O Arco do Triunfo era uma forma característica dos romanos. Seu
significado era religioso, ao final de uma campanha militar, os soldados eram
levados a passar embaixo de uma “porta mágica” arqueada para expurgar sua
agressividade, adaptando-se à vida civil. Posteriormente os arcos triunfais
eram uma monumental passagem pela qual os imperadores faziam suas paradas durante
as marchas. Desde o século I, esses arcos eram erguidos em pedra e ricamente
esculpidos, como portais ou monumentos comemorativos. Construídos por todo o Império Romano, os arcos do triunfo
eram de dois tipos: com uma arcada única, como o Arco de Tito, ou com uma estrutura de três partes, com dois arcos
menores ladeando um arco extenso.
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Arco de Constantino |
Quem visita o Coliseu localizado na região assim
chamada de Roma Antiga acaba por
visitar também o Arco de Constantino,
seu vizinho, e que é um dos mais bem preservados monumentos da era imperial. O Arco de
Constantino é um arco triunfal em Roma,
a curta distância para oeste do Coliseu,
praticamente ao lado e em frente ao acesso à Via Sacra do Fórum Romano. Foi erigido
por ordem do Senado Romano para
comemorar os 10 anos de reinado de Constantino e a vitória do Imperador diante
de seu antecessor, o Imperador Massenzio, na Batalha da Ponte Milvia, no ano 312. Numa altura em que o Império Romano estava
dividido, vários imperadores governavam zonas distintas, Massenzio era o Imperador de Roma e Constantino de Gália,
Hispânia e Bretanha. A Ponte Mílvia
continua até hoje em pé salvando as águas do Rio Tibre. A batalha está representada na banda pouco esculpida
sobre o lado direito do Arco, na frente oposta ao Coliseu. Assim a Coluna de
Trajano, o Arco de Constantino
foi totalmente esculpido narrando os gestos heroicos da vitória de Constantino
I.
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Arco de Constantino |
O Arco teve sua
inauguração oficialmente declarada em julho de 315, juntamente com os Arcos de Tito e de Septimius Severus,
que formam a famosa tríade dos arcos triunfais de Roma, ambos localizados nas dependências do Fórum Romano. A localização escolhida, entre o Monte Palatino e o Monte
Célio, era o ponto onde a antiga Via
Triunfal se juntava à Via Sacra,
a rota seguida pelos imperadores quando entravam na cidade para celebrar um
triunfo — ela começava no Campo de Marte,
atravessava toda a extensão do Circo
Máximo e contornava o Monte Palatino;
no ponto onde estava o Arco, a rota fazia uma curva à esquerda na Meta Sudans e seguia pela Via Sacra através do Fórum Romano até chegar ao Monte Capitolino, passando através do Arco de Tito e do Arco de Septimius
Severus no caminho. Foi o último e o maior dos arcos
triunfais construídos em Roma. Logo
depois da construção do Arco, Constantino mudou a capital do Império para Bizâncio, que passou a se chamar Constantinopla.
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Arco de Constantino |
O
Arco possui 21 metros de altura, 25,9 metros de largura e 7,4 metros de
profundidade. Há três arcos de passagem, o
central com 11,5 metros de altura e 6,5 de largura e os laterais com 7,4 metros
de altura e 3,4 metros de largura cada um. Sobre as passagens está o ático,
construído em tijolos e revestido de mármore. Uma escadaria dentro do Arco pode
ser acedida a partir de uma porta que abre a certa altura do chão, no lado
oeste (do Monte Palatino). O projeto
geral, com uma parte principal estruturada por colunas destacadas e um ático
com a inscrição principal acima foi baseado no Arco de Septimius Severus, no Fórum Romano.
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Arco de Constantino |
O Arco de Constantino
é um importante exemplo, frequentemente citado em obras de história da
arte, das mudanças estilísticas do século IV. O contraste entre os estilos
das imagens reutilizadas do século II e as recém-criadas
para o Arco é dramático. A majestosa construção é um pouco eclética
porque reúne peças de outros monumentos romanos antigos, fazendo alusão a
outros grandes vencedores: Trajano, Marco Aurélio e Adriano. Esta mistura lhe valeu o jocoso apelido de “Cornacchia di Esopo” (“O Corvo de
Esopo”). Uma das razões para recorrer a restos de outras construções foi a
crise do século IV que sofreu as oficinas de Roma, que não poderia
lidar com uma obra de tal magnitude. Após a construção deste Arco, Constantino se converteu ao cristianismo.
Seu reinado durou até o ano 337. Ele foi um monarca que tentou combinar o
cristianismo com
uma aristocracia da tradição pagã.
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Arco de Constantino e as ruínas do Monte Palatino |
O Arco está decorado com duas colunas caneladas destacadas em
cada uma das duas fachadas dos dois pilares, num total de oito colunas. No alto
de cada uma delas está uma estátua representando dácios da época do Imperador
Trajano. Sobre a passagem central está a inscrição dedicatória, a porção mais
proeminente do ático e idêntica nas duas fachadas. A inscrição principal no
ático originalmente era composta por letras de bronze, mas elas se perderam.
Apesar disto, o texto pode ser facilmente lido por causa das ranhuras onde elas
se assentavam e dos buracos onde estavam os pinos que as prendiam. Flanqueando
a inscrição, acima das duas passagens laterais, estão quatro pares de painéis
em relevo. Duas inscrições menores no interior da passagem central passam uma
mensagem similar: Constantino não era um conquistador, mas o libertador de Roma que estava ocupada.
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Arco de Constantino |
Na fachada norte, da esquerda para a direita, eles
representam o retorno do Imperador depois da campanha (adventus), o Imperador deixando a cidade saudado pela
personificação da Via Flamínia, o Imperador
distribuindo dinheiro ao povo (largitio)
e o Imperador interrogando um prisioneiro germânico. Na fachada sul, também da
esquerda para a direita, estão um chefe inimigo capturado levado ao Imperador,
uma cena similar com outros prisioneiros, o Imperador discursando para a tropa
(adlocutio) e o Imperador
sacrificando um porco, uma ovelha e um touro (suovetaurilia). Juntamente com os três painéis atualmente
preservados nos Museus Capitolinos,
estes relevos foram provavelmente retirados do chamado Arco de Marco Aurélio, construído para comemorar a guerra contra
marcomanos e sármatas entre 169 e 175 e que terminou com o retorno triunfante do
Imperador em 176. No painel largitio,
a imagem do filho de Marco Aurélio, Cômodo, foi removida depois que ele teve um
damnatio memoriae decretado contra
si. Da mesma época são dois grandes painéis (três metros de altura) que decoram
o ático nas fachadas menores do leste e oeste e mostram cenas da Campanha Dácia de Trajano. Juntamente
com os dois relevos no interior do arco central, estes dois relevos vieram de
um grande friso que celebrava a vitória Dácia e que provavelmente estava
instalado ou no Fórum de Trajano ou
no quartel da cavalaria imperial no Monte
Célio.
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Arco de Constantino e as ruínas do Monte Palatino |
O layout geral da porção inferior é idêntico nas duas
fachadas do Arco, com quatro colunas e seus plintos dividindo a estrutura em um
arco central maior e dois laterais, menores, estes encimados por dois relevos
redondos sobre o friso horizontal. As quatro colunas são da ordem coríntia e
foram esculpidas em mármore amarelo, um das quais foi transferida para San Giovanni in Laterano e substituída
por outra de mármore branco. Os plintos estão encostados no Arco e suas três
faces visíveis estão decoradas com relevos. Os frontais mostram a
personificação da Vitória, ora escrevendo num escudo, ora segurando folhas de
palmeira; os laterais mostram bárbaros capturados, sozinhos ou com soldados
romanos. Apesar de serem da época de Constantino, o tema foi baseado nos relevos
do Arco de Septimius Severus
e no hoje perdido Arco Novo e podem
ser considerados como um item padrão.
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Arco de Constantino |
Os pares de relevos redondos sobre as passagens laterais são
da época do Imperador Adriano e mostram cenas de caça e sacrifícios religiosos.
Na Fachada Norte, da esquerda para a direita, uma caçada de javali, um
sacrifício a Apolo, uma caçada de leão e um sacrifício a Hércules. Na Fachada Sul, também da esquerda para a direita, a partida para uma caçada, um
sacrifício a Silvano, a caçada de um urso e um sacrifício a Diana. A cabeça do
Imperador (originalmente Adriano) foi retrabalhada em todos eles: Constantino
no caso das cenas de caçada e Licínio ou Constâncio I nas de sacrifício na
fachada norte; na fachada sul, vice-versa. Cada um deles tem cerca de dois
metros de diâmetro e estavam emolduradas em pórfiro, mas a moldura só
sobreviveu do lado direito da fachada norte. Esculturas circulares similares,
de origem constantiniana, estão nas duas fachadas menores laterais do Arco: a
leste mostra o nascer do sol e a oeste, a lua, ambos em carruagens. As enjuntas
do arco principal estão decoradas com relevos da Vitória com troféus. As dos
arcos menores, de deuses fluviais. Estes relevos, assim como os dos plintos,
são de origem constantiniana.
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Arco de Constantino |
Os frisos horizontais abaixo dos relevos redondos são os
principais elementos da época de Constantino, decorando a volta toda do Arco,
um sobre cada um dos arcos laterais em cada uma das fachadas e mais dois nas
fachadas menores leste e oeste. Estes relevos de tema histórico representam
cenas da campanha italiana de Constantino contra Massenzio, o motivo pelo qual
o Arco foi construído. A “história” começa na fachada oeste, com a partida de
Constantino de Mediolano (profectio). Ele continua na Fachada Sul,
com o Cerco de Verona (obsidio) na esquerda, um dos principais
eventos da guerra no norte da Itália,
e a Batalha da Ponte Mílvia na
direita, com o exército de Constantino vitorioso e o inimigo se afogando no Tibre (proelium). Na Fachada Leste, Constantino e seu exército entram em Roma (ingressus) – o artista parece ter evitado propositalmente utilizar
imagens de um triunfo, pois o Imperador provavelmente não queria se mostrar
triunfante sobre a própria capital romana. Finalmente, na Fachada Norte,
aparece Constantino discursando no Fórum
Romano na esquerda (oratio) e
Constantino distribuindo dinheiro para o povo (liberalitas) na direita.
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Arco de Constantino à esquerda e Arco de Tito ao fundo |
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Arco de Constantino |
A sua dimensão pode não
impressionar se compararmos com outros arcos de triunfo construídos noutras
cidades, mas considerando a sua idade diria que ainda assim é impressionante
tanto em tamanho como em longevidade. Hoje em
dia ainda existem quatro grandes arcos antigos em Roma, e três deles são triunfais: o Arco de Constantino, o Arco de Tito, o Arco de Septimius Severus; e o quarto arco
(não triunfal) é o Arco de Giano. Durante a Idade Média, o Arco de Constantino foi incorporado
à fortaleza de uma das famílias de Roma, como aconteceu
com muitos dos monumentos antigos da cidade. Obras para restaurá-lo ao seu
estado original foram realizadas pela primeira vez no século XVIII e a última
no final da década de 1990, pouco antes do Grande
Jubileu do ano 2000.
Durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1960, o Arco de Constantino serviu como linha de chegada para a
maratona. Atualmente o Arco fica cercado com grades para impedir que sofra
alguma depredação ou pichações por vandalismo.
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