quinta-feira, 19 de maio de 2016

Campinas - Monumento a Dom João Nery

Monumento em homenagem a Dom João Nery
No dia 6 de outubro de 1863, à Rua Formosa, hoje Rua Conceição, o oficial de sapateiro Benedito Corrêa de Morais e sua esposa, Maria do Carmo Nery, viram nascer o primogênito, João Batista Corrêa Nery. Foi batizado em outubro do mesmo ano. Os primeiros anos de sua infância passaram-se em Itatiba, donde retornou a sua cidade natal para fazer os estudos primários e ingressando como coroinha do Padre Joaquim José Vieira, na Igreja da Santa Casa de Misericórdia. Quando se avizinha o tempo dos estudos secundários, a primeira pessoa que se lembrou da sua admissão, como aluno gratuito, no Colégio Culto à Ciência, foi o Dr. Ricardo Gumbleton Daunt, logo coadjuvado pelo Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles, amigos de seus pais.

Monumento em homenagem a 
Dom João Nery no Largo da Catedral
Ingressou no Seminário de São Paulo em 1880. Na sua juventude, aos 17 anos, Corrêa Nery – como passou a assinar na sua infância - fundou um grupo dramático, em que ele e os colegas se iniciaram na arte de palco, havendo levado à cena várias peças, entre as quais a primeira, escrita por ele, de parceria com Joaquim Gomes Pinto, denominada “Pai e Filho”, estreada em agosto de 1880, no Teatro São Carlos. A sensibilidade artística, especialmente o teatro, o distinguiu durante toda a vida e fez dele, já nos tempos de seminário, um grande orador. Foi ordenado presbítero por Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, então Bispo de São Paulo, em abril de 1886 e seis dias depois cantava a sua missa nova na Matriz Velha de Campinas. Após lecionar no Seminário por alguns meses, em 1887 foi nomeado Vigário Colado, por rubrica de Sua Alteza a Princesa Imperial Regente (Princesa Isabel), da Matriz Velha, que nessa época era Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo de Santa Cruz (hoje Paróquia Nossa Senhora do Carmo), onde permaneceu até 1894, quando foi nomeado Vigário Colado da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em substituição do então vigário Cipião Ferreira Goulart.

Monumento em homenagem a Dom João Nery 
no Largo da Catedral
O jovem vigário viu irromper, em 1889, a terrível epidemia de febre amarela, que dizimou a população de Campinas; alastrando-se pelas camadas mais pobres do povo; porquanto as famílias remediadas e abastadas fugiram para a capital da província e outras cidades. Vigário Nery e o Cônego Cipião, vigário da Matriz Nova (hoje Catedral de Campinas), tiveram que se preocupar com a assistência religiosa, com auxílios materiais e com os cuidados sanitários. Os médicos igualmente se revelaram apóstolos da caridade e cuidaram do novo problema, o de dar asilo a tantos órfãos de pais, mortos na epidemia. O primeiro abrigo foi a própria casa do Padre Nery. Terríveis momentos, porém reveladores da capacidade de tal pessoa, que somente foi rendido quando foi afetado pela própria febre amarela; esteve entre a vida e a morte e foi salvo pelo desvelo de seu médico, Dr. Ângelo Simões. Surge aí sua primeira grande fundação caritativa e educacional, o Liceu de Artes e Ofícios de Nossa Senhora Auxiliadora, construído com o dinheiro que pedia de porta em porta, posteriormente confiado aos cuidados dos Padres Salesianos.

Detalhe no Monumento a D. João Nery
Em agosto de 1896 foi eleito o primeiro Bispo da Diocese do Espírito Santo pelo Papa Leão XIII. Sua Sagração Episcopal ocorreu em novembro de 1896 na Capela do Colégio Pio Latino-Americano, em Roma, pelo Cardeal Jerônimo Maria Gotti, que fora Internúncio no Brasil. Fez seu ingresso solene na Catedral de Vitória em maio de 1897. No Espírito Santo Dom Nery empenhou-se em criar o patrimônio do novo Bispado, especialmente a Caixa Diocesana, pedindo donativos aos fiéis e até mesmo a outras Dioceses, no contexto em que a Igreja do Brasil acabava de ver-se livre das rédeas cerceadoras do Padroado. As visitas pastorais pela Diocese e o empenho social, especialmente junto aos indígenas do Espírito Santo, distinguiram o episcopado de Dom Nery. Alegando precisar de um clima que melhor favorecesse sua saúde, conseguiu sua transferência para a Diocese de Pouso Alegre em maio de 1901. A posse na recém-criada Diocese aconteceu em julho do mesmo ano. Também em Pouso Alegre foi preciso que o Bispo se empenhasse pela constituição do patrimônio da nova Diocese. Ali Dom Nery construiu principalmente o Palácio Episcopal, o Ginásio Diocesano e o Seminário.

Escultura na base do Monumento 
representando a Instrução e a Caridade
Em julho de 1903, enquanto era Bispo desta Diocese sul mineira, Dom Nery organizou uma visita do Núncio Apostólico, Dom Julio Tonti, à sua Diocese, no intuito de se discutir a possibilidade da criação de uma Diocese em Campanha. A caminho de Pouso Alegre, o Núncio passou por Campinas onde foi recebido na Estação Ferroviária com grande festividade. Será o próprio Dom Julio Tonti a redigir um relatório para a Santa Sé sobre sua excursão pelo Estado de São Paulo e sul de Minas Gerais. Dom Nery era um dos que defendiam, já nesse período, e elevação de Campinas à condição de Diocese. A visita do Núncio alimentou esperanças e o Bispo de Pouso Alegre incentivou a constituição de uma comissão responsável por angariar o patrimônio para um futuro Bispado. Tal comissão contou com nomes influentes da sociedade e da política local, e foi liderada pelo pároco da Paróquia de Santa Cruz (Matriz Velha). Em novembro do mesmo ano, os moradores de Campinas, representados por tal comissão, endereçaram um pedido formal ao Santo Papa, o Papa Pio X, para que Campinas fosse constituída Diocese.

Escultura na base do Monumento 
representando a Instrução e a Caridade
Porém, o processo desencadeado por Campinas e que culminou com a criação de cinco novas Dioceses no interior do Estado de São Paulo, foi complexo. A questão foi longamente discutida na Sagrada Congregação dos Negócios Eclesiásticos Extraordinários, nos anos entre 1903 e 1908. Inicialmente pensava-se em criar uma única Diocese no Oeste de São Paulo, de preferência mais para o interior do território. Embora Campinas apresentasse as condições para ser Diocese, sua localização representava um ponto de relutância. No período em que foi Núncio Apostólico Dom Alexandre Bavona, as discussões avançaram e chegou-se ao ousado projeto de elevação da capital a Arquidiocese e a constituição de cinco novas Dioceses, como sufragâneas na constituição de uma nova Província Eclesiástica em São Paulo. As Dioceses criadas foram: Campinas, Botucatu, Ribeirão Preto, Taubaté e São Carlos do Pinhal. Sem dúvidas que a participação de Dom Nery no processo que culminou com a elevação de Campinas a Diocese foi determinante. Nomeado para assumir a nova circunscrição eclesiástica, voltando para sua terra natal como Prelado Diocesano, ele assumiu definitivamente a função de primeiro Bispo de Campinas em novembro de 1908.

Escultura na base do Monumento 
representando a Instrução e a Caridade
Em Campinas é justo ressaltar duas marcas características do Episcopado de Dom João Nery: o empenho pela consolidação de uma cultura católica e as obras sociais. No tempo de seu episcopado em Campinas, escreveu diversas cartas pastorais tocando em problemas como o eleitorado católico e o empenho social. Em 1911, ano de seu jubileu de prata sacerdotal, anunciou mediante carta pastoral, a realização do Primeiro Congresso Católico de Campinas, voltado à discussão da atuação da Igreja Católica nas diversas realidades da cultura e da sociedade. Dom Nery fundou uma Escola Agrícola junto ao Liceu Salesiano, o Externato São João e a Creche Bento Quirino, junto à Igreja de São Benedito. Nesse sentido ajudou a cidade de Campinas não somente no aspecto religioso, mas também social, no campo do amparo aos pobres e da educação.

Monumento em homenagem a Dom João Nery 
no Largo da Catedral
Em 1918, durante a gripe espanhola que assolou a cidade, Dom Nery empenhou-se em socorrer a população com a distribuição de leite e alimentos às famílias carentes e disponibilizando os espaços do Ginásio Diocesano e as próprias dependências do Palácio Episcopal, bem como outros recursos do patrimônio da Diocese, para improvisar hospitais destinados ao socorro dos doentes. Morreu em fevereiro de 1920, aos 57 anos, vítima de um tumor no fígado. Seu corpo foi sepultado na Catedral de Campinas e, em 1923, seus restos mortais foram transladados para a cripta construída na mesma Igreja. Em 1924 foi inaugurado na Praça José Bonifácio, no Largo da Catedral, um monumento de bronze em homenagem ao sacerdote campineiro, que chegou a ser prelado doméstico e assistente do Papa no início do século XX. A Estátua é obra de Fernando Frick.

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