domingo, 15 de maio de 2016

Campinas - Igreja São Benedito

Igreja São Benedito

A Igreja São Benedito foi construída por iniciativa da Irmandade de São Benedito, composta por africanos e seus descendentes que tinham sido expulsos da Irmandade do Rosário de Campinas. Em 1835, os membros da Congregação pediram às autoridades municipais a doação de um terreno para construir a então Igreja dos negros. O local destinado pela Câmara era aquele onde existira o jazigo do Cônego Melchior Fernandes Nunes de Camargo, da Sé de São Paulo, que viera residir em Campinas e aqui faleceu. Corpos de outras pessoas ali foram colocados e as sepulturas nesse jazigo custavam a importância de uma dobra (moeda de ouro), que era aplicada em esmolas para missas por almas dos cativos do Cemitério Bento. A área, palco da história dos negros e escravos de Campinas, é conhecida hoje por Largo São Benedito.

Igreja São Benedito

Munido da autorização da Câmara, Mestre Tito encaminhou às autoridades eclesiásticas, em São Paulo, um pedido no sentido de que fosse permitida a construção ali de uma igreja em honra a São Benedito. Mestre Tito sonhava com um templo onde os escravos se sentissem no que era seu, para louvarem a Deus como os brancos o faziam. Mestre Tito viera da África para o Brasil, ainda adolescente, transportado por um dos navios negreiros da época, e acabou comprado pelo Capitão-mor Floriano de Camargo Andrade. Depois de conquistar a estima do seu senhor, Mestre Tito foi alforriado, adotando o sobrenome Camargo Andrade. Com o passar do tempo ficou sendo conhecido na região como um ótimo curandeiro, perito que era no conhecimento do poder de certas raízes medicinais.

Lateral da Igreja São Benedito

Depois que obteve a licença para a construção da nova igreja, Mestre Tito se tornou um incansável levantador de fundos para o erguimento dessa capela. Pedia donativos realizando subscrições, para isso percorrendo as ruas da cidade, batendo de porta em porta. O velho devoto de São Benedito não pode ver concretizado seu sonho. Mestre Tito morreu em janeiro de 1882, antes de ver a Capela de São Benedito pronta. As obras ficaram então paralisadas, até que uma comissão de senhoras da sociedade campineira, lideradas por Anna de Campos Gonzaga (esposa de um médico, dedicou sua vida e sua fortuna à beneficência), propôs-se a arrecadar dinheiro para o término das obras. Eram realizados leilões de prendas, saraus musicais e outras festas, que assim atraíam a atenção das famílias. Ao mesmo tempo foi organizada uma comissão que se empenhou nessa campanha e muito contribuiu para reforçar a arrecadação de donativos.

Igreja São Benedito vista da Praça Anita Garibaldi

O arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, vindo da Bélgica recentemente, onde se diplomara, acabou convidado para realizar a planta da fachada do templo. As obras continuaram e ficaram concluídas, em outubro de 1885, apenas dois anos após a missa inaugural da Matriz Nova. O Bispo do Ceará Dom Joaquim José Vieira, fundador da Santa Casa de Campinas, quando de sua passagem pelo vicariato da Matriz Velha, estando na cidade nessa ocasião, fez a sagração do novo templo. Na época, a construção da Igreja São Benedito atraía outros negros escravos para a Praça. Após os trabalhos, os escravos se reuniam na Praça para batucar e dançar, conforme as tradições africanas.



Entrada Principal da 
Igreja São Benedito

A estrutura geral da Igreja São Benedito foi concebida no estilo colonial, no qual predominam os elementos rústicos. A Igreja foi edificada em alvenaria de tijolos com alicerces de pedra. O destaque da fachada são as linhas neorromânicas, constando um aplique com encamisamento da parede, numa curiosa mistura construtiva. Em 1881, o templo possuía 130 palmos de comprimento por 45 palmos de largura (entre os muros) e contava com uma nave com corredores ou tribunas “em linha suportados por detrás da Capela-mor”. Em 1885 a Igreja possuía uma larga varanda apoiada em pilares octógonos, ligados uns aos outros por arcos pontiagudos, com arcos góticos. O Altar-mor é feito de tijolos e argamassa e pintado à imitação do mármore. O teto desta parte da Igreja é abobadado e o restante é meio abobadado. A pintura é toda em branco e azul oferecendo muito boa impressão. O retrato do Mestre Tito encontra-se no interior do templo, ladeado pelo retrato de Dona Anna de Campos Gonzaga. Em 1897, passou a funcionar, em um prédio anexo ao templo, o Colégio São Benedito, primeira escola para negros no Brasil.

Nave da Igreja São Benedito

A Igreja atual tem outra fisionomia, porque passou por reformas na década de 1920, levadas adiante por força de Elias Saboya que também buscou recursos (através de esmolas, como os irmãos) para a reforma da Capela e da Irmandade. Nesta ocasião foram introduzidos acabamentos mais elaborados no mesmo estilo neorromânico; instaladas platibandas laterais para esconder a antiga fachada e uma torre na lateral da Rua Lusitana. Em 1926, a direção espiritual da Igreja São Benedito foi confiada à Congregação dos Estigmatinos. Em 1930, os vitrais do templo foram doados, que se seguiram o estilo eclético. O mobiliário da Igreja, assim como os entalhes em madeira do altar obedece às concepções neorromânticas. O prédio passou por uma reforma geral, incluindo a parte frontal. Depois dessa intervenção, as laterais ganharam o estilo eclético, o que conferiu maior harmonia ao conjunto. A Paróquia São Benedito foi criada em agosto de 1966 por Decreto do Arcebispo Metropolitano, Dom Paulo de Tarso Campos. Por sua importância histórica, em 1998 a Igreja foi tombada como Patrimônio Histórico da cidade.

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