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Fachada do Theatro da Paz |
O Theatro da Paz,
originalmente chamava-se Theatro Nossa
Senhora da Paz, nome dado pelo Bispo da época, em homenagem ao fim da Guerra do Paraguai, porém sua nomenclatura foi modificada a pedido do próprio
Bispo, ao ver que o nome de “Nossa Senhora” seria indigno figurar na fachada de
um espaço onde se tinha apresentações mundanas e sem representação eclesiástica
alguma. Inspirado no Teatro Scalla,
uma das mais famosas casas de ópera do mundo (em Milão, na Itália), foi
construído com recursos auferidos da exportação de látex, no Ciclo da Borracha. Mantinha o status de
maior teatro da Região Norte, até
ser ultrapassado pelo Teatro Estadual
Palácio das Artes Rondônia, e um dos mais luxuosos do país, com cerca de 140
anos de história, além de também ser considerado um dos teatros-monumentos do Brasil, segundo o IPHAN.
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Mezanino do Theatro da Paz |
Belém viveu um significativo processo de transformação
socioeconômica nesse período, chegando a ser chamada de “A Capital da Borracha”. Mas, apesar desse progresso a cidade ainda
não possuía um teatro de grande porte, capaz de receber espetáculos do gênero
lírico. Buscando satisfazer o anseio da sociedade da época, o Governo da Província contrata o
engenheiro militar pernambucano José Tibúrcio de Magalhães. Foi construído por
Calandrine de Chermont com pequenas alterações introduzidas pela Repartição de Obras Públicas. Ficou pronto em 1874, mas, devido a
denúncias contra os construtores, um inquérito foi aberto e o teatro só foi
inaugurado após a sua conclusão. Com o drama de Adolphe d'Ennery, “As
duas órfãs”, em fevereiro de 1878, o Theatro da Paz foi aberto ao público, ao som da Orquestra Sinfônica do maestro Francisco
Libânio Collas. O espetáculo foi organizado pela companhia de Vicente Pontes de
Oliveira. O contrato durou cinco anos e fez de Vicente Oliveira o encarregado
pela iluminação, decoração, coreografia e acessórios de cena no Theatro, além
de organizador das apresentações que se seguiram.
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Brasão de Armas do Estado do Pará |
O Theatro sofreu alterações na sua fachada, após uma grande
reforma no início do século XX. Foi retirada uma coluna no pátio frontal
superior do Theatro, que era em número de sete, o que feria os preceitos
arquitetônicos do período neoclássico, que pede número par de colunas em
frontarias. Toda a fachada, que era um pátio coberto, foi demolida, e
reconstruída recuando a fachada e retirando a coluna, e no vácuo que ficou à
mostra, antes preenchido por pequenas janelas, foram colocados bustos
simbolizando as artes: Dança, Poesia, Música e Tragédia, e ao centro o Brasão de Armas do Estado do Pará, para
fortalecer a simbologia republicana que estava enfim instaurada. Entretanto,
suas linhas arquitetônicas gerais foram mantidas.
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Escadarias de Acesso ao Hall de Entrada do Theatro da Paz |
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Hall de Entrada do Theatro da Paz com os Bustos de José de Alencar e Gonçalves Dias |
O Hall de Entrada
é composto por materiais decorativos importados da Europa: ferro fundido inglês nos arcos das portas; escadaria em
mármore italiano; lustre francês; bustos em mármore de Carrara dos escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias,
introdutores do indianismo no Brasil;
estátuas em bronze francês; piso com pedras portuguesas formando mosaico e
coladas com o grude da Gurijuba (peixe encontrado na região); paredes e teto
pintados representando as artes gregas.
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Escadarias de Mármore do Hall de Entrada do Theatro da Paz |
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Detalhes da decoração Hall de Entrada do Theatro da Paz |
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Hall de Entrada visto das escadarias em mármore italiano |
Em 1905 é fechada a
porta principal do Corredor de Frisas
que dava acesso ao Salão de Espetáculos,
já que ela prejudicava a acústica, em seu lugar é colocado um espelho em
cristal francês. Além do espelho foram acrescentadas estátuas em pedra francesa
e nas paredes foram fixadas placas em ferro esmaltado contendo o regulamento da
época informando que “é proibido fumar”. O piso foi decorado em Parquet,
utilizando as madeiras regionais como acapu e pau amarelo.
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Entrada para a Sala de Espetáculos do Theatro da Paz |
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Sala de Espetáculos do Theatro da Paz |
A Sala de Espetáculos
que originalmente possuía 1100 lugares, hoje comporta 900. As cadeiras
conservam o estilo da época em madeira e palhinha adequadas ao clima da região.
A balaustrada é toda em ferro inglês folheado a ouro. A pintura em afresco do
teto central apresenta elementos da mitologia greco-romana fazendo uma alusão
ao Deus Apolo conduzindo a Deusa Afrodite e as musas das artes à Amazônia. No centro do teto foi
adaptado o lustre em bronze americano que substituiu um grande ventilador que
ajudava amenizar o calor. Nas paredes, com motivos florais, as pinturas imitam
o papel de parede. O forro dos camarotes foi pintado obedecendo à hierarquia
social da época; para a 1ª classe eram utilizadas as seguintes localidades:
varanda, plateia, frisas, camarotes e proscênios de 1ª ordem; para a 2ª classe:
galerias, camarotes e proscênios de 2ª ordem e para 3ª classe paraíso. Os
proscênios eram reservados as autoridades como: Prefeito, chefe de polícia e
diretores de escola. O Camarote Imperial,
atualmente do Governador, situado na 1ª ordem de camarotes é ornamentado com mobília
em madeira regional. O Pano de Boca
pintado na França no ateliê Carpezat
intitulado “Alegoria à República“ foi
inaugurado em 1890 em celebração à República
Brasileira.
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Detalhes das escadas para os camarotes |
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Detalhes em metal do corrimão das escadas para os camarotes |
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Bustos de Carlos Gomes e Henrique Gurjão no Salão Nobre do Theatro da Paz |
No segundo andar do Theatro situa-se o Salão Nobre (Foyer),
local onde a nobreza costumava se reunir, para bailes, pequenos recitais e
durantes os intervalos dos espetáculos, é um espaço altamente decorado com
espelhos e lustres em cristal francês e bustos em mármore de Carrara de dois grandes compositores da
época: Carlos Gomes e Henrique Gurjão. O mezanino do salão era o local usado
pelos músicos nos eventos sociais e frequentado pelas pessoas do "paraíso" em
noite de espetáculos. Quanto à pintura do teto feita em 1960 é do pernambucano
Armando Balloni, que se inspira nas musas da música ladeadas pela fauna e flora
amazônica. As paredes, pintadas pelos italianos, retratam motivos neoclássicos
com buquês de flores.
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Salão Nobre do Theatro da Paz |
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Pintura no teto do Salão Nobre do Theatro da Paz |
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Lustre no Salão Nobre |
Ali Carlos Gomes encenou sua mais famosa ópera, “O Guarani”, e a bailarina russa, Ana
Pavlova, passou com suas sapatilhas. O decorador desse cenário privilegiado foi
o italiano Domenico de Angelis que, posteriormente, decorou
o Teatro Amazonas, de Manaus. Durante o Ciclo da Borracha, as mais famosas companhias líricas se
apresentaram ali. Com o declínio da borracha, o Theatro da Paz passou por dificuldades. Vale ressaltar que nem só
de arte viveu o Theatro. Ao longo do século XX, foram oferecidos jantares e
banquetes, promoveram-se convenções político-partidárias e até mesmo a Assembleia Legislativa do Estado
realizou ali sessões, em 1959.
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Pintura neoclássica no teto do Salão Nobre do Theatro da Paz |
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Piso decorado em parquê do
Salão Nobre do Theatro da Paz |
Sem apresentações, estava quase sempre fechado, e as
restaurações não eram suficientes para lhe garantir um bom funcionamento. Entre
1971 e 1975, fez-se a reconstrução das estruturas frontais e laterais,
remanejamento estrutural de telhado e platibandas, restauração da rede elétrica
e de esgoto. Em 1977, às vésperas do centenário o Theatro foi novamente fechado
para restauro. As obras abrangeram a recuperação do sistema acústico e
instalação do sistema de ar condicionado assim como de novos equipamentos de
luminotécnica e cenotécnica. O Pano de
Boca, por muitos anos em completo abandono, foi restaurado. Na comemoração
aos 111 anos do Theatro em 1988, foram restaurados os lustres de cristal, o
mobiliário, a decoração do proscênio com a reposição de folhas de ouro e foi
feita a descupinização de todo o prédio. Em 1996 formou-se a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), a primeira de sua história e a
primeira do gênero da Região Norte. Atualmente
tem visitas guiadas, de hora em hora.
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Mezanino do Salão Nobre do Theatro da Paz |
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Colunas do Mezanino do Salão Nobre do Theatro da Paz |

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