segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Paris - Hôtel National des Invalides

Hôtel National des Invalides
Conhecer os museus da cidade para mim é uma forma de se aprofundar na cultura local, de conhecer melhor o lugar que visitamos. A qualidade dos museus de Paris e a importância dos seus acervos transcende o nível local. Além de suas famosas paisagens e monumentos, Paris também é conhecida mundialmente por seus inumeráveis museus, que abrigam algumas das mais importantes obras de arte e história da humanidade. Paris e a região Île-de-France possuem a maior oferta museográfica da França. Há não menos de 100 museus em Paris intramuros aos quais se devem ajuntar os mais de 110 museus da região. Mas além do grande número é, sobretudo, na diversidade das coleções que a riqueza se sobressai. Os museus estão sob diversos estatutos administrativos: os mais célebres são os museus nacionais, isto é, pertencentes ao Estado francês. Outros dependem de ministérios, como o Museu do Exército (no Hôtel des Invalides) e o Museu Aeroespacial (no Aeroporto de Le Bourget) que pertencem ao Ministério da Defesa.

Hôtel National des Invalides visto da Torre Eiffel

Hôtel National des Invalides visto da Basilique du Sacré Coeur

Hôtel National des Invalides
No oceano de telhados de Paris, um domo dourado constitui um dos pontos de referência da paisagem parisiense. Trata-se do domo do prestigioso Hôtel National des Invalides. O Hôtel Nacional des Invalides, ou Palais des Invalides, é um complexo com vários blocos, localizado no 7º Distrito de Paris, na Rive Gauche, a margem esquerda do Rio, perto do Sena e da Pont Alexandre III, cuja construção foi ordenada por Louis XIV, o “Rei Sol”, em 1670, para dar abrigo aos inválidos dos seus exércitos. O Rei Louis XIV precisou, tal como os seus predecessores Henrique III e Henrique IV, de assegurar auxílio e assistência aos soldados inválidos dos seus exércitos. Foi uma das primeiras “instituições previdenciárias” do mundo.

Hôtel National des Invalides

Portão de Entrada
O objetivo original do Hôtel des Invalides permaneceu por 100 anos e contribuiu para que até quatro mil veteranos fossem recebidos simultaneamente que continuavam ligados ao exército, agora retirados do combate, mas ainda servindo, tecendo uniformes, calçados e outras tarefas. O Hôtel des Invalides ainda acolhe presentemente uma centena de reformados e inválidos dos exércitos franceses. A administração encarregada desta missão é o Instituto Nacional dos Inválidos (Institut National des Invalides). Entre as personalidades ilustres lá sepultadas encontra-se Napoleão Bonaparte, assim como o coração de Sébastien Le Prestre de Vauban, ilustre arquiteto militar francês, responsável pela poliorcética francesa, o qual criou, na época de Louis XIV, uma série de fortificações militares ao reino, tornando-o impenetrável. Situadas na Planície de Grenelle, nessa época um subúrbio de Paris, as obras dos edifícios principais foram confiadas a Liberal Bruant por Louvois. Bruant concebeu uma organização em cinco pátios centrados num maior: o "Pátio Real" (Cour Royale). Os trabalhos efetuaram-se entre março de 1671 e fevereiro de1677, o que pode ser classificado como rápido (os primeiros pensionistas foram albergados a partir de outubro de 1674). A fachada atrás do grande Pátio foi, entretanto, destruída, menos de um ano após a sua conclusão, para deixar espaço às fundações da grande cúpula.

Portão de Entrada do Hôtel National des Invalides

Hôtel National des Invalides na Planície de Grenelle
A Igreja inicialmente prevista por Bruant parece não ter agradado, pelo que a sua construção foi confiada, a partir de março de 1676, a Jules Hardouin-Mansart, que trabalhava igualmente nos pavilhões de entrada e nas enfermarias. A construção do edifício religioso durou perto de 30 anos, só ficando concluída em agosto de 1706, data da entrega das chaves ao “Rei Sol”. A esplendorosa edificação testemunhou outros momentos importantes da história, como em 14 de julho de 1789, quando foi invadida e teve milhares de rifles roubados para serem usados na Tomada da Bastilha. O edifício este, de fato, duplicou, mesmo existindo uma continuidade arquitetônica: a nave constitui a Igreja dos Soldados (Èglise des Soldats), sendo o coro, sob a cúpula, qualificado como Igreja da Cúpula (Èglise Du Dôme).

Canhões nos jardins do Hôtel National des Invalides

Detalhe da Fachada
A pintura circular no interior da cúpula representa Louis XIV entregando a sua espada a Cristo na presença da Virgem Maria e dos Anjos. Esta distinção foi posta em prática, em 1873, através de uma claraboia separando as duas partes. O Hôtel des Invalides compreendia, então, outra igreja, uma manufatura (confecção de uniformes e tipografia), um asilo ("Casa de Retiro" - Maison de Retraite) e um hospital militar. As oficinas iniciais foram rapidamente abandonadas para servir de quartos suplementares. Em julho de 1804 teve lugar na Capela des Invalides a primeira entrega das condecorações da Legião de Honra, por Napoleão Bonaparte, aos oficiais meritórios, numa faustosa cerimônia oficial.

Pátio Real

Pátio Real
A Capela do Hôtel des Invalides, concebida para acolher os pensionistas dos Invalides, foi elevada à categoria de Cathédrale. É a sede do Bispo Católico dos Exércitos. A planta geral do edifício, criada por Jules Hardouin-Mansart, é simples: uma cruz grega inscrita num plano quadrado. Cada uma das fachadas é composta por duas ordens sobrepostas, sublinhadas por um pórtico encimado por um frontão triangular. A cúpula está colocada sobre um alto tambor, cujo segundo andar está ornado por altas janelas. É a este nível que o grande rigor clássico da arquitetura evolui sensivelmente: a parte baixa do tambor está rodeada por colunas geminadas cercadas por altas janelas com lindeis curvos. Estas colunas não estão dispostas regularmente nos pontos cardeais do edifício, uma vez que foram reagrupadas em grupos de dois por dois para assegurar a estabilidade da cúpula. Pela mesma razão, pequenas volutas, à imagem da Salute de Veneza, foram dispostas sobre esta coroa de colunas, na base da segunda parte do tambor.

Canhões enfileirados no Pátio Real

Canhões enfileirados no Pátio Real
A cúpula em forma oval, rodeada por potes de fogo, está recoberta de ricos motivos dourados de troféus e perfurada com óculos. Por fim, é encimado por um lanternim que não renegaria Boromini. Trata-se de um pequeno pavilhão quadrado, com corte enviesado em relação à fachada, com ângulos decorados por colunas sobre as quais foram dispostas estátuas. O conjunto é por fim coroado por um obelisco afilado terminado por uma cruz. Com uma base de estrutura quadrada encimada por frontões triangulares, passa insensivelmente às formas complexas onde as curvas dominam: tambor, cúpula, óculos, volutas. Podem ver-se, suspensas na abóbada segundo uma tradição antiga, as bandeiras e estandartes tomados ao inimigo.

Canhões enfileirados no Pátio Real

Canhões enfileirados no Pátio Real
Ao Norte, o Pátio prolonga-se para além dos limites do edifício através de uma grande esplanada pública, ao longo da qual se encontram as embaixadas da Áustria e da Finlândia, a Gare de Orsay e o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Dois espaços cimentados nas extremidades servem de espaço de entretenimento para os patinadores. Os Inválidos são um dos grandes espaços livres de construção no interior de Paris. No final desta esplanada, o Rio Sena é atravessado pela Pont Alexandre III, atingindo-se assim o Petit Palais e o Grand Palais. O alinhamento dos canhões na esplanada é altamente simbólico. Esses canhões estão, efetivamente, apontados ao Palais de Élisée para lembrar ao seu locatário que na França o soberano é o povo, e que este pode a qualquer momento retomar as armas.

Canhões enfileirados no Pátio Real

Cúpula dourada da Eglise du Dome
A partir de 1777, a Galeria Real dos Planos-relevo (Galerie Royale des Plans-relief) trocou o Palais Du Louvre pelo Hôtel des Invalides, onde se encontra atualmente. A esta galeria juntou-se, em 1871, o Museu da Artilharia (Musée de l'Artillerie), cujas peças ornamentam os pátios e passeios do Palácio. Para conservar o traço das tradições do exército, os seus troféus e objetos de vida cotidiana dos soldados, foi criado em 1896 um Museu Histórico do Exército (Musée Historique de l'Armée). Este viria a ser fundido com o da Artilharia em 1905, formando o atual Museu do Exército (Musée de l'Armée). Depois do final da Segunda Guerra Mundial, durante a qual os Inválidos esconderam uma rede de resistência em 1942, o Museu foi aumentado com a Ordem da Libertação (Ordre de La Libération) e o Museu de História Contemporânea (Musée d’Histoire Contemporaine).

Cúpula dourada da Eglise du Dome

Cúpula dourada da Eglise du Dome

Os museus são maravilhosos, imperdíveis mesmo para aqueles que acham que um quadro de Picasso ou as esculturas de Rodin são muito mais interessantes do que armaduras e canhões. Logo na entrada há um grande pátio central com uma coleção de canhões antigos dispostos lado a lado. Dentro, as exposições são organizadas cronologicamente. Começamos pela Idade Média, época do antigo regime. Vimos uma grande parte da seção onde estão armas e armaduras antigas do século XII ao XVII. Imagine centenas e centenas de armaduras, das diferentes épocas, de diferentes guerras, de diversos países, de reis, de soldados e de cavalos… Em seguida, passamos pelas armas: espadas, punhais, espingardas, canhões, revolveres etc. O que mais impressiona é a riqueza da decoração das armas antigas. Enquanto hoje as armas são apenas o que são (armas para matar), antigamente eram objetos pessoais ornamentados com tanto cuidado que mais pareciam amuletos da sorte. A maioria das peças é de armas e uniformes. Os uniformes são tão elaborados que nem parecem que eram usados na guerra. Muitos são também de outros exércitos, como os do exército alemão (prussiano) da época da Guerra Franco-Prussiana.


Nave da Cathèdrale de Saint-Louis-des-Invalides

Nave da Cathèdrale de
Saint-Louis-des-Invalides
Um dos destaques fica por conta de objetos pessoais que pertenceram a Napoleão. Aliás, tem uma seção que é só dele no Museu. Ali estão uniformes, joias, pinturas… uma peça nos surpreendeu. Junto à sela e à águia que representava Napoleão no campo de batalha está o próprio cavalo dele empalhado. Ele está meio abatido, não é bem a imagem que temos do tão famoso cavalo branco de Napoleão, todo grande e musculoso, mas não deixa de ser impressionante ver de perto esse quase ”personagem” histórico. Dois quadros famosos retratam o grande herói nacional francês em momentos bem distintos da sua vida: o auge como Imperador dos Franceses e a decadência como prisioneiro inglês exilado. Descemos até o pátio central e procuramos pela Tumba de Napoleão. O lugar é enorme e é muito fácil se perder lá dentro. Além dos pavilhões onde estão as exposições, no centro do complexo de Les Invalides está a Cathèdrale de Saint-Louis-des-Invalides, ainda de uso exclusivo dos moradores do Hôtel des Invalides, fechada ao turismo. Ao lado está a Église Du Dôme (Igreja da Cúpula) que serve como Panteão Militar.

Altar da Cathèdrale de 
Saint-Louis-des-Invalides
Nesse Panteão Militar estão os restos mortais de vários importantes militares franceses desde a época da monarquia, passando pela época revolucionária, pela época imperial e também marechais e generais das duas grandes guerras mundiais. Mármore e muitos detalhes fazem o lugar luxuoso. Os túmulos são todos diferentes uns dos outros, mas sempre muito decorados e pomposos. No centro de todos eles se encontra a Tumba de Napoleão Bonaparte, se não o mais importante, ao menos o mais vitorioso militar francês de todos os tempos. A Tumba de Napoleão fica exatamente embaixo da grande cúpula dourada, em um plano inferior ao do piso da Igreja, de modo que quando chegamos, temos que nos curvar diante dele para vê-lo. Podemos descer até o nível da cripta e, entrando por uma porta ladeada por duas figuras de homens esculpidas em mármore preto, ficar bem de frente para o túmulo. Suas cinzas foram guardadas em um sarcófago de quartzito vermelho da Finlândia, com pedestais em mármore negro de Sainte-Luce. Rodeando o sarcófago se encontram 12 esculturas de mulheres, as ”Vitórias”, representando as campanhas militares de Napoleão. No chão em volta do sarcófago estão inscritas oito vitórias célebres lideradas por ele. Ornando as paredes da cripta estão 10 baixos-relevos que contam as principais façanhas civis de Napoleão como governante da França (e não foram poucas). Neles Napoleão é sempre representado vestindo uma túnica clássica, ao estilo greco-romano.

Órgão da Cathèdrale de Saint-Louis-des-Invalides

Órgão da Cathèdrale de
Saint-Louis-des-Invalides
Seguimos para as alas da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, que é um banho de história para a meninada. Os uniformes são incríveis, a beleza e a riqueza dos detalhes das roupas e ornamentos impressionam. É um Museu bastante interessante e mostra o quanto o lado militarista francês foi (e ainda é) importante para a construção do sentimento nacional e como o exército deles foi (e ainda é) poderoso. A entrada é válida para os seguintes setores: Museu da Armada, Le Dome e a Tumba de Napoleão, o Monumento a Charles de Gaulle, o Museu de Mapas e o Museu da Ordem da Liberação. Em todas as salas há quadros informativos, mapas, maquetes e reproduções de documentos históricos. A cantina do complexo não atende somente ao Museu, mas também aos moradores e visitantes do Hôtel des Invalides, o lugar é bem grande e tem muita variedade para escolher. Em 1989, por ocasião do bicentenário da Revolução Francesa, o domo do Palais des Invalides de Paris foi restabelecido com cuidado e recebeu novo revestimento dourado com 550 mil folhas de ouro (mais de 10 quilos de ouro). Foi a quinta vez desde a sua criação.

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