sexta-feira, 31 de julho de 2015

Belém do Pará - Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré


Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré
Todo mundo já ouviu falar no Círio de Nazaré, um dos eventos religiosos mais famosos e concorridos do Brasil. São mais de dois séculos de tradição em uma das maiores e mais bonitas procissões da Igreja Católica no país, que ocorre todos os anos em Belém do Pará. Isso mesmo: há mais de 200 anos!!! Cerca de dois milhões de romeiros caminham pelas ruas da cidade em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré durante o Círio. A procissão ocorre no segundo domingo de outubro, quando a Imagem Peregrina (uma réplica da imagem encontrada, mas esculpida com traços das mulheres amazônicas) sai da Catedral Metropolitana de Belém e segue até a Praça Santuário de Nazaré. Lá, a imagem de Nossa Senhora fica exposta aos fiéis durante 15 dias, quando então retorna ao seu lugar de origem. É uma caminhada de 3,6 quilômetros de puras e emocionantes demonstrações de fé. A imagem original da Santa permanece no Glória (espaço elevado ornado com anjos e esplendores) durante o ano todo, sendo retirada somente no dia da missa após a procissão da Moto Romaria para a apresentação dos fiéis.  As ruas e casas ficam enfeitadas em homenagem à Santa. A Basílica recebe as missas comuns, casamentos e celebrações rotineiras de todo o ano litúrgico. São os coroinhas da Basílica que vão à frente da procissão do Círio todos os anos. O Círio de Belém foi considerado Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial em setembro de 2004 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Fachada da Basílica Santuário 
Nossa Senhora de Nazaré
O primeiro Círio foi realizado em setembro de 1793.  Mas tudo começou em 1700, quando o caboclo Plácido José de Souza encontrou uma pequena imagem da Senhora de Nazaré, às margens do Igarapé Murutucu, no local onde hoje se encontra a Basílica. Segundo a lenda essa imagem, independente do lugar para onde era levada, desaparecia e ressurgia no mesmo local onde Plácido a tinha encontrado. Interpretando o fato como sinal divino, a devoção à santa adquiriu caráter oficial e foi erguida uma capela naquele local em sua homenagem, hoje a Basílica de Nossa Senhora de NazaréA capela ficava na área periférica da cidade, à época, e era muito visitada principalmente por ribeirinhos e desvalidos. Vinte e um anos depois, uma ermida de taipa e palha foi erguida por sugestão do Bispo do Pará, Dom Bartolomeu do Pilar com a colaboração do político e devoto Antônio Agostinho. A essa ermida, em setembro de 1793, chegou o primeiro Círio.


Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré e
Praça Santuário de Nazaré

Nave da Basílica Santuário 
Nossa Senhora de Nazaré
Depois, com a quantidade crescente de fiéis, uma igreja foi erguida em 1852 no mesmo lugar. De acordo com as regras eclesiásticas, em 1861 foi criada, agora em alvenaria, a Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro que passou a ser administrada pelos Padres Barnabitas (ordem religiosa de clérigos mais antiga na história da Igreja). Em visita à cidade de Belém, o padre italiano barnabita Luigi Zoia conheceu a pequena igreja e propôs a construção de um grande templo que representasse a fé do povo na Virgem de Nazaré. Já em 1884 ela era pequena para receber a quantidade de romeiros. A devoção, com o tempo, se estendeu para as classes mais nobres e chegou ao conhecimento da igreja, que ratificou a devoção e, por intermédio do Arcebispo de Belém, Dom Santino Maria Coutinho, delegou aos Padres Barnabitas (que já tomavam conta da ermida desde o século XIX) no ano de 1905, a responsabilidade da construção de uma locação mais organizada e digna da fé da população, além de se haver uma urgência em encontrar um local maior para abrigar o grande número de fiéis que crescia sem cessar. Para que o projeto inicial fosse para frente, primeiro foram cortados gastos e arrecadados recursos com o intuito de tornar tal obra realidade. Muitos beneficiários da paróquia acabaram perdendo seus créditos, pois muitos eram aproveitadores do fundo da igreja e pilhavam os bens que deveriam ser destinados a obras de caridade e para a construção do templo. 

Altar-Mor da Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré

Altar da Basílica Santuário
Em outubro de 1909, os barnabitas deram início à execução do projeto com o lançamento da pedra fundamental. Foi neste momento que o poeta maranhense Euclides Faria compôs o hino de 12 estrofes “Vós sois o lírio mimoso”, que se tornou o canto oficial da Padroeira e do Círio.  A igreja foi inaugurada em 1923, sendo esta a terceira Basílica do Brasil (na época existiam apenas a da , na Bahia e a de São Bento, em São Paulo). A Igreja só foi acabada depois da Segunda Guerra Mundial, enfrentando os dois períodos de conflitos (Primeira e Segunda Guerra, quando houve uma crise econômica e o comércio foi interrompido), a crise da borracha no Pará, a Revolução de 1930 e o Estado Novo.


Órgão da Basílica Santuário 
Nossa Senhora de Nazaré







As dificuldades foram muitas e envolvia, principalmente, o material necessário para a sua construção que vinha da Europa – mármores de Carrara, vitrais franceses, mosaicos venezianos, estátuas de Antônio Bozzano e seu filho, Augusto – e que, ao chegar ao Porto de Belém, era taxado pela Alfândega. O atual templo é marcado por diversos estilos arquitetônicos, cujos fortes são o neoclássico e o eclético. A Basílica Nossa Senhora de Nazaré é uma das igrejas mais belas de Belém, seguindo o modelo da Basílica de São Paulo, em Roma.

Representação dos santos nas paredes da Basílica
A Basílica é linda por dentro. São cinco naves, 62 metros de comprimento, 24 metros de largura e 20 metros de altura, duas torres com 42 metros de altura, 36 colunas de granito maciço, 54 vitrais (de Paris), 32 medalhões em mosaico de 1,5 metros de diâmetro, 19 estátuas do mais puro mármore de Carrara, nove sinos eletrônicos, um órgão com três teclados e 1.100 tubos. As imagens da Via Crucis que estão em suas laterais, dentro de grandes círculos, representam as contas de um enorme Terço, que tem nas grandiosas portas de bronze a representação do crucifixo.

Medalhões representando a Via Sacra
Na Basílica, todos os pontos convergem para o altar, onde está a imagem de Nossa Senhora. E é de lá, iniciando pela direita, que os vitrais contam histórias da Bíblia e os mosaicos rezam a Salve Rainha, através de anjos. Nas naves laterais encontram-se ainda, os mosaicos das mulheres que estão na Bíblia e guardam virtudes que serão encontradas na Virgem Maria. Foram os padres franceses que definiram os temas dos vitrais, assim como as imagens das estátuas que ornariam os altares laterais.

Representação das santas nas paredes da Basílica
Todo esse conjunto arquitetônico, considerado como obra de arte e de devoção, só foi realizado porque houve a fé de um povo, a coragem e a decisão dos Padres Barnabitas e das autoridades. É a única Basílica da Amazônia Brasileira e a que recebe o maior número de contingente do Norte da América do Sul, principalmente durante o período da Quadra Nazarena, onde ocorre a festa do Círio de Nazaré. Sua história, seu simbolismo e sua importância religiosa exercem uma profunda influência no imaginário religioso paraense. Quem vem a Belém e é católico (ou não) não pode deixar de visitar essa igreja. Hoje a Basílica é um dos principais patrimônios históricos da cidade.

Decoração no teto da Basílica
Desde maio de 2006, a Basílica foi elevada à categoria de Santuário Mariano Arquidiocesano. Dessa forma, passou a denominar-se Basílica-Santuário de Nossa Senhora de Nazaré por receber romeiros e peregrinos que se dirigem a Belém para agradecer as várias graças alcançadas ou fazer um pedido à santa, principalmente durante o Círio de Nazaré, a maior procissão religiosa brasileira. Na fachada, o prédio apresenta duas inscrições em latim: “Deiparae Virgini a Nazareth“, que significa “Virgem de Nazaré Mãe de Deus”; e “Salve Regina Mater Misericordiae“, que significa “Salve Rainha Mãe Misericordiosa”. Nas grades da frente da igreja, assim como nas grades da Praça Santuário de Nazaré (em frente à Basílica), os fiéis amarram as famosas fitinhas, fazendo seus pedidos e suas promessas, no estilo do que acontece também na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador.



A Igreja auxiliou na elevação dos preços das moradias na região, além de tornar a área um local disputado. Ela é uma construção imponente, mesmo em meio a variados prédios advindos da verticalização que ocorrera em Belém dos anos 1970 até a atualidade. Junto com o Colégio Gentil Bittencourt, as casas dos antigos barões da borracha e o Museu Paraense Emílio Goeldi, formam o Conjunto Arquitetônico do Bairro de Nazaré

Pia Batismal


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