Catedral Metropolitana de Campinas |
A Catedral
Metropolitana de Campinas, inaugurada em 1883, localiza-se na Praça José Bonifácio – popularmente
conhecida como Largo da Catedral, no
centro da cidade de Campinas, no
interior do Estado de São Paulo. É
dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Cravada entre as ruas mais movimentadas
do centro da cidade, pela Igreja circulam aproximadamente três mil pessoas por
dia. Para quem sobe a Rua Conceição,
têm-se um bom ângulo para admirar sua beleza imponente e sua imensidão, com
seus anjos tocando trombetas e sua cor amarelada em meio ao concreto dos
prédios ao redor. São mais de 60 metros de altura, tão alta quanto o prédio ao
lado, de 16 andares. A história da Catedral
Metropolitana, em essência, reflete a trajetória da consolidação do
município de Campinas, nascida de
uma antiga parada de bandeirantes no Caminho
dos Goiases, rota que conduzia ao sertão de Goiás.
Catedral Metropolitana de Campinas na Praça José Bonifácio |
Catedral Metropolitana de Campinas vista da Rua Conceição |
A vida religiosa católica de Campinas se iniciou oficialmente em 14 de julho de 1774, quando foi
fundado, por Francisco Barreto Leme do Prado, o Bairro de Mato Grosso de Jundiaí à beira do Caminho dos Goiases. Para assistir à missa, os moradores se
deslocavam, anteriormente, para a Paróquia
de Jundiaí – onde existe uma Matriz em estilo barroco datada de 1651 e
dedicada à Nossa Senhora do Desterro e que foi remodelada por Ramos de Azevedo
em 1886, dando origem à Catedral Nossa
Senhora do Desterro, em estilo gótico. Trinta e três anos depois, já havia
360 moradores no povoado e estes encaminharam uma petição ao vigário capitular
do bispado de São Paulo pleiteando a
construção de uma capela. Apesar da petição ter sido impugnada pelo vigário de Jundiaí, os moradores erigiram a
primeira capela, construída em taipa e coberta de telhas, a “Matriz Velha” (hoje, após várias
reformas, a Basílica de Nossa Senhora do
Carmo).
Campanário da Catedral Metropolitana de Campinas |
Catedral Metropolitana de Campinas |
Com mudanças na direção da Diocese de São Paulo, em 1774, foi nomeado o primeiro vigário da
nova Paróquia, que mandou construir uma capela de taipa, coberta de sapé, onde
hoje se localiza o Monumento-túmulo de
Carlos Gomes, dedicando-se a Nossa Senhora da Conceição na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das
Campinas do Mato Grosso de Jundiaí, com missa cantada, levantamento da pia
batismal e benzimento da Matriz provisória. A Freguesia foi elevada à categoria
de Vila em 1797 e teve seu nome mudado para Vila de São Carlos. Em 1807, a Câmara
da Vila determinou o início da construção de uma nova igreja, sendo os
imensos alicerces, típicos da construção em taipa de pilão, construídos pelos
escravos e abençoados pelo vigário. O primeiro administrador das obras foi
Felipe Teixeira Néri. Durante 38 anos, as taipas foram sendo piladas,
financiadas por contribuições, loterias e até um novo imposto provincial, que entrou
em vigor em março de 1854.
Fachada da Catedral Metropolitana de Campinas |
Catedral Metropolitana de Campinas e o Monumento em homenagem a D. João Nery |
A luta pela Independência, a Revolução Liberal de 1842 e outros fatores contribuíram para a
lentidão das obras e as taipas só foram concluídas em 1845, podendo a Capela-mor, a sacristia e a nave
central ser cobertas naquele ano. Em 1847, devido à visita de Dom Pedro II –
que havia elevado a Vila de São Carlos
à condição de cidade, com o nome de Campinas,
em 1842 – a Igreja do Rosário é
tornada Matriz provisória, pois a Matriz
Nova ainda não tinha condições de uso e a Matriz Velha jazia abandonada e decrépita. Em 1848 assumiu a
condução das obras o Dr. Antônio Joaquim de Sampaio Peixoto. Foi Antônio
Francisco Guimarães, conhecido pelo apelido de “Baia”, que no ano de 1853 pagou as despesas de viagem e trouxe da
então Província da Bahia um grupo de
entalhadores, comandados por Vitoriano dos Anjos Figueiroa e mais três
oficiais, para se encarregarem da ornamentação interna da “Matriz Nova de Nossa Senhora da Conceição”. Já em Campinas, Vitoriano era tratado por
“professor de entalhe”. Valendo-se desta prerrogativa, formou aqui um corpo de
aprendizes, dos quais podemos citar Antônio Dias Leite, José Antunes de
Assunção e Laudíssimo Augusto Melo, que era deficiente auditivo e tido pelos
contemporâneos como muito habilidoso.
Fachada da Catedral Metropolitana de Campinas |
Detalhe da Iluminação Externa da Catedral Metropolitana de Campinas |
O Altar-mor
dedicado a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, demorou nove anos
para ser esculpido em madeira, em cedro vermelho. Extremamente trabalhado e
rico em detalhes, representa importante exemplar do estilo barroco/rococó
brasileiro. Entalhador ícone dessa tradição no Brasil, Vitoriano executou com primazia o Retábulo-mor (altar principal) e nele concebeu um tipo de Baldaquino (coroa que cobre o altar)
característico dos retábulos baianos, realizando também a ornamentação dos
púlpitos (balcão de oratória). Vitoriano foi o responsável também pelos
entalhes das tribunas, da varanda do coro e até mesmo pela condução das obras
até 1862, quando foi dispensado pelo novo administrador, Antônio Carlos de
Sampaio Peixoto, o “Sampainho”.
Sampainho, auxiliado pelos arquitetos Job Justino de Alcântara, Antônio de
Pádua Castro e o Dr. Bittencourt da Silva, em 1862, organizou um novo grupo de
entalhadores, chefiados por Bernardino de Sena Reis e Almeida, que era
fluminense.
Catedral Metropolitana de Campinas |
Nave da Catedral Metropolitana de Campinas |
Concluiu-se a ornamentação da nave central e em 1865 os dois
altares dos cantos e os quatro laterais, bem como as capelas, tudo em cedro,
abundante nas matas ao redor da cidade. A parte interna da Catedral guarda
ainda outras preciosidades como um magnífico órgão de tração mecânica
construído por Aristide Cavaillé-Coll, organeiro francês, em 1883, igual ao que
existe na Catedral de Notre-Dame, na
França, lustres raros, vitrais
belíssimos, cadeiras austríacas, candelabros de prata, um campanário com seis
sinos – o mais antigo fundido em 1847, entre outras magníficas obras de arte
que convidam à contemplação. Os sinos começaram a ser instalados em 1870 e
foram trazidos de uma empresa de Londres.
Detalhes da decoração da Nave da Catedral Metropolitana de Campinas |
Detalhe da Iluminação Externa da Catedral Metropolitana de Campinas |
Após a conclusão do interior, teve início o processo de
construção da fachada, havendo cinco mudanças de projeto: o primeiro tinha
características barrocas com duas torres (e, neste sentido, seria perfeitamente
integrado ao estilo adotado no interior do templo), do Dr. Bittencourt, mas não
pôde ser executado, pois não havia cantaria disponível na região, sendo adaptado
por José Maria Cantarino; o segundo, neoclássico, de Charles Romieu, previa uma
única torre assentada sobre quatro colunas de pedra, cal e tijolos, mas foi
suspenso devido aos acidentes ocorridos na construção (1865) que levaram ao
soterramento de quatro funcionários e uma criança; o terceiro, escolhido como
resultado de um concurso público, de José Maria Villaronga, previa uma fachada
neogótica (1871), mas houve desentendimentos entre os administradores e não
chegou sequer a ser iniciado; em 1876 foi contratado o engenheiro italiano
Cristóvão Bonini, para mudanças na planta e conclusão da obra, mas foi
exonerado pela Câmara em 1879, havendo o quinto projeto, o qual recuperou o
estilo neoclássico e foi implementado pelo campineiro Francisco de Paula Ramos
de Azevedo (1880). Este último foi o responsável geral pela conclusão das
obras e dotou o templo inclusive de canos embutidos para a iluminação a gás,
uma novidade na época. A fachada tem características neoclássicas com forma
regular e simétrica, o frontão em forma triangular, com uma cúpula central, as
colunas em estilo grego e uma torre central.
Altar-Mor da Catedral Metropolitana de Campinas |
Sua construção durou mais de seis décadas, com alguns
acidentes fatais. Inaugurada em 1883, a Catedral recebeu novas ornamentações na
fachada durante a grande reforma de 1923 (como os medalhões com as datas
comemorativas da Diocese, as guirlandas e as estátuas dos quatro evangelistas e
dos quatro anjos do Apocalipse), quando também as telhas coloniais foram
trocadas por francesas e a abóbada sobre o Altar-mor
foi levantada alguns metros, ficando na mesma altura do restante da Igreja. Foi
também nesta época que o zimbório foi trocado por uma cúpula em gomos, encimada
pela Imagem de Nossa Senhora. Sua
Matriz assistiu a implantação da Diocese em 1908, da Arquidiocese em 1958, tem
em sua Cripta sepultados os seis bispos que atuaram na Diocese de Campinas. Na segunda metade do século XX, uma infestação
de cupins, provenientes das matas derrubadas desenfreadamente, nos arredores de
Campinas, obrigou a uma aplicação de
piche em todo o interior da Igreja, única solução encontrada para proteger o
patrimônio naquela época.
Catedral Metropolitana de Campinas e o Monumento em homenagem a D. João Nery |
A Catedral foi eleita uma das Sete Maravilhas de Campinas, em um concurso realizado em 2007 pelo Jornal Correio Popular. Em 2015, depois
de 92 anos pintadas de branco, a fachada principal foi entregue com a cor original,
o amarelo ocre. A Catedral Metropolitana
de Campinas é tombada pelo Conselho
de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) em 1981, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural
de Campinas (CONDEPACC) em 1988.
O edifício é tido como o maior no mundo construído em taipa de pilão, com seus
4.000 metros quadrados, e um dos mais altos. Como o complexo religioso e
cultural da Catedral é tão rico não faltam motivos para visitá-la, seja por
meios de atividades unicamente para admirar o seu interior ou ir a uma missa.
Atualmente, o prédio abriga também o Museu
de Arte Sacra da Irmandade do Santíssimo Sacramento, criado por Dom Paulo
de Tarso Campos em 1967, com um acervo composto por 576 peças entre pinturas,
esculturas, vestes e móveis dos séculos XVIII a XX, além de uma biblioteca com
obras raras como partituras, jornais e cartas antigas.
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