quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Roma - Arco de Constantino

Arco de Constantino
O Arco do Triunfo era uma forma característica dos romanos. Seu significado era religioso, ao final de uma campanha militar, os soldados eram levados a passar embaixo de uma “porta mágica” arqueada para expurgar sua agressividade, adaptando-se à vida civil. Posteriormente os arcos triunfais eram uma monumental passagem pela qual os imperadores faziam suas paradas durante as marchas. Desde o século I, esses arcos eram erguidos em pedra e ricamente esculpidos, como portais ou monumentos comemorativos. Construídos por todo o Império Romano, os arcos do triunfo eram de dois tipos: com uma arcada única, como o Arco de Tito, ou com uma estrutura de três partes, com dois arcos menores ladeando um arco extenso.

Arco de Constantino
Quem visita o Coliseu localizado na região assim chamada de Roma Antiga acaba por visitar também o Arco de Constantino, seu vizinho, e que é um dos mais bem preservados monumentos da era imperial. O Arco de Constantino é um arco triunfal em Roma, a curta distância para oeste do Coliseu, praticamente ao lado e em frente ao acesso à Via Sacra do Fórum Romano. Foi erigido por ordem do Senado Romano para comemorar os 10 anos de reinado de Constantino e a vitória do Imperador diante de seu antecessor, o Imperador Massenzio, na Batalha da Ponte Milvia, no ano 312. Numa altura em que o Império Romano estava dividido, vários imperadores governavam zonas distintas, Massenzio era o Imperador de Roma e Constantino de Gália, Hispânia e Bretanha. A Ponte Mílvia continua até hoje em pé salvando as águas do Rio Tibre. A batalha está representada na banda pouco esculpida sobre o lado direito do Arco, na frente oposta ao Coliseu. Assim a Coluna de Trajano, o Arco de Constantino foi totalmente esculpido narrando os gestos heroicos da vitória de Constantino I. 

Arco de Constantino
O Arco teve sua inauguração oficialmente declarada em julho de 315, juntamente com os Arcos de Tito e de Septimius Severus, que formam a famosa tríade dos arcos triunfais de Roma, ambos localizados nas dependências do Fórum Romano. A localização escolhida, entre o Monte Palatino e o Monte Célio, era o ponto onde a antiga Via Triunfal se juntava à Via Sacra, a rota seguida pelos imperadores quando entravam na cidade para celebrar um triunfo — ela começava no Campo de Marte, atravessava toda a extensão do Circo Máximo e contornava o Monte Palatino; no ponto onde estava o Arco, a rota fazia uma curva à esquerda na Meta Sudans e seguia pela Via Sacra através do Fórum Romano até chegar ao Monte Capitolino, passando através do Arco de Tito e do Arco de Septimius Severus no caminho. Foi o último e o maior dos arcos triunfais construídos em Roma. Logo depois da construção do Arco, Constantino mudou a capital do Império para Bizâncio, que passou a se chamar Constantinopla.

Arco de Constantino
O Arco possui 21 metros de altura, 25,9 metros de largura e 7,4 metros de profundidade. Há três arcos de passagem, o central com 11,5 metros de altura e 6,5 de largura e os laterais com 7,4 metros de altura e 3,4 metros de largura cada um. Sobre as passagens está o ático, construído em tijolos e revestido de mármore. Uma escadaria dentro do Arco pode ser acedida a partir de uma porta que abre a certa altura do chão, no lado oeste (do Monte Palatino). O projeto geral, com uma parte principal estruturada por colunas destacadas e um ático com a inscrição principal acima foi baseado no Arco de Septimius Severus, no Fórum Romano.

Arco de Constantino
O Arco de Constantino é um importante exemplo, frequentemente citado em obras de história da arte, das mudanças estilísticas do século IV. O contraste entre os estilos das imagens reutilizadas do século II e as recém-criadas para o Arco é dramático. A majestosa construção é um pouco eclética porque reúne peças de outros monumentos romanos antigos, fazendo alusão a outros grandes vencedores: Trajano, Marco Aurélio e Adriano. Esta mistura lhe valeu o jocoso apelido de “Cornacchia di Esopo” (“O Corvo de Esopo”). Uma das razões para recorrer a restos de outras construções foi a crise do século IV que sofreu as oficinas de Roma, que não poderia lidar com uma obra de tal magnitude. Após a construção deste Arco, Constantino se converteu ao cristianismo. Seu reinado durou até o ano 337. Ele foi um monarca que tentou combinar o cristianismo com uma aristocracia da tradição pagã.

Arco de Constantino e as ruínas do Monte Palatino
O Arco está decorado com duas colunas caneladas destacadas em cada uma das duas fachadas dos dois pilares, num total de oito colunas. No alto de cada uma delas está uma estátua representando dácios da época do Imperador Trajano. Sobre a passagem central está a inscrição dedicatória, a porção mais proeminente do ático e idêntica nas duas fachadas. A inscrição principal no ático originalmente era composta por letras de bronze, mas elas se perderam. Apesar disto, o texto pode ser facilmente lido por causa das ranhuras onde elas se assentavam e dos buracos onde estavam os pinos que as prendiam. Flanqueando a inscrição, acima das duas passagens laterais, estão quatro pares de painéis em relevo. Duas inscrições menores no interior da passagem central passam uma mensagem similar: Constantino não era um conquistador, mas o libertador de Roma que estava ocupada. 

Arco de Constantino
Na fachada norte, da esquerda para a direita, eles representam o retorno do Imperador depois da campanha (adventus), o Imperador deixando a cidade saudado pela personificação da Via Flamínia, o Imperador distribuindo dinheiro ao povo (largitio) e o Imperador interrogando um prisioneiro germânico. Na fachada sul, também da esquerda para a direita, estão um chefe inimigo capturado levado ao Imperador, uma cena similar com outros prisioneiros, o Imperador discursando para a tropa (adlocutio) e o Imperador sacrificando um porco, uma ovelha e um touro (suovetaurilia). Juntamente com os três painéis atualmente preservados nos Museus Capitolinos, estes relevos foram provavelmente retirados do chamado Arco de Marco Aurélio, construído para comemorar a guerra contra marcomanos e sármatas entre 169 e 175 e que terminou com o retorno triunfante do Imperador em 176. No painel largitio, a imagem do filho de Marco Aurélio, Cômodo, foi removida depois que ele teve um damnatio memoriae decretado contra si. Da mesma época são dois grandes painéis (três metros de altura) que decoram o ático nas fachadas menores do leste e oeste e mostram cenas da Campanha Dácia de Trajano. Juntamente com os dois relevos no interior do arco central, estes dois relevos vieram de um grande friso que celebrava a vitória Dácia e que provavelmente estava instalado ou no Fórum de Trajano ou no quartel da cavalaria imperial no Monte Célio.

Arco de Constantino e as ruínas do Monte Palatino
O layout geral da porção inferior é idêntico nas duas fachadas do Arco, com quatro colunas e seus plintos dividindo a estrutura em um arco central maior e dois laterais, menores, estes encimados por dois relevos redondos sobre o friso horizontal. As quatro colunas são da ordem coríntia e foram esculpidas em mármore amarelo, um das quais foi transferida para San Giovanni in Laterano e substituída por outra de mármore branco. Os plintos estão encostados no Arco e suas três faces visíveis estão decoradas com relevos. Os frontais mostram a personificação da Vitória, ora escrevendo num escudo, ora segurando folhas de palmeira; os laterais mostram bárbaros capturados, sozinhos ou com soldados romanos. Apesar de serem da época de Constantino, o tema foi baseado nos relevos do Arco de Septimius Severus e no hoje perdido Arco Novo e podem ser considerados como um item padrão.

Arco de Constantino
Os pares de relevos redondos sobre as passagens laterais são da época do Imperador Adriano e mostram cenas de caça e sacrifícios religiosos. Na Fachada Norte, da esquerda para a direita, uma caçada de javali, um sacrifício a Apolo, uma caçada de leão e um sacrifício a Hércules. Na Fachada Sul, também da esquerda para a direita, a partida para uma caçada, um sacrifício a Silvano, a caçada de um urso e um sacrifício a Diana. A cabeça do Imperador (originalmente Adriano) foi retrabalhada em todos eles: Constantino no caso das cenas de caçada e Licínio ou Constâncio I nas de sacrifício na fachada norte; na fachada sul, vice-versa. Cada um deles tem cerca de dois metros de diâmetro e estavam emolduradas em pórfiro, mas a moldura só sobreviveu do lado direito da fachada norte. Esculturas circulares similares, de origem constantiniana, estão nas duas fachadas menores laterais do Arco: a leste mostra o nascer do sol e a oeste, a lua, ambos em carruagens. As enjuntas do arco principal estão decoradas com relevos da Vitória com troféus. As dos arcos menores, de deuses fluviais. Estes relevos, assim como os dos plintos, são de origem constantiniana.


Arco de Constantino
Os frisos horizontais abaixo dos relevos redondos são os principais elementos da época de Constantino, decorando a volta toda do Arco, um sobre cada um dos arcos laterais em cada uma das fachadas e mais dois nas fachadas menores leste e oeste. Estes relevos de tema histórico representam cenas da campanha italiana de Constantino contra Massenzio, o motivo pelo qual o Arco foi construído. A “história” começa na fachada oeste, com a partida de Constantino de Mediolano (profectio). Ele continua na Fachada Sul, com o Cerco de Verona (obsidio) na esquerda, um dos principais eventos da guerra no norte da Itália, e a Batalha da Ponte Mílvia na direita, com o exército de Constantino vitorioso e o inimigo se afogando no Tibre (proelium). Na Fachada Leste, Constantino e seu exército entram em Roma (ingressus) – o artista parece ter evitado propositalmente utilizar imagens de um triunfo, pois o Imperador provavelmente não queria se mostrar triunfante sobre a própria capital romana. Finalmente, na Fachada Norte, aparece Constantino discursando no Fórum Romano na esquerda (oratio) e Constantino distribuindo dinheiro para o povo (liberalitas) na direita.

Arco de Constantino à esquerda e Arco de Tito ao fundo

Arco de Constantino


A sua dimensão pode não impressionar se compararmos com outros arcos de triunfo construídos noutras cidades, mas considerando a sua idade diria que ainda assim é impressionante tanto em tamanho como em longevidade. Hoje em dia ainda existem quatro grandes arcos antigos em Roma, e três deles são triunfais: o Arco de Constantino, o Arco de Tito, o Arco de Septimius Severus; e o quarto arco (não triunfal) é o Arco de Giano. Durante a Idade Média, o Arco de Constantino foi incorporado à fortaleza de uma das famílias de Roma, como aconteceu com muitos dos monumentos antigos da cidade. Obras para restaurá-lo ao seu estado original foram realizadas pela primeira vez no século XVIII e a última no final da década de 1990, pouco antes do Grande Jubileu do ano 2000. Durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1960, o Arco de Constantino serviu como linha de chegada para a maratona. Atualmente o Arco fica cercado com grades para impedir que sofra alguma depredação ou pichações por vandalismo.

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