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Museu Paraense Emílio Goeldi |
Apesar da clara necessidade da existência de um museu na
cidade, uma vez que na segunda metade do século XIX despontava economicamente
por conta da exportação da borracha e, consequentemente, via expandir
o movimento cultural, o Museu passou por dificuldades por mais de duas décadas. Inicialmente, sua
instalação foi precária, com reduzida equipe técnica e falta de apoio às
pesquisas, levando as coleções existentes a se perderem com as más condições de
conservação. Assim, a produção científica praticamente resumiu-se aos próprios
trabalhos do presidente da instituição, sobre geografia, arqueologia e outros assuntos. Em 1889, com a morte do naturalista o museu foi
subutilizado e em seguida fechado.
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Museu Paraense Emílio Goeldi |
Influenciados pela filosofia do Positivismo, os políticos Justo Chermont, José Veríssimo e Lauro
Sodré reabriram o Museu Paraense,
pois perceberam a importância que o local tinha para a cultura da região. Em
1893, o governador Lauro Sodré recrutou da cidade do Rio de Janeiro o naturalista suíço, Emílio
Goeldi (Émil August Goeldi), demitido do Museu Nacional por questões políticas após a Proclamação da República. O zoólogo
assumiu a direção do Museu com a missão de transformá-lo em um grande centro de
pesquisa sobre a Região Amazônica. Sua
estrutura foi modificada para enquadrá-lo aos padrões dos museus de história, sendo
contratada uma produtiva equipe de cientistas e técnicos. Em 1895, criava-se o Parque Zoobotânico, com mostra da fauna
e flora regionais para educação e lazer da população. Em 1896, começou a
publicação do Boletim Científico.
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Museu Paraense Emílio Goeldi |
Grande parte da Amazônia
foi visitada, realizando-se intensivas coletas para formar as primeiras
coleções zoológicas, botânicas, geológicas e etnográficas. Goeldi contratou o
excelente pintor e profundo conhecedor do ambiente amazônico, Ernesto Lohse,
que ilustrou o livro “Álbum de Aves Amazônicas” (Lohse viria a ser morto,
durante a Revolução de 1930, à
porta do Museu). Na virada do século, o Brasil
consolidava suas fronteiras e nessa ocasião, os limites entre Brasil e França, no norte do Pará,
estavam sendo questionados por ambos os países. As pesquisas que o Museu Paraense iniciava na região,
levantando dados sobre a geologia, a geografia, a fauna, a flora, a arqueologia
e a população, foram decisivas para municiar a defesa dos interesses
brasileiros, representados pelo Barão do
Rio Branco. Em dezembro de 1900, com intermédio de laudo de Berna, na Suíça, sede do julgamento internacional, o Amapá foi definitivamente
incorporado ao território do Brasil.
Em homenagem a Emílio Goeldi, foi alterada a denominação do Museu Paraense, que passou a se chamar Museu Goeldi.
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Viveiros no Museu Paraense |
Desde 1850, a Febre Amarela causava muitas mortes em Belém e dentre suas vítimas, incluíram-se
dois pesquisadores recém-chegados da Europa
para trabalhar na Seção de Geologia do Museu
Paraense. Emílio Goeldi decidiu então incorporar-se à luta contra a doença,
procurando identificar as principais espécies de mosquitos da Amazônia, bem como o ciclo reprodutivo desses
insetos. As pesquisas intensificaram-se a partir de 1902, quando Goeldi
publicou, no Diário Oficial, um trabalho
sobre profilaxia e combate à Febre Amarela, Malária e Filariose, antecedendo as
recomendações que o médico Oswaldo Cruz faria quando esteve em Belém, em 1910.
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Antigas estruturas em madeira no Museu Paraense |
Durante a gestão Goeldi, o Museu ganhou respeito
internacional, sendo desenvolvidas pesquisas geográficas, geológicas,
climatológicas, agrícolas, faunísticas, florísticas, arqueológicas, etnológicas
e museológicas. O papel educacional do Museu foi reforçado com o Parque Zoobotânico, publicações,
conferências e exposições. Em 1907, após 13 anos de atividades incessantes
em Belém, Emílio Goeldi retirou-se,
doente, para a Suíça, aonde veio a
falecer em 1917 e seu conterrâneo, o botânico Jacques Huber,
assumiu a direção do Museu Goeldi,
juntamente com o amigo marinheiro Nabor da Gama Junior.
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Passarela de madeira entre as árvores |
A Revolução de 1930 e
o período posterior, marcado pela ditadura de Getúlio Vargas, foi o início
da transformação pela qual o Estado brasileiro passaria e as velhas oligarquias
agrárias estavam sendo substituídas por uma nova classe, representante do poder
industrial. De acordo com a ideologia do novo regime, caracterizada pelo
populismo e pelo nacionalismo, foram recuperadas as dependências do Parque Zoobotânico (principal área de
lazer da população) e alterou-se novamente o nome da instituição, para Museu Paraense Emílio Goeldi.
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"Castelinho" |
A partir de 1931, através de investimentos regulares, o Parque Zoobotânico tornou-se
reconhecido nacionalmente, chegando a abrigar 2.000 exemplares de animais
vertebrados e centenas de espécies da região, muitas das quais raras ou pouco
conhecidas. Esse reconhecimento foi possível graças à subvenção que o Governo Estadual impôs às prefeituras
do interior, obrigando-as a remeter mensalmente animais e parte de sua
arrecadação ao Museu Goeldi. Muitas
espécies foram reproduzidas em cativeiro com sucesso, em especial répteis e
peixes. Somente nos três primeiros anos de coletas sistemáticas, foram
descritas cinco novas espécies de peixes, inclusive um gênero novo.
No início dos anos de 1950, o Museu foi vinculado ao
recém-criado Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq), juntamente com
o Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA),
instalado em Manaus. Em dezembro
de 1954, o então diretor do INPA,
firmou com o Governador do Pará, um Termo de Acordo pelo qual o Museu Goeldi
seria administrado e recuperado pelo INPA,
durante 20 anos. Com essa medida, o Museu
Goeldi pôde, mesmo com dificuldades, intensificar suas pesquisas
científicas. Na década de 1970, a limitação do espaço do Parque Zoobotânico, impedia o
crescimento do Museu Goeldi e esse
foi o principal motivo para a instalação de um Campus de Pesquisa, na periferia da cidade, com 12 hectares, para
onde foram transferidos os Departamentos
de Pesquisa (botânica, zoologia, ciências humanas, ciências da terra e
ecologia), a Biblioteca Domingos Soares
Ferreira Penna, o Arquivo Guilherme
de La Penha, o Horto Botânico
Jacques Huber e a administração. O Campus
de Pesquisa já é o local principal da realização dos experimentos
científicos e da guarda das coleções do Museu. O Parque Zoobotânico permanece como uma mostra viva da natureza
amazônica e ponto de referência para o programa de educação científica do Museu Goeldi.
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A Herma, de Spix e Martius |
A mais recente base física, a Estação Científica Ferreira Penna (ECFP), foi inaugurada em 1993, em 33.000 hectares da Floresta Nacional de Caxiuanã, Município de Melgaço, a aproximadamente
400 quilômetros de Belém. A área foi
cedida pelo IBAMA e a base
foi construída com recursos da Overseas
Development Administration (ODA),
atual DFID/Reino Unido. A ECFP destina-se à execução de programas
de pesquisa e ações de desenvolvimento comunitário nas diversas áreas do
conhecimento (há aproximadamente 200 famílias vivendo no interior da floresta e
arredores), possuindo excelente infraestrutura para o desenvolvimento de
pesquisas em ambientes de floresta primária, sendo muito visitada por
cientistas de instituições nacionais e estrangeiras. Desde o ano 2000, o Museu Paraense Emílio Goeldi saiu do
âmbito do CNPq, ficando subordinado,
diretamente, ao Ministério da Ciência e
Tecnologia do Brasil.
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