domingo, 13 de março de 2016

Tour por Buenos Aires - La Boca

Caminito em La Boca
No que diz respeito aos bairros da capital argentina, é impossível não falar sobre o tradicionalíssimo Bairro La Boca: o berço da história portenha e um dos pontos mais emblemáticos de Buenos Aires. Afinal, estamos falando do bairro mais antigo da cidade. La Boca é um bairro da cidade de Buenos Aires, na Argentina, que por sua localização próxima ao porto, às margens do Riachuelo, que desemboca no Rio de La Plata, foi habitada por muitos estrangeiros que chegavam pelo porto para trabalhar. Já sua personalidade é resultado da instalação de residências de imigrantes, principalmente italianos, mas também espanhóis, gregos, alemães e dispersos grupos de franceses e saxões. La Boca, em 1882, era habitado quase que exclusivamente por imigrantes genoveses. Por desentendimentos nas relações de trabalho, promoveram uma greve geral. No transcurso da greve, como todos eram da mesma origem, declararam La Boca como região autônoma. Pensavam-na como a República de San Marino. Passo seguinte comunicaram ao Rei Vittorio Emmanuele da Itália (há poucos anos unificada), ensejando o reconhecimento como nova nação. O presidente da Argentina Julio Argentino Roca pessoalmente - acompanhando o exército argentino - promoveu a dissuasão dos habitantes e retirou a bandeira genovesa que fora içada. Ainda hoje se reúnem em La Boca simbolicamente Presidente e Ministério da República Independiente de La Boca.

Conventillos em La Boca
Ali nasceram as famosas boates e vivendas coletivas que albergavam transitoriamente aos recém-chegados a Buenos Aires. La Boca é o bairro mais visitado por turistas, mas também um dos mais pobres da cidade. As pessoas têm um forte senso de pertencimento ao bairro e participam de várias atividades comunitárias. Os imigrantes construíram suas casas com ferro corrugado (zinco) que deu identidade ao bairro. As moradias são casas com muitos quartos, um pátio central e um banheiro compartilhado. Os quartos são alugados a famílias diferentes. As casas são conhecidas como "conventillos". As casas são pintadas com muitas cores, com sobras de tinta para barcos, daí surge a grande variedade de cores. Por inundações frequentes e incêndios sofridos por condições precárias de habitação, um grupo de bairro em 1884 formou o Corpo de Bombeiros Voluntários (o primeiro na América do Sul).

Caminito
A rua mais famosa do bairro é chamada de “Caminito”, onde diversos artistas e pintores vendem seus trabalhos aos visitantes. Na década de 1950, o morador Arturo Carrega decidiu recuperar o terreno onde antes era um estreito arroio e mais tarde passava o trem. Carrega convocou ao pintor Benito Quinquela Martín, que batizou a rua como “Caminito” pelo título do popular tango de 1926, de Peñalosa e Filiberto. Caminito hoje é visitado por centenas de turistas todos os dias. Percorra o famoso Caminito para vivenciar um bairro cuja identidade permanece arraigada em muito trabalho e nas roupas penduradas nos varais. A mistura de luzes, barulhos e tons cativam tanto os moradores quanto os visitantes. Alguns acabam voltando de tempos em tempos. Na esquina está o Museo Quinquela Martín, uma homenagem ao pintor mais famoso do bairro e uma boa aproximação da obra. Quinquela Martín também fez a doação do Teatro de La Ribera, que está a poucos metros e para o qual pintou alguns murais. O arquiteto do século XIX Guillermo Alvarez construiu a chamada “Torre Fantasma”, uma coluna modernista assombrada pelo espírito de uma bela pintora que projeta sua sombra por trás das janelas do último andar. O bairro é um espetáculo cotidiano que não se encontra por aí todo dia.


Varais em La Boca
Em La Boca, é bom saber onde você está se enfiando. O bairro pode ser surpreendente. Seu jeito imprevisível e aventureiro às vezes pode assustar os visitantes. O bairro é considerado perigoso por grande parte dos argentinos e fica distante dos principais pontos de interesse para um turista. Não visite o bairro à noite. A movimentação ali está por todos os lados. Sua localização bem na boca do Riachuelo lançou a moda de imersão em movimento. Dizem também que é um dos motivos pelo qual o bairro tem esse nome. La Boca tem uma paisagem imbatível que faz do bairro um dos mais conhecidos de Buenos Aires. Uma mistura e tanto de ícones culturais enche o Caminito de cores vibrantes e atrai multidões – que os moradores locais preferem evitar. As calçadas dali fazem às vezes de pista de dança e de sala de jantar, tudo ao mesmo tempo. Elas servem de espaço para barracas que vendem lembrancinhas e para músicos que querem apresentar seu som. É praticamente um carnaval. É um festival. É um desfile.

Turistas em La Boca

Restaurante em La Boca
A poucos quilômetros do centro da cidade, La Boca tem um jeito mais aconchegante do que movimentado. Apesar de ser bastante visitado e de suas ruas sempre contarem com uma boa dose de pedestres, cafés e parques, esse bairro todo animado mantém uma pegada intimista. O bairro possui duas grandes atrações: O Estádio do Boca Juniors (La Bombonera), o time com maior quantidade de torcedores da Argentina e conhecido por serem absurdamente fanáticos por futebol, e o Caminito, onde parte do bairro foi restaurada. Os imigrantes italianos criaram em La Boca os dois futuros clubes mais populares do país: não só o Boca Juniors, mas também o River Plate foi criado no bairro, posteriormente mudando-se para a área mais nobre de Belgrano. A rivalidade originou-se justamente da proximidade entre os dois clubes, só depois se acentuando em razão de o River passar a representar a elite portenha, enquanto o Boca popularizou-se como o clube dos operários. A herança genovesa encontra-se nas duas equipes: os torcedores do Boca são conhecidos como "xeneizes", expressão derivada de "zeneize", que quer dizer "genovês" no dialeto da Ligúria; e o branco e vermelho do River são as cores da bandeira de Gênova.

Um dos bares típicos de Caminito

La Bombonera
O Boca Juniors é um dos times de futebol mais queridos da Argentina. Apelidado de La Bombonera devido a seu aspecto retangular que se assemelha a uma caixa de bombons, o Estádio Alberto J. Armando é a sede do Boca Juniors. O Estádio foi construído em 1940, e tem uma capacidade de cerca de 60 mil pessoas. No exterior, pode-se ver um mural realizado pelo artista Pérez Celis. No espaço, também funciona o Museo de La Pasión Boquense, que apresenta a história do clube fundado em abril de 1905. Em parte, a glória do Boca vem do jogador que os argentinos consideram o melhor do mundo, Diego Maradona. Maradona é conhecido como “o filho predileto da Argentina”, e o orgulho que La Boca sente pelo seu time dá para sentir no ar. O próprio bairro diz isso com todas as letras.

La Bombonera

Ponte Ferroviária em La Boca
Apesar do fascínio que o Caminito costuma exercer sobre os sentidos dos visitantes, a cultura em La Boca vai muito além do tango pelas ruas e dos cafés cortados. Construído ao redor de uma mansão de estilo italiano do século XIX, a Fundación PROA, um museu de arte moderna de classe mundial, fica bem perto do Caminito. De fora ele impressiona. E lá dentro impressiona mais ainda. O turismo tomou conta das ruas, mas não de uma forma legal, foi meio desenfreado, exagerado: está tudo um pouco descuidado e os restaurantes e cafés de tango disputam atenção dos turistas com música alta e garçons te chamando. Claro, a comunidade ainda vive lá, e muita gente ainda de maneira precária. Os preços estão inflacionados, mas acho que ainda vale a pena dar uma passada – não apenas para andar no Caminito, mas também para visitar a Fundación Proa e ver a velha ponte ferroviária que corta o Rio de La Plata.

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