terça-feira, 17 de maio de 2016

Campinas - Casa de Saúde de Campinas

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Quem passa pela região central de Campinas fica admirado, ali pelo Largo São Benedito, com o prédio belíssimo da Casa de Saúde, importante Patrimônio Arquitetônico da cidade. A Casa de Saúde de Campinas é um hospital situado na Praça Dr. Toffoli, no centro de Campinas. No fim do século XIX, mais precisamente em 1881, um grupo de imigrantes italianos, liderados pelo comerciante Attilio Bucci, sentiu a necessidade de melhorias para a comunidade situada na cidade de Campinas, sendo elas destinadas a educação e saúde. Dessa forma, uma reunião realizada no Teatro São Carlos, oficializou a fundação da Sociedade Italiana de Campinas, em abril de 1881, com 130 sócios, expandindo novas perspectivas e horizontes para Circolo Italiani Uniti. Depois disso, as reuniões passaram a ser realizadas nas residências dos Presidentes. Para sanar tais carências foi fundada uma escola para desenvolver os estudos em língua italiana para mais de 100 alunos, e uma Casa de Caridade, que posteriormente se tornaria um centro recreativo, cultural e beneficente para atender os filhos e conterrâneos da Itália

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Em junho de 1882, o Circolo Italiani Uniti passou a funcionar em local próprio, na Rua Regente Feijó, com atendimento médico e farmacêutico a seus associados. Em 1883, Campinas passou por uma epidemia de febre amarela e a Associação fechou temporariamente a escola e o Centro Cultural para atender às emergências. Em 1884, o Circolo Italiani Uniti solicitou à Câmara Municipal de Campinas um terreno para a construção de um hospital e de uma escola. Atendendo aos pedidos da Diretoria do Circolo, em junho de 1884, a Câmara Municipal de Campinas concedeu uma área, localizada na Praça Riachuelo, para o início das obras do hospital e da escola. Contando com recursos provenientes da venda de ações, de campanhas de arrecadação de fundos e de contribuições particulares importantes, meses depois, a pedra fundamental da sede própria foi lançada, a partir do projeto idealizado pelo engenheiro Samuele Malfatti (pai da pintora Anita Malfatti) e com a valiosa colaboração do renomado engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo. Mesmo em obras, e já repleto de histórias, o prédio começa a ser usado, com muito orgulho, como sede do Circolo Italiani Uniti.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti

Monumento em homenagem aos 
fundadores do Circolo Italiani Uniti
Em 1889 e em 1897 houve mais epidemias de febre amarela, momentos nos quais a escola teve suas salas de aula transformadas em enfermarias, a pedido do Presidente da Câmara Municipal de Campinas. O Circolo Italiani, num ato de solidariedade, transformou-se em uma enfermaria improvisada. A Sociedade prestava assistência médica, distribuía remédios, gêneros, dinheiro e cuidados. O Dr. Costa Aguiar, à testa do serviço hospitalar, cai doente no hospital improvisado, sendo transferido para Itu, aonde mais tarde veio a falecer. Felizmente, no final do século XIX, o Dr. Emílio Ribas descobre e isola o transmissor da terrível doença, saneando Campinas, acabando de vez com a febre amarela.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
A colônia italiana esteve prestes a fechar a Associação entre 1917 e 1918 em virtude das consequências do pós-guerra, criando ambiente de desunião, finalmente vencido. Entretanto, em 1918 irrompeu uma pandemia: a gripe espanhola, que motivou os responsáveis e mantenedores do Circolo Italiani Uniti, Sr. Irineo Checchia, e os Drs. Clemente de Toffoli e Mario Gatti a transformá-lo definitivamente num hospital, finalizando as atividades escolares em 1920. A Diretoria passou então a comprar terrenos próximos ao hospital e em 1924, foram inauguradas as duas salas superiores do hospital. Em 1926, num esforço de reorganizar a gestão e atendimento da instituição, o Circolo contrata a Congregação das Irmãs Apostólicas do Sagrado Coração de Jesus, procedente da Itália; as irmãs permanecem no hospital até 1995.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Foi durante o período de perseguições aos italianos radicados no Brasil, por conta da Segunda Guerra Mundial, que o Circolo Italiani Uniti, por força de um Decreto da República Brasileira foi obrigado a alterar seus estatutos sob as novas regras de manutenção de instituições mantidas por estrangeiros a serem cumpridas, sob pena de fechamento da instituição e suas dependências. A partir do ano seguinte, as atas deixaram de ser escritas em italiano para serem escritas em português. Desta forma, em setembro de 1942, o Circolo realizou uma assembleia geral, destinada a fundar uma sociedade civil, com fins filantrópicos e para constituir na cidade um hospital brasileiro, chamado Casa de Saúde de Campinas, em homenagem à cidade, mas sem deixar de mencionar sua denominação original – agora, como subtítulo. Nas décadas seguintes, os Poderes Executivos municipal, estadual e federal reconheceram o caráter de utilidade pública do hospital. Da antiga construção pouco se aproveitou, o prédio apresenta porões altos, com ornamentação típica do neo-renascimento. Apesar da imponência do edifício, ele possui uma leveza e uma elegância em sua construção, dificilmente encontrada nos prédios de grande porte.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Do lado de dentro, a instituição guarda detalhes que remetem a episódios marcantes do passado. Poucos campineiros sabem, por exemplo, que o complexo hospitalar (que toma duas quadras inteiras) guarda um túnel de quase 30 metros de extensão, por onde se carregavam corpos da enfermaria ao antigo necrotério. O túnel é um símbolo dos valores sociais de antes. Tomava-se, naquele tempo, o cuidado de não expor os cadáveres. O corpo do falecido era colocado em uma espécie de padiola e levado por enfermeiros até a quadra vizinha. Temia-se, certamente, o alastramento da doença maligna. Mas a medida, pelo que se sabe, não tinha finalidade sanitária. Era, na verdade, um simples procedimento de respeito aos mortos. Mas sabe-se que o espaço (até hoje desconhecido) ainda vai despertar a curiosidade de pesquisadores interessados em vasculhar capítulos da história campineira.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Hoje em dia, não existem mais os acessos originais ao túnel. O caminho começava bem no ponto onde existe a guarita da Rua Duque de Caxias. Na outra extremidade, a saída foi bloqueada com piso de cimento, diante do imóvel onde funciona a lavanderia. O prédio do necrotério original (que existe até hoje e faz frente para a Rua General Marcondes Salgado) serve como depósito de materiais. Mas ainda é possível, sim, entrar no túnel por um alçapão, nos fundos do terreno onde a Casa de Saúde constrói um edifício de oito andares, para expansão de suas próprias instalações. Descendo pelo alçapão por uma escada, anda-se por um vão escuro, com quase três metros de altura, com piso e paredes revestidas com cimento rústico. O velho túnel acabou adaptado, com o tempo, para a instalação de redes hidráulica e elétrica. Mas, lógico, o que mais diverte o cidadão é falar dos casos antigos, contados por gente que, inclusive, partiu desta vida. O túnel alimentou lendas e histórias de assombração.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Lá dentro, os visitantes também se encantam com o requinte da capela no saguão central, ou com o sino, centenário, preservado nos arredores do atual refeitório. Os visitantes que caminham nas imediações da cozinha do hospital param para ver o velho sino afixado na parede do corredor. Ninguém sabe dizer quando, exatamente, ele foi fabricado. As letras BVG, gravadas no metal, na certa remetem ao nome de quem fez a fundição. Os documentos antigos - como a revista de 1971 que celebrou o aniversário da Casa de Saúde - dizem que a peça pesadíssima, com ricos adornos, fazia parte da decoração da capela, e era usado pela comunidade inteira para anunciar nascimentos, mortes, acontecimentos importantes. No tempo da “gazeta de bronze”, as notícias eram interpretadas de acordo com a frequência, a tonalidade e o vigor das batidas. Hábitos do Brasil Colônia, que desapareceram com o tempo.

Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti
Os campineiros das novas gerações não sabem disso. Mas lá dentro da Casa de Saúde foi construída em outros tempos uma réplica em menor escala da gruta de Lourdes, espaço onde - acreditam os católicos - Nossa Senhora conversava com uma camponesa francesa chamada Bernardete, em meados do século XIX. A gruta campineira foi instalada ao lado da antiga farmácia do antigo Circolo, como ação de graças pelo atendimento prestado a uma pessoa da Família Almeida Prado. Acontece que o espaço não existe mais. Como o hospital precisava crescer, foi construído no lugar, em 2002, o Setor da Litotripsia para tratamento de cálculos renais. Visitar o Hospital é viajar ao passado, ser apresentado a uma Campinas religiosa, ordeira, respeitosa. Muito diferente da conturbada metrópole de hoje em dia. Hoje, a Casa de Saúde de Campinas é um hospital completo, reconhecido e respeitado nacionalmente por sua história de sucesso na saúde de Campinas, além de ser pioneiro no transplante renal no interior do Estado de São Paulo.

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