Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré |
Todo mundo já ouviu falar no Círio de Nazaré, um dos eventos religiosos mais famosos e concorridos
do Brasil. São mais de dois séculos de
tradição em uma das maiores e mais bonitas procissões da Igreja Católica no país, que ocorre todos os anos em Belém do Pará. Isso mesmo: há mais de 200
anos!!! Cerca de dois milhões de romeiros caminham pelas ruas da cidade em homenagem
a Nossa Senhora de Nazaré durante o Círio. A procissão ocorre no segundo domingo
de outubro, quando a Imagem Peregrina (uma réplica da imagem encontrada, mas esculpida
com traços das mulheres amazônicas) sai da Catedral
Metropolitana de Belém e segue até a Praça
Santuário de Nazaré. Lá, a imagem de Nossa Senhora fica exposta aos fiéis durante
15 dias, quando então retorna ao seu lugar de origem. É uma caminhada de 3,6 quilômetros
de puras e emocionantes demonstrações de fé. A imagem original da Santa permanece
no Glória (espaço elevado ornado com
anjos e esplendores) durante o ano todo, sendo retirada somente no dia da missa
após a procissão da Moto Romaria para
a apresentação dos fiéis. As ruas e casas
ficam enfeitadas em homenagem à Santa. A Basílica recebe as missas comuns, casamentos
e celebrações rotineiras de todo o ano litúrgico. São os coroinhas da Basílica que
vão à frente da procissão do Círio todos os anos. O Círio de Belém foi considerado Patrimônio
Cultural de Natureza Imaterial em setembro de 2004 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN).
Fachada da Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré |
O primeiro Círio foi realizado em setembro de 1793.
Mas tudo começou em 1700, quando o caboclo Plácido José de Souza
encontrou uma pequena imagem da Senhora de Nazaré, às margens do Igarapé Murutucu, no local onde hoje se
encontra a Basílica. Segundo a lenda essa imagem, independente do lugar para
onde era levada, desaparecia e ressurgia no mesmo local onde Plácido a tinha
encontrado. Interpretando o fato como sinal divino, a devoção à santa adquiriu
caráter oficial e foi erguida uma capela naquele local em sua homenagem, hoje a
Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. A capela ficava na área periférica da cidade, à época, e era
muito visitada principalmente por ribeirinhos e desvalidos. Vinte e um anos
depois, uma ermida de taipa e palha foi erguida por sugestão do Bispo do Pará, Dom Bartolomeu do Pilar
com a colaboração do político e devoto Antônio Agostinho. A essa ermida, em
setembro de 1793, chegou o primeiro Círio.
Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré e Praça Santuário de Nazaré |
Nave da Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré |
Depois, com a quantidade crescente de fiéis, uma
igreja foi erguida em 1852 no mesmo lugar. De acordo com as regras
eclesiásticas, em 1861 foi criada, agora em alvenaria, a Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro que passou a ser
administrada pelos Padres Barnabitas
(ordem religiosa de clérigos mais antiga na história da Igreja). Em visita
à cidade de Belém, o padre italiano
barnabita Luigi Zoia conheceu a pequena igreja e propôs a construção de um
grande templo que representasse a fé do povo na Virgem de Nazaré. Já em 1884
ela era pequena para receber a quantidade de romeiros. A devoção, com o tempo,
se estendeu para as classes mais nobres e chegou ao conhecimento
da igreja, que ratificou a devoção e, por intermédio do Arcebispo de Belém, Dom Santino Maria
Coutinho, delegou aos Padres Barnabitas (que já tomavam conta da ermida desde
o século XIX) no ano de 1905, a responsabilidade da construção de uma
locação mais organizada e digna da fé da população, além de se haver
uma urgência em encontrar um local maior para abrigar o grande número de fiéis
que crescia sem cessar. Para que o projeto inicial fosse para frente, primeiro
foram cortados gastos e arrecadados recursos com o intuito de tornar tal obra
realidade. Muitos beneficiários da paróquia acabaram perdendo seus
créditos, pois muitos eram aproveitadores do fundo da igreja e pilhavam os bens
que deveriam ser destinados a obras de caridade e para a construção do
templo.
Altar-Mor da Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré |
Altar da Basílica Santuário |
Em outubro de 1909, os barnabitas deram início à execução do
projeto com o lançamento da pedra fundamental. Foi neste momento que o poeta
maranhense Euclides Faria compôs o hino de 12 estrofes “Vós sois o lírio mimoso”, que se tornou o canto oficial da
Padroeira e do Círio. A igreja foi inaugurada em 1923, sendo esta a terceira Basílica do Brasil (na época existiam
apenas a da Sé, na Bahia e a de São Bento, em São Paulo).
A Igreja só foi acabada depois da Segunda Guerra Mundial, enfrentando os
dois períodos de conflitos (Primeira e Segunda Guerra, quando houve uma crise
econômica e o comércio foi interrompido), a crise da borracha no Pará, a Revolução de 1930 e o Estado
Novo.
Órgão da Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré |
As dificuldades foram muitas e envolvia, principalmente, o
material necessário para a sua construção que vinha da Europa – mármores de Carrara,
vitrais franceses, mosaicos venezianos, estátuas de Antônio Bozzano e seu
filho, Augusto – e que, ao chegar ao Porto
de Belém, era taxado pela Alfândega. O atual templo é marcado por diversos
estilos arquitetônicos, cujos fortes são o neoclássico e o eclético. A Basílica Nossa Senhora de Nazaré é uma
das igrejas mais belas de Belém, seguindo o modelo da Basílica de São Paulo, em Roma.
Representação dos santos nas paredes da Basílica |
A Basílica é linda por dentro. São cinco naves, 62 metros de
comprimento, 24 metros de largura e 20 metros de altura, duas torres com 42
metros de altura, 36 colunas de granito maciço, 54 vitrais (de Paris), 32 medalhões em mosaico de 1,5
metros de diâmetro, 19 estátuas do mais puro mármore de Carrara, nove sinos eletrônicos, um órgão com três teclados e 1.100
tubos. As imagens da Via Crucis que
estão em suas laterais, dentro de grandes círculos, representam as contas de um
enorme Terço, que tem nas grandiosas portas de bronze a representação do
crucifixo.
Medalhões representando a Via Sacra |
Na Basílica, todos os pontos convergem para o altar, onde
está a imagem de Nossa Senhora. E é de lá, iniciando pela direita, que os
vitrais contam histórias da Bíblia e os mosaicos rezam a Salve Rainha, através
de anjos. Nas naves laterais encontram-se ainda, os mosaicos das mulheres que
estão na Bíblia e guardam virtudes que serão encontradas na Virgem Maria. Foram
os padres franceses que definiram os temas dos vitrais, assim como as imagens
das estátuas que ornariam os altares laterais.
Representação das santas nas paredes da Basílica |
Todo esse conjunto arquitetônico, considerado como obra de
arte e de devoção, só foi realizado porque houve a fé de um povo, a coragem e a
decisão dos Padres Barnabitas e das autoridades. É a única Basílica da Amazônia Brasileira e a
que recebe o maior número de contingente do Norte da América do Sul, principalmente durante o período da Quadra Nazarena, onde ocorre a festa
do Círio de Nazaré. Sua
história, seu simbolismo e sua importância religiosa exercem uma profunda
influência no imaginário religioso paraense. Quem vem a Belém e é católico (ou não) não pode deixar de visitar essa igreja.
Hoje a Basílica é um dos principais patrimônios históricos da cidade.
Decoração no teto da Basílica |
Desde maio de 2006, a Basílica foi elevada à categoria de Santuário Mariano Arquidiocesano. Dessa
forma, passou a denominar-se Basílica-Santuário
de Nossa Senhora de Nazaré por receber romeiros e peregrinos que se dirigem
a Belém para agradecer as várias
graças alcançadas ou fazer um pedido à santa, principalmente durante o Círio de Nazaré, a maior procissão
religiosa brasileira. Na fachada, o prédio apresenta duas inscrições em
latim: “Deiparae
Virgini a Nazareth“, que significa “Virgem de Nazaré Mãe de Deus”; e “Salve Regina Mater Misericordiae“,
que significa “Salve Rainha Mãe
Misericordiosa”. Nas grades da frente da igreja, assim como nas grades da Praça Santuário de Nazaré (em frente à
Basílica), os fiéis amarram as famosas fitinhas, fazendo
seus pedidos e suas promessas, no estilo do que acontece também na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador.
A Igreja auxiliou na elevação dos preços das moradias na
região, além de tornar a área um local disputado. Ela é uma construção
imponente, mesmo em meio a variados prédios advindos da verticalização que
ocorrera em Belém dos anos 1970 até
a atualidade. Junto com o Colégio Gentil Bittencourt, as casas
dos antigos barões da borracha e o Museu
Paraense Emílio Goeldi, formam o Conjunto
Arquitetônico do Bairro de Nazaré.
Pia Batismal |