|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Quem passa pela região central de Campinas fica admirado, ali pelo Largo São Benedito, com o prédio belíssimo da Casa de Saúde, importante
Patrimônio Arquitetônico da cidade. A
Casa de Saúde de Campinas é um
hospital situado na Praça Dr. Toffoli,
no centro de Campinas. No fim do
século XIX, mais precisamente em 1881, um grupo de imigrantes italianos,
liderados pelo comerciante Attilio Bucci, sentiu a necessidade de melhorias
para a comunidade situada na cidade de Campinas,
sendo elas destinadas a educação e saúde. Dessa forma, uma reunião realizada no
Teatro São Carlos, oficializou a
fundação da Sociedade Italiana de
Campinas, em abril de 1881, com 130 sócios, expandindo novas perspectivas e
horizontes para Circolo Italiani Uniti.
Depois disso, as reuniões passaram a ser realizadas nas residências dos
Presidentes. Para sanar tais carências foi fundada uma escola para desenvolver
os estudos em língua italiana para mais de 100 alunos, e uma Casa de Caridade, que posteriormente se
tornaria um centro recreativo, cultural e beneficente para atender os filhos e
conterrâneos da Itália.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Em junho de 1882, o Circolo
Italiani Uniti passou a funcionar em local próprio, na Rua Regente Feijó, com atendimento médico e farmacêutico a seus
associados. Em 1883, Campinas passou
por uma epidemia de febre amarela e a Associação fechou temporariamente a
escola e o Centro Cultural para
atender às emergências. Em 1884, o Circolo
Italiani Uniti solicitou à Câmara
Municipal de Campinas um terreno para a construção de um hospital e de uma
escola. Atendendo aos pedidos da Diretoria
do Circolo, em junho de 1884, a Câmara
Municipal de Campinas concedeu uma área, localizada na Praça Riachuelo, para o início das obras do hospital e da escola. Contando
com recursos provenientes da venda de ações, de campanhas de arrecadação de fundos
e de contribuições particulares importantes, meses depois, a pedra fundamental
da sede própria foi lançada, a partir do projeto idealizado pelo engenheiro
Samuele Malfatti (pai da pintora Anita Malfatti) e com a valiosa colaboração do
renomado engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo. Mesmo em obras, e já repleto de
histórias, o prédio começa a ser usado, com muito orgulho, como sede do Circolo Italiani Uniti.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
|
Monumento em homenagem aos fundadores do Circolo Italiani Uniti |
Em 1889 e em 1897 houve mais epidemias de febre amarela,
momentos nos quais a escola teve suas salas de aula transformadas em
enfermarias, a pedido do Presidente da
Câmara Municipal de Campinas. O Circolo
Italiani, num ato de solidariedade, transformou-se em uma enfermaria
improvisada. A Sociedade prestava assistência médica, distribuía remédios, gêneros,
dinheiro e cuidados. O Dr. Costa Aguiar, à testa do serviço hospitalar, cai doente
no hospital improvisado, sendo transferido para Itu, aonde mais tarde veio a falecer. Felizmente, no final do século
XIX, o Dr. Emílio Ribas descobre e isola o transmissor da terrível doença, saneando
Campinas, acabando de vez com a febre
amarela.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
A colônia italiana esteve prestes a fechar a Associação entre
1917 e 1918 em virtude das consequências do pós-guerra, criando ambiente de desunião,
finalmente vencido. Entretanto, em 1918 irrompeu uma pandemia: a gripe
espanhola, que motivou os responsáveis e mantenedores do Circolo Italiani Uniti, Sr. Irineo Checchia, e os Drs. Clemente de Toffoli
e Mario Gatti a transformá-lo definitivamente num hospital, finalizando as
atividades escolares em 1920. A Diretoria passou então a comprar terrenos
próximos ao hospital e em 1924, foram inauguradas as duas salas superiores do hospital.
Em 1926, num esforço de reorganizar a gestão e atendimento da instituição, o
Circolo contrata a Congregação das Irmãs
Apostólicas do Sagrado Coração de Jesus, procedente da Itália; as irmãs permanecem no hospital até 1995.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Foi durante o período de perseguições aos italianos radicados
no Brasil, por conta da Segunda Guerra Mundial, que o Circolo Italiani Uniti, por força de um Decreto da República Brasileira foi
obrigado a alterar seus estatutos sob as novas regras de manutenção de
instituições mantidas por estrangeiros a serem cumpridas, sob pena de fechamento
da instituição e suas dependências. A partir do ano seguinte, as atas deixaram
de ser escritas em italiano para serem escritas em português. Desta forma, em setembro
de 1942, o Circolo realizou uma assembleia geral, destinada a fundar uma
sociedade civil, com fins filantrópicos e para constituir na cidade um hospital
brasileiro, chamado Casa de Saúde de
Campinas, em homenagem à cidade, mas sem deixar de mencionar sua
denominação original – agora, como subtítulo. Nas décadas seguintes, os Poderes Executivos municipal, estadual
e federal reconheceram o caráter de utilidade pública do hospital. Da antiga
construção pouco se aproveitou, o prédio apresenta porões altos, com
ornamentação típica do neo-renascimento. Apesar da imponência do edifício, ele possui uma leveza e uma elegância em sua construção, dificilmente
encontrada nos prédios de grande porte.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Do lado de dentro, a instituição guarda detalhes que remetem a
episódios marcantes do passado. Poucos campineiros sabem, por exemplo, que o complexo
hospitalar (que toma duas quadras inteiras) guarda um túnel de quase 30 metros de
extensão, por onde se carregavam corpos da enfermaria ao antigo necrotério. O túnel
é um símbolo dos valores sociais de antes. Tomava-se, naquele tempo, o cuidado de
não expor os cadáveres. O corpo do falecido era colocado em uma espécie de padiola
e levado por enfermeiros até a quadra vizinha. Temia-se, certamente, o alastramento
da doença maligna. Mas a medida, pelo que se sabe, não tinha finalidade sanitária.
Era, na verdade, um simples procedimento de respeito aos mortos. Mas sabe-se que
o espaço (até hoje desconhecido) ainda vai despertar a curiosidade de pesquisadores
interessados em vasculhar capítulos da história campineira.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Hoje em dia, não existem mais os acessos originais ao túnel.
O caminho começava bem no ponto onde existe a guarita da Rua Duque de Caxias. Na outra extremidade, a saída foi bloqueada
com piso de cimento, diante do imóvel onde funciona a lavanderia. O prédio do
necrotério original (que existe até hoje e faz frente para a Rua General Marcondes Salgado) serve
como depósito de materiais. Mas ainda é possível, sim, entrar no túnel por
um alçapão, nos fundos do terreno onde a Casa
de Saúde constrói um edifício de oito andares, para expansão de suas
próprias instalações. Descendo pelo alçapão por uma escada, anda-se por um
vão escuro, com quase três metros de altura, com piso e paredes revestidas com
cimento rústico. O velho túnel acabou adaptado, com o tempo, para a instalação de
redes hidráulica e elétrica. Mas, lógico, o que mais diverte o cidadão é
falar dos casos antigos, contados por gente que, inclusive, partiu desta vida.
O túnel alimentou lendas e histórias de assombração.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Lá dentro, os visitantes também se encantam com o requinte da
capela no saguão central, ou com o sino, centenário, preservado nos arredores
do atual refeitório. Os visitantes que caminham nas imediações da cozinha
do hospital param para ver o velho sino afixado na parede do corredor. Ninguém
sabe dizer quando, exatamente, ele foi fabricado. As letras BVG, gravadas no metal, na certa
remetem ao nome de quem fez a fundição. Os documentos antigos - como a revista
de 1971 que celebrou o aniversário da Casa
de Saúde - dizem que a peça pesadíssima, com ricos adornos, fazia parte da
decoração da capela, e era usado pela comunidade inteira para anunciar
nascimentos, mortes, acontecimentos importantes. No tempo da “gazeta de bronze”, as notícias eram
interpretadas de acordo com a frequência, a tonalidade e o vigor das batidas.
Hábitos do Brasil Colônia, que
desapareceram com o tempo.
|
Casa de Saúde de Campinas - Circolo Italiani Uniti |
Os campineiros das novas gerações não sabem disso. Mas lá
dentro da Casa de Saúde foi
construída em outros tempos uma réplica em menor escala da gruta de Lourdes, espaço onde - acreditam os
católicos - Nossa Senhora conversava com uma camponesa francesa chamada Bernardete,
em meados do século XIX. A gruta campineira foi instalada ao lado da antiga
farmácia do antigo Circolo, como ação de graças pelo atendimento prestado a uma
pessoa da Família Almeida Prado.
Acontece que o espaço não existe mais. Como o hospital precisava crescer, foi construído
no lugar, em 2002, o Setor da
Litotripsia para tratamento de cálculos renais. Visitar o Hospital é viajar
ao passado, ser apresentado a uma Campinas
religiosa, ordeira, respeitosa. Muito diferente da conturbada metrópole de hoje
em dia. Hoje, a Casa de Saúde de
Campinas é um hospital completo, reconhecido e respeitado nacionalmente por
sua história de sucesso na saúde de Campinas,
além de ser pioneiro no transplante renal no interior do Estado de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário