sábado, 12 de março de 2016

Tour por Buenos Aires - San Telmo

San Telmo
Pense num bairro de Buenos Aires bem antigo e com casarões centenários. De calçadas estreitas e ruas de paralelepípedos. Com esse charme todo que o converte rapidamente num dos lugares favoritos dos turistas estrangeiros. Sim, estamos falando de San Telmo, aquele pequeno pedaço de Buenos Aires cuja tradição contagia e seduz. Logo ao sul de Montserrat, San Telmo ocupa uma posição central na história de Buenos Aires. Originalmente povoado por estivadores e oleiros no século XVII, o bairro mais antigo de Buenos Aires não deixa escapar seu charme colonial. Em suas origens, a área foi se povoando com trabalhadores portuários, e se encontrava fora da área urbana, limitada aos arredores da Plaza de Mayo. Além do mais, o Arroio Tercero Del Sur a separava fisicamente, especialmente quando transbordava com as chuvas. Como o lugar estava em um platô, era conhecido como El Alto. O principal local onde se assentaram os moradores era a Calle Real, atual Calle Defensa, que conectava diretamente a Plaza Mayor (hoje Plaza de Mayo) com a margem do rio.

Parroquia de San Pedro
González Telmo
Em 1748, em um terreno doado pelo vizinho Don Ignacio Bustillo y Zeballos, a Ordem dos Jesuítas começou a construção da Iglesia de Nuestra Señora de Belém, junto a qual se instalou a Casa de Ejercicios Espirituales. Por esta última, começou a ser conhecido como o Bairro da Residência. Quando em 1767 os jesuítas foram expulsos da América pelo Reino da Espanha, os bethlemitas assumiram a Igreja em 1785, e a "residência" começou a ser usada como uma prisão. Quando em 1806 se criou a Parroquia de San Pedro González Telmo, a Iglesia de Belém foi eleita como templo provisório, esperando a construção da Igreja consagrada a esse santo, que nunca seria executada. San Telmo tem três igrejas, todas bem diferentes uma da outra. A primeira da lista é a Parroquia de San Pedro González Telmo (o padroeiro dos marinheiros), que é hoje Monumento Histórico Nacional. A fachada é de estilo eclético, com elementos arquitetônicos neocoloniais. Na parte superior se encontra a imagem de San Pedro González Telmo. A que mais chama a atenção, no entanto, é mesmo a Igreja Ortodoxa Russa, em frente ao Parque Lezama. Foi inaugurada em 1904, de acordo com projeto original do arquiteto Mihail Preobrazensky. Seu estilo é moscovita do século XVII. Na fachada, em mosaico veneziano, há uma representação da Santíssima Trindade, realizado em São Petersburgo. Mais escondida, está a Igreja Dinamarquesa inaugurada em 1931 e de estilo neogótico, com traços da arquitetura nórdica.


Prédios tombados pelo 
Patrimônio Histórico Nacional
Assim, o bairro começou a ser chamado Alto de San Pedro. Em uma lacuna situada sobre a Calle Defensa, foi criado no fim do século XVIII um lugar de parada para veículos que vinham com mercadorias de Riachuelo, conhecido como o Hueco Del Alto ou o Alto de las Carretas. Ali, os portenhos juraram independência da Espanha, firmada em Tucumán em 1816. Apesar das dificuldades, depois da Independência da Argentina o bairro começou a melhorar com a instalação de gás, luz, água encanada, esgoto, entre outras coisas. A Plaza foi chamada Del Comercio em 1822, e na década de 1860 se estabeleceu o Mercado, que permaneceu até que em 1897 se inaugurou o atual Mercado San Telmo. O Mercado tinha barracas de açougue, peixe, legumes, floricultura, padaria e sapataria. Logo o Mercado se tornou um dos lugares favoritos para os moradores de San Telmo. Pouco depois, a Plaza foi chamada Coronel Dorrego.

Prédios Históricos em San Telmo

Prédios Históricos em San Telmo
San Telmo foi habitada por famílias tradicionais de Buenos Aires como Domingo French e Esteban Echeverría, até que a epidemia de febre amarela de 1871 os fez mudar para o norte. Assim começaram a alugar suas casas antigas para imigrantes europeus que na mesma época começaram a chegar em grande número, por uma política do Governo Nacional. Buscando a sorte, eles se instalavam precariamente nos chamados conventillos. Nessas décadas, como a arquitetura moderna começou a se espalhar na Argentina, começou a demolição e alteração de vários edifícios no bairro, perdendo parte de seus principais patrimônios. Recentemente, em 1970, graças à iniciativa do arquiteto José María Peña, fundador do Museu da Cidade, foi criado na Plaza Coronel Dorrego a Feira de Coisas Velhas e Antiguidades de San Pedro Telmo, dedicada a antiguidades e objetivando que os portenhos valorizassem seu patrimônio histórico. Mercadorias artesanais e itens colecionáveis inusitados enchem as barraquinhas que formam a Feira. Com o passar dos anos, se formou um pequeno polo de antiquários pitorescos que começaram a atrair turistas e foi a semente da impressão atual que o bairro passa.

Plaza Dorrego

Plaza Dorrego
Há lojas que oferecem peças de arte, antiguidades, móveis de séculos passados, artesanatos de prata de América, e todo tipo de lembranças. Sem a magia da Feira, as ruas de San Telmo certamente ficariam mais sonolentas aos domingos. O local, além das muitas barraquinhas de antiguidades, abriga artistas locais de todos os gêneros: de dançarinos de tango a mímicos, sendo palco, também, de artistas anônimos, em busca de alguns trocados e diversão. Tem muita música ao vivo, gente dançando e performances ecléticas por ali, o que deixa o clima com jeito de carnaval. Em meio a toda essa energia, você fica com a impressão de que a cidade toda foi passar o domingo em San Telmo. San Telmo entrou no circuito turístico de Buenos Aires principalmente por sua Feira de Coisas Velhas e Antiguidades, que existe há mais de 40 anos e acontece todos os domingos. A Plaza Coronel Dorrego também é um atrativo em si. É a segunda Plaza mais antiga de Buenos Aires, depois da Plaza de Mayo, e é o coração de San Telmo. Aproveite para fazer um pit-stop, tomar uma cervejinha ou um café nos lugares ao redor da pracinha, vendo um show de tango ao ar livre. Sempre há bailarinos pela região. Mas não se esqueça de deixar uma boa gorjeta no chapéu, especialmente se fizer fotos – eles vivem da generosidade dos turistas. 

Plaza Dorrego

Prédios Históricos em San Telmo
Em 1978, o bairro sofreu uma drástica modificação quando Osvaldo Cacciatore finalizou o projeto de ampliação de velhas avenidas. Assim, as Calles Independência e San Juan de Garay foram expandidas e todos os seus edifícios de antes de 1910 foram demolidos, incluindo a Casa de Orange, a mais antiga de pé da cidade (século XVII). Em 1979, o arquiteto Peña liderou o projeto, onde uma área de 120 quarteirões do Bairro Sul, deveria manter intactos os prédios como patrimônios históricos, e os que fossem construídos no futuro deveriam ter estilo contemporâneo, para não serem confundidos com os autênticos. Essa lei controversa seria o primeiro passo para a preservação da arquitetura antiga da cidade. Sua área completa é considerada Monumento Histórico Nacional. San Telmo conserva todos os rasgos legítimos da autêntica Buenos Aires: as ruas empedradas, altas árvores e um estilo particular de lâmpadas que ainda estão em uso, brindando ao bairro uma atmosfera de recordações únicas.

Prédios Históricos em San Telmo

Feira de San Telmo
Moradores locais, viajantes, artistas e historiadores são seduzidos pelos prédios de San Telmo e sua atmosfera antiga. É bem verdade que o charme decadente de San Telmo pode levar um tempo para conquistar os viajantes. Num primeiro momento, quem passa com pressa pelas suas avenidas pode achar suas construções mal preservadas nada atraentes. Porém, basta parar alguns segundos que nos damos conta dos seus detalhes sedutores. As fachadas rústicas e o cenário romântico que se vê por ali garantem a posição do bairro como um dos preferidos e mais requisitados da cidade. Repleto de histórias e não menos cheio de vivacidade, San Telmo é mesmo um caso à parte. O brilho do bairro parece eterno. Hoje em dia, porém, não é mais a alta classe que vive na região. O bairro é ótimo para conhecer caminhando e observando as lojas de roupas, decoração e objetos antigos. Mas San Telmo tem um espírito bem mais jovem. O melhor dia para ir até o lugar é o domingo, quando acontece a Feira de San Telmo, o mercado de pulgas mais famoso de Buenos Aires, uma das mais legais de toda a cidade – suas ruas ficam cheias de gente.

As cores de San Telmo

Arquitetura típica de San Telmo
Um café clássico aqui, uma sacada fotogênica acolá e uma simpática pracinha no meio de tudo isso. Pronto. Você provavelmente já está disposto a aceitar o convite de San Telmo para passar mais algumas horas juntos. Mas não se preocupe, pois apesar de ser um bairro tradicional, este encontro não precisa ser tão conservador. Apesar de sua idade, a vivacidade das ruas do bairro não diminui, e seu charme imprevisível se mostra irresistível a cada esquina. O Bairro de San Telmo é conhecido como o bairro boêmio da cidade. Do mais refinado ao descontraído, San Telmo é conhecido por sua profusão de cafés e restaurantes. Como acontece na maioria da cidade, os comensais preferem as mesinhas na calçada aos espaços internos. Rico em tradições, mas sempre aberto às tendências contemporâneas, o bairro tem uma boa dose de restaurantes elegantes para complementar seus cafés informais. Eles misturam com maestria sabores argentinos com toques internacionais. A Avenida Caseros, em San Telmo, vem sendo considerada a “nova Palermo”, especialmente em função do polo gastronômico e dos novos investimentos imobiliários. Em San Telmo é sempre tempo para mais uma rodada de comes e bebes. 

Bares de San Telmo

Detalhes das sacadas dos prédios em San Telmo
Se a Recoleta conquista pelo charme e Palermo pelo astral descolado, San Telmo utiliza a via oposta para encantar os turistas. Quem reina no bairro é a atmosfera nostálgica de um passado que não se deixa no esquecimento. É aquele tipo de lugar que a gente demora em gostar, mas depois que somos seduzidos queremos estender ao máximo nossa relação. Espere encontrar casarões antigos, ruas tranquilas e ruas agitadas, lojas de antiguidades, além de cafeterias e restaurantes que estão ali há mais de décadas. Para quem está em busca de um lugar para se hospedar, San Telmo também possui boas acomodações a preços realistas. Suas calçadas servem de palco para demonstrações improvisadas e verdadeiras festas itinerantes. Suas igrejas, torres, parques e praças são exemplos vivos da história de San Telmo. Os prédios dali são a redefinição de certa elegância decadente.

Detalhes das sacadas dos prédios em San Telmo

Arquitetura típica de San Telmo
A história de San Telmo propicia um solo mais que fértil para a cena artística. Aqui, história e cultura de primeira se encontram. Inaugurado em setembro de 2012, o Museu de Arte Contemporânea de Buenos Aires (MACBA) tem o acervo composto pela coleção de Aldo Rubino, que data da década de 1980 e reúne itens da produção artística contemporânea local e internacional com tendências de abstração geométrica. Já o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires (MAMBA), criado em 1956, por iniciativa do crítico de arte Rafael Squirru, expõe a produção argentina de arte contemporânea com tendências vanguardistas das décadas de 1940 a 1960, além de obras nacionais e internacionais que datam de 1920 até os dias atuais. Com acervo de cerca de sete mil obras, o Museu apresenta exposições permanentes e itinerantes que contemplam artistas mundialmente reconhecidos, como Joan Miró e Pablo Picasso. Já as artes performáticas têm seu espaço próprio nas casas de tango e salões de baile do bairro. San Telmo não faz cerimônia na hora de revelar sua idade. A passagem do tempo permitiu aos donos de estabelecimentos dali acumularem montanhas e mais montanhas de antiguidades. Lojas que vendem itens curiosos e efemeridades prosperam por lá. Mesmo para quem não gosta de antiguidades ou do movimento tangueiro, San Telmo é uma opção charmosa para um passeio descompromissado. 

Arquitetura típica de San Telmo

Prédios tombados pelo Patrimônio
Histórico Nacional
Instalado na Calle Defensa, está o Museu Histórico Nacional, no Parque Lezama. Na década de 1880, após meio século de guerras civis, o Museu Histórico Nacional foi criado para contribuir com a consolidação da Argentina como Estado Nação, desenvolvendo a memória coletiva e o sentimento de pertencimento do povo argentino a partir de uma iconografia patriótica. O Parque Lezama onde está situado ocupa uma grade área com fontes, esculturas, playground, amplas alamedas, bancos e muito verde. Em 1857, José Gregorio Lezama adquiriu a propriedade que atualmente abriga o Parque Lezama, exportou árvores e plantas exóticas de todo o mundo, contratou paisagistas belgas e a transformou em um dos jardins privados mais luxuosos da época. Após seu falecimento, em 1889, sua esposa, Ángela de Álzaga, decidiu vender o terreno para a municipalidade, com a condição de que se tornasse um espaço público batizado com o nome de seu marido. Em 1894, o Parque foi inaugurado. Seu conjunto de esculturas chama atenção pela diversidade. Entre as obras, monumentos representam Madre Tereza de Calcutá, La Loba Romana e Palas Atenas, além de Don Pedro Mendoza (fundador de Buenos Aires) e a Cordialidade Argentino-Uruguaia. O Parque Lezama se estabeleceu a partir do local onde Buenos Aires foi fundada no século XVI pelos colonizadores espanhóis. Dá para dizer tranquilamente que o que eles plantaram ali deu certo e se tornou uma cidade toda cultivada. Muitos séculos depois, o Parque continua refrescando os argentinos em tardes quentes e fins de semana de tranquilidade.

Ruas de San Telmo

Museu Histórico Nacional
Por aqui viveu Joaquín Salvador Lavado Tejón, Quino, o célebre cartunista argentino, criador da sapeca e boca-dura Mafalda. Mafalda ficou conhecida por seus questionamentos e sua preocupação com causas sociais entre os anos 1960 e 1970, mas continua muito popular até os dias de hoje. A Estátua da Mafalda, na esquina das Calles Chile e Defensa, em San Telmo, é outro hit do bairro. Nos finais de semana há fila para tirar uma foto com a personagem mais famosa e querida dos quadrinhos argentinos. A estátua mede 80 centímetros, a obra foi construída pelo escultor Pablo Irrgang e está lá desde agosto de 2009. Em 2014, ganhou a companhia de dois de seus melhores amigos: Susanita e Manolito, quando a personagem completou 50 anos. A Estátua da Mafalda é o ponto de partida do Paseo de La Historieta, uma homenagem aos quadrinhos argentinos, que termina no Museu do Humor, em Puerto Madero.

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