. Afinal, estamos falando do bairro mais antigo da cidade.
La Boca é um
bairro da cidade de Buenos Aires, na
Argentina, que por sua localização
próxima ao porto, às margens do Riachuelo,
que desemboca no Rio de La Plata, foi
habitada por muitos estrangeiros que chegavam pelo porto para trabalhar. Já sua
personalidade é resultado da instalação de residências de imigrantes,
principalmente italianos, mas também espanhóis, gregos, alemães e dispersos
grupos de franceses e saxões. La Boca, em
1882, era habitado quase que exclusivamente por imigrantes genoveses. Por desentendimentos
nas relações de trabalho, promoveram uma greve geral. No transcurso da greve,
como todos eram da mesma origem, declararam La Boca como região autônoma. Pensavam-na como a República de San Marino. Passo seguinte
comunicaram ao Rei Vittorio Emmanuele da Itália
(há poucos anos unificada), ensejando o reconhecimento como nova nação. O
presidente da Argentina Julio Argentino Roca pessoalmente - acompanhando o exército
argentino - promoveu a dissuasão dos habitantes e retirou a bandeira genovesa
que fora içada. Ainda hoje se reúnem em La
Boca simbolicamente Presidente e
Ministério da República Independiente de
La Boca.
|
Conventillos em La Boca |
Ali nasceram as famosas boates e
vivendas coletivas que albergavam transitoriamente aos recém-chegados a Buenos Aires. La Boca é o
bairro mais visitado por turistas, mas também um dos mais pobres da cidade. As
pessoas têm um forte senso de pertencimento ao bairro e participam de várias
atividades comunitárias. Os imigrantes construíram suas casas com ferro
corrugado (zinco) que deu identidade ao bairro. As moradias são casas com
muitos quartos, um pátio central e um banheiro compartilhado. Os quartos são
alugados a famílias diferentes. As casas são conhecidas como "conventillos". As casas são pintadas com muitas
cores, com sobras de tinta para barcos, daí surge a grande variedade de
cores. Por inundações frequentes e incêndios sofridos por condições precárias
de habitação, um grupo de bairro em 1884 formou o Corpo de Bombeiros Voluntários (o primeiro na América do Sul).
|
Caminito |
A
rua mais famosa do bairro é chamada de “Caminito”,
onde diversos artistas e pintores vendem seus trabalhos aos visitantes. Na
década de 1950, o morador Arturo Carrega decidiu recuperar o terreno onde antes
era um estreito arroio e mais tarde passava o trem. Carrega convocou ao pintor Benito
Quinquela Martín, que batizou a rua como “Caminito”
pelo título do popular tango de 1926, de Peñalosa e Filiberto. Caminito hoje é visitado por centenas
de turistas todos os dias. Percorra o
famoso Caminito para vivenciar um
bairro cuja identidade permanece arraigada em muito trabalho e nas roupas
penduradas nos varais. A mistura de luzes, barulhos e tons cativam tanto os
moradores quanto os visitantes. Alguns acabam voltando de tempos em tempos. Na esquina
está o Museo Quinquela Martín, uma homenagem
ao pintor mais famoso do bairro e uma boa aproximação da obra. Quinquela Martín
também fez a doação do Teatro de La Ribera,
que está a poucos metros e para o qual pintou alguns murais. O arquiteto do
século XIX Guillermo Alvarez construiu a chamada “Torre Fantasma”, uma coluna modernista assombrada pelo espírito de
uma bela pintora que projeta sua sombra por trás das janelas do último andar. O
bairro é um espetáculo cotidiano que não se encontra por aí todo dia.
|
Varais em La Boca |
Em La
Boca, é bom saber onde você está se enfiando. O bairro pode ser
surpreendente. Seu jeito imprevisível e aventureiro às vezes pode assustar os
visitantes. O bairro é considerado
perigoso por grande parte dos argentinos e fica distante dos principais pontos
de interesse para um turista. Não visite o bairro à noite. A movimentação ali
está por todos os lados. Sua localização bem na boca do Riachuelo lançou a moda de imersão em movimento. Dizem também que
é um dos motivos pelo qual o bairro tem esse nome. La Boca tem uma paisagem imbatível que faz do bairro um dos mais
conhecidos de Buenos Aires. Uma
mistura e tanto de ícones culturais enche o Caminito de cores vibrantes e atrai multidões – que os moradores
locais preferem evitar. As calçadas dali fazem às vezes de pista de dança e de
sala de jantar, tudo ao mesmo tempo. Elas servem de espaço para barracas que
vendem lembrancinhas e para músicos que querem apresentar seu som. É
praticamente um carnaval. É um festival. É um desfile.
|
Turistas em La Boca |
|
Restaurante em La Boca |
A poucos
quilômetros do centro da cidade, La Boca
tem um jeito mais aconchegante do que movimentado. Apesar de ser bastante
visitado e de suas ruas sempre contarem com uma boa dose de pedestres, cafés e
parques, esse bairro todo animado mantém uma pegada intimista. O bairro possui
duas grandes atrações: O Estádio do Boca
Juniors (La Bombonera), o time
com maior quantidade de torcedores da Argentina
e conhecido por serem absurdamente fanáticos por futebol, e o Caminito, onde parte do bairro foi restaurada. Os imigrantes
italianos criaram em La Boca os dois
futuros clubes mais populares do país: não só o Boca Juniors, mas também o River
Plate foi criado no bairro,
posteriormente mudando-se para a área mais nobre de Belgrano. A rivalidade originou-se justamente da proximidade entre
os dois clubes, só depois se acentuando em razão de o River passar a representar a elite portenha, enquanto o Boca popularizou-se como o clube dos
operários. A herança genovesa encontra-se nas duas equipes: os torcedores do Boca são conhecidos como
"xeneizes", expressão derivada de "zeneize", que quer dizer
"genovês" no dialeto da Ligúria; e o branco e vermelho do River são as cores da bandeira de Gênova.
|
Um dos bares típicos de Caminito |
|
La Bombonera |
O Boca
Juniors é um dos times de futebol mais queridos da Argentina. Apelidado de La
Bombonera devido a seu aspecto retangular que se assemelha a uma caixa de
bombons, o Estádio Alberto J. Armando
é a sede do Boca Juniors. O Estádio
foi construído em 1940, e tem uma capacidade de cerca de 60 mil pessoas. No
exterior, pode-se ver um mural realizado pelo artista Pérez Celis. No espaço,
também funciona o Museo de La Pasión
Boquense, que apresenta a história do clube fundado em abril de 1905. Em
parte, a glória do Boca vem do
jogador que os argentinos consideram o melhor do mundo, Diego Maradona.
Maradona é conhecido como “o filho
predileto da Argentina”, e o
orgulho que La Boca sente pelo seu
time dá para sentir no ar. O próprio bairro diz isso com todas as letras.
|
La Bombonera |
|
Ponte Ferroviária em La Boca |
Apesar do fascínio que o Caminito costuma exercer sobre os
sentidos dos visitantes, a cultura em La
Boca vai muito além do tango pelas ruas e dos cafés cortados. Construído ao
redor de uma mansão de estilo italiano do século XIX, a Fundación PROA, um museu de arte moderna de classe mundial, fica
bem perto do Caminito. De fora ele
impressiona. E lá dentro impressiona mais ainda. O turismo tomou conta das
ruas, mas não de uma forma legal, foi meio desenfreado, exagerado: está tudo um
pouco descuidado e os restaurantes e cafés de tango disputam atenção dos
turistas com música alta e garçons te chamando. Claro, a comunidade ainda vive
lá, e muita gente ainda de maneira precária. Os preços estão inflacionados, mas
acho que ainda vale a pena dar uma passada – não apenas para andar no Caminito, mas também para visitar a Fundación Proa e ver a velha ponte
ferroviária que corta o Rio de La Plata.
Nenhum comentário:
Postar um comentário